No lânguido esmaecer das amorosas
Tardes que morrem voluptuosamente
Procurei-O no meio de toda a gente.
Procurei-O em horas silenciosas
Das noites da minh’alma tenebrosas!
Boca sangrando beijos, flor que sente…
Olhos postos num sonho, humildemente…
Mãos cheias de violetas e de rosas…
E nunca O encontrei!… Prince Charmant
Como audaz cavaleiro em velhas lendas
Virá, talvez, nas névoas da manhã!
Ah! Toda a nossa vida anda a quimera
Tecendo em frágeis dedos frágeis rendas…
– Nunca se encontra Aquele que se espera!…
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
Falam alguns sequestradores de biografias que Florbela era uma mulher que antecipou o feminismo, que era à frente de seu tempo, que inspirou a libertação da mulher.
Aí eu pergunto; uma mulher feminista fica à espera de um Prince Charmant (príncipe encantado)?
Qualquer rótulo em que se coloque Florbela, nenhum a definirá totalmente; era uma mulher sonhadora, voluptuosa, talentosa, inconstante, devoradora, cativante, exigente, misteriosa, egocêntrica.