XICO COM X, BIZERRA COM I

Quantos outubros se foram, quantos novembros virão?
Muitos versos já versados, tantos silêncios em vão
Quantas cantigas cantadas, outras tantas por cantar
Quantos novembros passados, alguns estão por passar …

Todo ano tem um 4 de novembro em minha vida. Somam-se-me dias, como diria Fernando, o Pessoa. Nessa data, agradeço aos Deuses o fato de estar envelhecendo. Meu sábio avô dizia que ‘quem não envelhece morre cedo’. Ouço isso desde sempre. Envelhecer é o único meio de se viver muito tempo. Que assim seja! Verdade que o bom mesmo é ser jovem, tudo fazer sem reclamar de dor, sem precisar fugir das escadas, todas tomar sem se preocupar com taxas de colesterol ou glicose. Hoje, tudo passa a ter um valor dobrado. Por isso, a cada dia digo mais e mais a palavra que demorei a dizer. O verso que hoje sei de cor, recito-o de quando em vez, de vez em quando. Faz-me bem.

Minhas Rugas e Cabelo Brancos

Não me incomodam as artroses, rugas e cabelos brancos: são apenas sinais do tempo. Ainda bem que a alma permanece jovem, desconhece calendários e não sabe contar os dias. Espero continuar envelhecendo por mais um bom tempo, fazendo o que gosto e deixando de fazer, a contragosto, o que o doutor recomenda. Resta-me engraçar, ficar feliz, a cada minuto, com cada abraço, cada sorriso, ao ver brotar a primeira flor do meu pé de manacá.

Um Ser Subversivo, Nunca Um Sub Ser Vivo

As tolices que cometi na juventude me atormentam menos que o não poder voltar a cometê-las – era o que dizia Albert Camus. Comigo também é assim. Afinal, quem sou eu para dele discordar? Hoje sou muito menos subversivo do que fui aos 18, querendo consertar o mundo, mas jamais fui ou serei um sub ser vivo. Ficam as lembranças. E a cada minuto me convenço mais e mais de que quem está com muitas saudades hoje está com menos saudade do que eu. Nem sei ao certo de que, mas que estou, estou. Acho que tem a ver com o envelhecer.

74 Bem Vividos

Assim, levemente, cheguei aos 74. Ninguém mais me considera hipocondríaco, embora doam-me costas, joelhos, ombros e, principalmente, panturrilhas, o que me impede de fazer caminhadas longas, maiores que 200 metros. Já não sofro para manter a barriga encolhida. Deixo-a livre, grande e desimpedida. Minha visão não piorará além do que hoje está e as coisas que comprei ontem não terão tempo de ficarem velhas. Meus óculos, hoje são muito mais importantes que aquilo que era importante há 40 anos, no passado. Os segredos que confiei a amigos de infância estão bem guardados: os que continuam vivos, já não lembram quais são. É o ônus da idade. Ainda bem que existem os abonos: uma mulher que me atura há quase 50 anos, filhos criados e felizes e, principalmente, netos que só alegria me dão, apesar da bagunça que promovem em minha casa. Ainda bem que eles são bagunceiros …

Em 2090

Se toda noite, a exemplo do meu primo José, de São Luís, antes de dormir, eu continuar tomando o meu chazinho de entrecasca da catuaba, rico em flavonoides, estarei com menos cansaço e fadiga. Por outro lado, não abandonarei o saudável hábito de degustar o carnudo, saboroso e nutritivo pequi do Crato associado a um inigualável ‘baião de dois’ de feijão de corda, com queijo de coalho. É desse ‘jeitim’ que eu chegarei ao ano 2090 com os mesmos 140 anos que viveu o bíblico e paciente Jó! Até aqui está dando tudo certo! Eu acho que vai dar. Paciência eu tenho de sobra.

2 pensou em “QUATRO DE NOVEMBRO

  1. 2100 será o sesquicentenário XB, festa grande, serão todos convidados. Já reservei a ARENA PE para o dia 4.11, Dr. JOSÉ PAULO. Marque na sua agenda, por favor.

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