FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Sem preocupações analíticas teologais, muito apreciaria analisar alguns ditos contidos em Provérbios, um dos livros do Primeiro Testamento, considerado o de maior sabedoria em todos os tempos, textos escritos pelo rei Salomão, que teve 800 dos 3.000 provérbios incluídos naquela parte das Sagradas Escrituras.

Numa conjuntura pós-moderna que destrói valores, minimiza as morais sociais, ridiculariza o eterno, debocha da honestidade, desvaloriza o sagrado e menospreza o talento, o bom senso, o bom gosto e os níveis culturais, além de desconstruir sinceridades e compromissos, uma leitura atenta de Provérbios pode refazer caminhadas, sedimentar convicções e alimentar redirecionamentos mais compatíveis com os balizamentos éticos contidos em todas as denominações religiosas.

É oportuno lembrar que Provérbios possui ditos espirituosos, chistes engraçados, dele se originando inúmeros adágios populares. Cito como exemplos dos seus 31 capítulos: Quando são muitas as palavras, o pecado está presente, mas quem controla a língua é sensato (Pv 10,19); Como o vinagre para os dentes e a fumaça para os olhos, assim é o preguiçoso para aqueles que o enviam (Pv 10,26); Melhor viver no deserto do que com uma mulher briguenta e amargurada (Pv 21,19).

Se eu fosse escolher seis provérbios alertadores, faria a seguinte eleição: O que diz que o perverso é mau caráter, sempre dizendo coisas maldosas, no coração carregando o propósito de enganar, para tanto semeando compulsivamente a discórdia, não percebendo que a paulada nele será inevitável e definitiva (Pv 6,12-15); O dirigente que se influencia pelos fuxicos, imaginando ímpios todos aqueles que dele discordam (Pv 29,12); O que chama a atenção do habilidoso que trabalha para gente obscura (Pv 22, 29); O imprudente que prefere a companhia e os ditos de medíocres ambiciosos (Pv 13,20); O que se arrebenta todo pastoralmente por falta de conselhos, desconhecendo que os bem-sucedidos possuem muitos conselheiros dotados de senso crítico (Pv 15,22); e O que se perde por preferir os beijos dos sabotadores às estocadas leais que ferem por amor (Pv 27,6).

Uma parábola judaica exemplifica bem como se pode sair do atual bulício civilizatório. Servirá para mentes anestesiadas que se encontram tonteadas, sem saber por onde começar. Mais ou menos é essa a versão: um homem de classe média, profissional liberal remediado, temente a Deus mais por covardia que por princípios, saiu para uma caminhada na floresta e nela se perdeu. Vagueou horas sem fio, tentando encontrar a saída. Para onde ia, nada encontrava. De repente, deparou-se com um outro ser humano. E perguntou de bate-pronto:

– Você pode me mostrar o caminho de volta à cidade?

A resposta do outro o intrigou:

– Também estou perdido. Mas podemos juntos ajudar um ao outro.

Diante do abismamento provocado, a explicação recheada de sabedoria:

– Vamos agir em conjunto. Cada um pode dizer ao outro os rumos que já tentou e que não deram certo. Certamente isto nos ajudará a encontrar o caminho correto.

Juntemos as nossas migalhas de esperança. Todos, sem distinção, desarmadamente. Vejamos os caminhos percorridos e que a ninguém já não mais satisfazem. E verifiquemos quais as forças que ainda nos restam, mormente as que ampliam a dignidade e a criticidade, pessoal e comunitária, para que possamos continuar num novo ano sem abobamentos pífios, tampouco fingimentos que nada camuflam.

Um Feliz 2023 arretado de muito ótimo para todos os fubânicos!

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