Editorial Gazeta do Povo
Café é um dos produtos que tiveram Imposto de Importação zerado
Desesperado para recuperar a popularidade perdida graças, entre outros fatores, à inflação que insiste em não arrefecer, o presidente Lula resolveu apelar para os factoides e as ameaças para tentar baixar no grito o preço dos alimentos. No último dia 6, coube ao vice-presidente Geraldo Alckmin anunciar a alíquota zero de Imposto de Importação para vários produtos, como carnes, açúcar, azeite, milho e café. No dia seguinte, foi a vez de o próprio Lula falar, em evento com o Movimento dos Sem-Terra (MST): “nós queremos encontrar uma solução pacífica (…) Mas, se a gente não encontrar, vamos ter de tomar atitudes mais drásticas, porque o que interessa é levar a comida barata para o prato do povo brasileiro”, afirmou.
Que “atitudes mais drásticas” seriam essas, Lula não disse. Mas já está implícita na fala sobre “encontrar uma solução pacífica” que o plano do petista é o de inventar soluções que lhe trarão o bônus de ser o “responsável” por baixar o preço dos alimentos, enquanto o ônus fica com algum terceiro, que será culpado caso não aceite colocar em prática um plano que lhe trará prejuízos. Parte desse roteiro já foi colocada em prática quando Alckmin pediu aos estados que zerassem o ICMS sobre os produtos da cesta básica. Se por acaso algum governador fizer as contas, concluir que a renúncia fiscal seria grande demais, e se recusar, já pode dar por certo que será apontado por Lula como um “inimigo do povo”. O outro alvo óbvio do petista é o agronegócio, setor que ele demoniza desde a campanha eleitoral de 2022 e com o qual vive às turras.
Por natureza, os preços dos alimentos são voláteis. Em condições normais, a agropecuária já vive de ciclos que ora barateiam, ora encarecem os produtos. Quebras de safra ou fenômenos climáticos extremos do outro lado do planeta podem intensificar essa dinâmica, elevando os preços no supermercado do bairro ao afetar drasticamente a oferta – é o que tem acontecido com alguns dos itens que mais subiram ultimamente. A combinação de maior demanda externa com real desvalorizado torna as exportações ainda mais atrativas, o que reduz a oferta doméstica.
A promessa de “medidas mais drásticas” evoca o fantasma do intervencionismo, amplamente testado e reprovado em um passado não muito distante. No caso da isenção do Imposto de Importação, o agronegócio e economistas afirmam que se trata de medida ineficaz, até porque alguns dos produtos contemplados já têm produção interna suficiente para atender à demanda. Mas, enquanto o governo permanecer apenas no ineficaz, menos mal; o risco é que parta para medidas muito mais extremas, como controles de preços ou restrições à exportação, que fatalmente desorganizariam a cadeia produtiva e poderiam desestimular a produção – um caso clássico foi o do pós-Plano Cruzado, em que pecuaristas deixaram de abater bois aptos ao corte porque teriam prejuízo com o tabelamento de preços; a Polícia Federal chegou a montar operações para apreender os animais no pasto.
Praticamente todas as críticas às falas e ações de Lula e do governo sobre o preço dos alimentos batem certeiramente na mesma tecla: o que causa inflação é a contínua perda do valor da moeda provocado pelas políticas fiscais irresponsáveis do governo federal. O mercado financeiro continua elevando suas projeções para o IPCA deste ano, prevendo uma inflação que baterá em mais de um ponto porcentual o limite de tolerância para a meta do Conselho Monetário Nacional. Ao criar factoides e ameaçar produtores rurais, governadores e quem mais Lula escolher como bode expiatório, o petista mostra (mais uma vez) que sua escolha não é por atacar os problemas reais, mas por desviar a atenção da população com culpados imaginários enquanto diz ter feito tudo o que podia quando, na verdade, só agiu para piorar uma das piores mazelas socioeconômicas que podem atingir uma sociedade.