CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Teatro Santa Isabel, prédio sem numeração. Foto de Chico Porto

Tive, em 1955, aos 18 anos de idade, o privilégio de poucos iniciantes: assinar reportagem em páginas da “Folha da Manhã”, jornal fundado por Dr. Agamenon Magalhães, onde mantinham colunas os melhores jornalistas do Recife, na época, dentre eles Mário Mello (Mário Carneiro do Rego Mello), ferrenho defensor do Recife, suas tradições e peculiaridades urbanas.

Há alguns anos compareci ao Instituto Arqueológico, Histórico, e Geográfico Pernambucano em busca de informações sobre a motivação de se homenagear meu avô paterno – João Pacífico Ferreira dos Santos – com um nome de rua, no bairro do Paissandu.

Fiquei sabendo, através de documento, que a homenagem teria sido em rua próxima ao Cemitério Senhor Bom Jesus da Redenção, instituição que a voz do povo simplificou para: Cemitério de Santo Amaro. No caso, por iniciativa do seu genro, Dr. Alfredo Evangelista Vieira, a placa com o nome do meu avô foi designada, então, para o bairro do Paissandu, ao lado da principal entrada do Hospital Português. Uma troca que beneficiou o pedido da família e Mário Melo concordou.

E proseando com dedicado funcionário do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano, fiquei sabendo que Mário Mello havia sido o Secretário Perpétuo daquele instituto até seus dias finais. Aliás, se hoje estivesse vivo ele não teria deixado de esbravejar diante das aberrações que temos visto se repetirem nesta cidade e que aqui denominamos: peculiaridades, pra não dizer: aberrações.

Obtive a informação de que tal indicação para uma homenagem póstuma ao meu avô partiu de um vereador, levando em conta toda a atividade que ele exerceu como jornalista, Juiz de Direito e colaborador de Joaquim Nabuco na campanha contra a escravidão.

Jovem jornalista recifense escreveu: Devemos hoje a permanência da Torre Malakov, monumento situado na Praça Arthur Oscar, à campanha por ele empreendida, que evitou sua demolição. O jurista Mário Melo se tornou também um jornalista devotado às manifestações culturais populares e pelo seu grande desejo em vê-las preservadas em sua autenticidade e tradicionalismo, livres das influências políticas e culturais trazidas pelo estrangeirismo e modernidade, segundo nossa colega Letícia Lira, do Jornal do Commercio.

Mário Melo

Há poucos dias precisei de outra informação semelhante, a respeito da Rua Aluízio Periquito e fiquei sabendo que fora a antiga Travessa do Amorim, no bairro do Rio Branco, zona portuária do Recife. Logo, outra rua que trocou de nome. Outra peculiaridade do Recife.

Segundo informações de Lara Torres, do Jornal do Commercio, As mudanças de nomes dos logradouros no Recife são constantes, situação também confirmada pelo leitor Gilson Murilo de Guimarães afirmando que, além disso, temos o problema de que 1.000 ruas não possuem nomes, entre as 8.748 existentes na Capital e alguns prédios importantes não têm numeração. Um exemplo disso é o Teatro Santa Isabel.

O Instituto Arqueológico vai fazendo o que pode, para impedir mudanças em nomes de ruas tradicionais. Além disso, começou a colocar placas indicativas de azulejos, com o objetivo não só de ratificar os nomes de ruas, como também de resgatar sua história. E assim, preservar a memória da Cidade.

Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, questiona mudanças de nomes nas vias do Recife. Por Lei, o órgão deve ser consultado sobre possível mudança na nomenclatura das ruas, mas nem sempre se obedece.

Recentemente se alterou a denominação de uma das principais avenidas do Recife, a tradicional Avenida Norte, que passou a ser: Avenida Norte Miguel Arraes, e circulou pela Câmara Municipal a proposta de se substituir outro nome de avenida: A votação do projeto de lei do vereador Alexandre Lacerda denominando Avenida Sul Governador Cid Sampaio, a atual Avenida Sul, foi adiada devendo voltar ao plenário para nova votação.

Finalizo estas notas lembrando, digamos, um “exagero de entusiasmo”. Entre os bairros de Afogados e Imbiribeira existe uma ponte com o nome de Gilberto Freire e neste mesmo bairro, se completou o nome de um prédio público, que passou a se chamar: Aeroporto Internacional Recife Guararapes Gilberto Freire. Uma denominação deveras exagerada, conforme comentei em meu livro: “Imbiribeira- Passo dos Tocos dos Afogados”.

As homenagens póstumas são devidas, mas as substituições dos nomes já tradicionais nem sempre são próprias e, assim, representam uma das peculiaridades urbanas do Recife.

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