CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Em 1965: Romildo, Edson de Almeida, Almy e Isaltino

O programa de Rádio mais conhecido nos anos 50 foi o “Repórter Esso”, que cobrindo boa parte do Brasil dava prestígio aos prefixos das emissoras que o transmitiram por mais de 27 anos.

Quando eu tinha uns 10 anos, (1946), era seduzido pelos programas da PRA-8 – Rádio Clube de Pernambuco. O único meio de comunicação sonora de massa que havia no Recife. Por isso me empolgava.

Era um alumbramento ouvir aquelas vozes límpidas e sem erros de gramática, nos noticiários, nas radionovelas, nas crônicas e anunciando as músicas.

Naquele tempo se destacavam em Pernambuco as vozes de José Renato, Abílio de Castro, Aluízio Pimentel e Fernando Castelão.

Se acaso sintonizássemos as Ondas Curtas, a fim de localizar as emissoras do exterior, era maior a vibração, porque se ouvia os locutores brasileiros que atuavam no exterior, dentre eles Aymberê e Luiz Jatobá, ambos da BBC de Londres.

Passei a ter o desejo de ser locutor de Rádio. Vivia anunciando os programas da época como se ao microfone estivesse. Parecia um “peãozinho doido” andando por dentro de casa, com a boca próxima a uma lata de leite, para ter a impressão que era um microfone.

Várias vezes mamãe me ouviu falando no banheiro, local em que havia boa ressonância: “E agora vamos ouvir a “Crônica do Meio Dia”, escrita por Xavier Maranhão, na voz de Abílio de Castro.”

Em 1948 meus tios Moacir e Floriza, permitiam que eu ligasse o enorme rádio “Murphy”, na casa deles, próxima à nossa, deixando-o sintonizado nas Ondas Médias e Curtas, através das quais se localizavam as emissoras do Rio de Janeiro, Meca do Rádio, na época.

O que me empolgava muito era a forma como os locutores ditavam os prefixos.

Outra de minhas doidices infantis, exercitada para ser um locutor carioca: “Rádio Nacional, Rio de Janeiro, Brasil, falando diretamente de seus estúdios, no Edf. “A Noite. E agora passamos a apresentar o Programa César Ladeira.”

E do lado de cá, no Recife, utilizando o rádio de nossa casa, um “Philco”, eu vibrava com o único prefixo de radio-broadcasting que se dispunha: “PRA-8 – Rádio Clube de Pernambuco, Brasil, falando diretamente do Palácio do Rádio Oscar Moreira Pinto.” Era um barato!…

Amadurecendo, entendi que para ser um locutor primoroso era preciso dominar bem o vernáculo, pronunciar com perfeição todos os “S” e “R”, além de ter a arcada dentária perfeita. Mas eu era bastante dentuço, além disso, fanhoso. Adeus locução!

Por imposição do destino me dediquei à escrita em jornais, porém nunca deixei de admirar a locução dos grandes noticiaristas que passaram pelo Rádio pernambucano.

Lembro-me bem das programações esportivas onde se apresentavam dois locutores ao mesmo tempo, falando da Cabine de Imprensa do Sport Clube do Recife, criada sob a inspiração do Diretor Pedro Bezerra Cavalcanti, a primeira do Norte-Nordeste.

Fernando Ramos e Fernando Castelão. Cada um transmitia um lado no jogo. Em campo, Jota Soares e Haroldo Praça faziam os comentários técnicos.

Era interessantíssima a coordenação entre eles. Castelão estava falando ao microfone e quando a bola ultrapassava a linha divisória do campo, definindo o local das duas equipes, quem tomava a palavra era Fernando Ramos. Um espetáculo de coordenação!

Recordo, para conhecimento das gerações atuais, os grandes locutores, apresentadores e atores das novelas do nosso Rádio: Abílio de Castro, Geraldo Liberal, Dantas de Mesquita, Fernando Castelão, Fernando Ramos, José Renato, Barbosa Filho, Aldemar Paiva, Ziul Matos, Samir Habou Hana, Paulo Duarte, Paulo Fernando Távora, Tavares Maciel, Geraldo Freyre e Edson de Almeida, este, que durante 12 anos foi o responsável pela apresentação do “Repórter Esso”, o noticioso de maior audiência em todo o País.

Com o advento da Televisão no Recife, no início dos anos 60, parte da força e dos talentos do rádio se dividiu ou migrou para esse novo e poderoso canal de comunicação. Em consequência, os grandes apresentadores do Rádio foram saindo para a Televisão, dentre eles Fernando Castelão que batia todos os ibopes com o seu “Você Faz o Show”, no horário nobre dos domingos.

A partir dos anos 80 as emissoras do Recife passaram oferecer mais jornalismo, esportes e prestação de serviços, ficando com as Televisões os espetáculos de auditório.

Pouco antes, no final dos anos 70, apareceram as FM’s, e assim as emissoras de broadcasting tiveram que ser totalmente reformuladas.

Não realizei meu desejo de criança que seria me tornar locutor de Rádio, porém, aprendi a escrever notícias breves e hoje administro um grupo de comunicação, via WhatsApp, que denominei “Correspondentes Unidos”, interligando pessoas de vários lugares do País e até do estrangeiro.

Recordo proveitoso estágio de Jornalismo na PRL-6 – Rádio Jornal do Commercio, onde aprendi a escrever no padrão exclusivo exigido para o “Repórter Esso”, o mais famoso noticiário de todos aqueles tempos no Brasil. Meus orientadores foram Isaltino Bezerra e Romildo Cavalcanti, aqui homenageados na foto principal destas notas.

Assim os prefixos de rádiojornalismo que eu vivia falando na casa de meus pais, feito um peãozinho doido, tiveram grande influência em minha trajetória através das notícias escritas.

Na foto acima, os locutores Fernando Castelão, Tavares Maciel, Ziul Matos e Abílio de Castro e os artistas: Ary Santa Cruz, Rildo Uchoa Cavalcanti, Oswaldo Silva, Hélio Peixoto, Dorinha Peixoto e Mercedes del Prado, todos do “cast” da PRA-8 – Rádio Clube de Pernambuco. Foto no “Palácio do Rádio”, em 1946.

3 pensou em “PREFIXOS DE RÁDIO

  1. O rádio tal e qual a um livro ativa e estimula a imaginação. E o rádio nunca morrerá, nunca será destruído, pois a imaginação, os pensamentos, a criação, e as invenções começam nos nossos cérebros. Com esta crônica, acabo de reviver, em minha memória, a minha época de ouro do rádio, dos programas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, da excelente programação musical da Rádio Jornal do Brasil, os rocks e outros ritmos da Rádio Mundial, com o mais importante “disc Jockey” daquela época, responsável por uma verdadeira revolução no rádio brasileiro. O famoso BIG BOY, apelido de Newton Alvarenga Duarte. Como diz o Roberto Carlos: “são tantas emoções…” Verdadeiramente, o rádio emociona. Viva o rádio!

  2. Concordo com o Deco. o mundo imaginativo e extremamente particular que o rádio nos proporciona é inigualável. Ainda hoje, do alto dos meus 71 anos, consigo recordar e reviver cada precioso momento que os programas do rádio me proporcionaram, desde pequenino até dias recentes. Eles me acompanharão enquanto eu viver. E quem sabe até mesmo depois ?

  3. Aos dois caros leitores – já meus amigos fraternos – agradeço os comentários, o que me estufa o peito de orgulho ao saber que ativei as células da história de cada um e promovi momentos de felicidade.

    Aliás, estou pensando em comprar um rádio-receptor daqueles antigos, que funcionam bem, para rever os momentos de outrora quando eu ficava “corujando” nas emissoras de todo o mundo.

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