Praça com manhã agitada.
O senhor grisalho que vende flores está fazendo ótimos negócios. Já o vi despachando vários clientes. Eu sinto, daqui de onde estou sentado, o aroma agradável de suas flores naturais. Elas são coloridas e de diversas formas.
Um ceguinho hoje resolveu parar na praça, viola na mão, Mílton Nascimento na voz, sentimentos puros no coração. Os olhos por trás dos óculos pretos não conseguem enxergar o dia lindo. “Todo artista tem que ir aonde o povo está”, canta o cego sem importar-se com o tilintar das moedas jogadas pelos transeuntes. Até o senhor das flores veio lhe deixar algum dinheiro.
Mais à frente do cego, um grupo de homens joga dominó sobre a mesa de pedra.
Noutro canto há o jogo de gamão bem disputado por dois senhores. As damas são mexidas mais à direita, por taxistas observados por alguns companheiros.
Um cão dorme sob a proteção do banco de granito. A sombra caminha devagar para sair dele.
Alguns pombos voam e voltam. Uns vão, outros vêm…
Uma folha seca cai da castanhola e segue levada pelo vento, em parábolas abstrusas, indo descansar ao lado do cão.
Acaso.
Ainda imitando a voz de Mílton Nascimento, o cego parece fazer um juramento através dos versos “se eu morrer primeiro, tu me prometes sobre o meu peito inerte deixar cair todo pranto que mostra tua tristeza. Para que todos saibam do teu querer”.
Eu me levantei. Estiquei braços e costas. Pretendo caminhar em círculos pela praça. Seguirei em linha reta na vida sabendo de mim tanto, quanto o cão sabe da sombra e da companhia da folha seca.
E eu que estava aqui meio macambúzio, de repente ao ler esta linda ode neste domingo maravilhoso me senti revigorado e só tenho motivos para agradecer ao querido Jesus de Ritinha por me proporcionar este lindo passeio nesta linda praça. Bom domingo a todos!
Vamos juntos, Marcos, ombro a ombro.
Obrigado pelo comentário.
Bom dia poeta
Deve ser linda é interessante esta praça onde caminhas. Suas observações e impressões me lembraram duas músicas de que gosto muito: “Trem das Cores”, de Caetano Veloso e “Alucinação” de Belchior.
Imagino que assim como os cantores que citei, o senhor se inspirou naquilo que realmente importa: as coisas simples da vida.
Acertei?
Bom domingo para todos nós.
Ô, Pablo!
Agostinho de Hipona disse que “a simplicidade é o limite mais próximo da felicidade.”
Eu concordo com ele.
O cão que o diga. Dormia sorrindo.
Parabéns pela belíssima crônica, que me fez lembrar dos tempos “idos e vividos”, querido poeta Jesus de Ritinha de Miúdo!
Seu texto nos transporta para uma pracinha de sonhos, de um tempo em que a maldade nem tinha nascido. Adorei!
Grande abraço!
Coisas próprias de interiores como o seu, como o meu. Como o nosso.
Obrigado, Volante.
Belo texto. Pela poeticidade, a praça não poderia ter outro nome. Viva Clarice Lispector.Obrigado, Jesus, pela poe-crônica.
Ô, Xico!
O mundo seria bem melhor se existissem mais poetisas e poetas como ela, e mais praças de paz.
Obrigado.