Muitos podem até estranhar essa minha confissão, mas analisando Pindorama no século e mais algumas quireras de República, posso afirmar, sem a menor dúvida: nessa história de republicanismo, a indiaida nacional entrou bem. Os donos da república entraram com o fumo, e a bugraiada, com a bunda.
Quase dois anos após o falecimento da Rainha Elizabeth II, do Reino Unido, peguei-se-me a pensar como a monarquia britânica promoveu, entre o século XX e agora, cento e vinte e quatros anos de estabilidade, mesmo com a ruma de primeiros-ministros bons, excelentes, ruins, péssimos e petistas, mesmo.
Eduardo VII, após o falecimento da Rainha Vitória, assumiu o trono em uma sucessão tranquila. Seu filho, George V enfrentou a Primeira Guerra Mundial, a Grande Depressão e manteve a serenidade e o Reino e o Império unidos. A crise da abdicação de Eduardo VIII, causou comoção, mas logo depois da sucessão, George VI enfrentou o resto da depressão, a guerra mais destrutiva da história da humanidade e a desagregação do império em estados independentes, mas a maioria optando por permanecer na chamada Commonwelth, tendo o soberano britânico como chefe de estado dessas nações. Há até uma história, não sei se verdadeira que, quando George VI anunciou a entrada da Grã-Bretanha na Segunda Guerra, o primeiro-ministro da Austrália, nem solicitou autorização do Parlamento para declarar guerra à Alemanha nazista, apenas comunicou: “Se a Grã-Bretanha está em guerra, a Austrália também está em guerra”.
Elizabeth II governou durante setenta anos, e viu o fim do império, a ascensão da guerra fria, o fim do bloco soviético, a guerra dos Bálcãs, os desastres humanitários na África, a escravidão trazida pelos regimes socialistas, a ascensão dos ideários sindicalistas, a chamada Revolução Tatcher, a retomada dos princípios da livre iniciativa. Tudo bem que os filhos deram mais trabalhos que os súditos, principalmente em assuntos privados, mas Elizabeth II se manteve firme.
Há um documentário da década de 1980 quando os idiotas dos generais argentinos resolveram invadir as Falklands, em um debate no parlamento inglês, um deputado do Partido Trabalhista, abanando a mão na cara da senhora Tatcher gritou que ela havia deixado a Argentina humilhar a Rainha Elizabeth. Vejam, não foi a nação que foi humilhada, mas a rainha, tal a concepção que os ingleses têm de que o Trono é o país e o país é o Trono.
Voltemos os olhos para Pindorama nesse século e alguns anos de republicanismo. Se olharmos com curiosidade de pesquisador veremos que não houve uma década sequer de estabilidade política, uma década sequer de previsibilidade econômica, social, educacional. Já começamos errados. A res publica, ou coisa pública brasileira, de público mesmo nada tem. A república brasileira começou com um golpe militar que, malandramente deixou o povo fora, restando a este, apenas pagar as contas das festas que se seguiram ao golpe. Em seguida vieram as crises: crise da abdicação de Deodoro, a Revolta da Chibata, a Revolta da Armada, a Guerra de Canudos, a Guerra do Contestado, o tenentismo, a revolta de 1930 que implantou o populismo e o varguismo como panaceia para todos os nossos males.
Vargas, boa bisca que era, provocou a revolta constitucionalista de 1932, o golpe de 1937 e foi chutado em 1945, após a vitória brasileira nos campos italianos, lutando contra aquele carequinha – tô falando do carequinha 1, o Mussolini, não do dois, ou do… bem, deixa pra lá -, entre o governo Dutra, a volta de Getúlio, houve um aparente período de tranquilidade que pariu figuras como Jânio Quadros, João Goulart, Francisco Julião, Miguel Arraes, entre outros símbolos do atraso. A posse de Juscelino também foi antecedida de revoltas militares, como a do Araguaína outras instabilidades. Jânio fez o que fez e foi jogado na lata de lixo da história. Jango, com aquela sua postura nem-nem, trafegava pelo apadrinhamento, pela politicagem do toma lá da cá, até ser chutado da presidência e começar os governos de coturno e toda a barbárie cometida neste torrão, seja pela direita, seja pela esquerda.
Após a dita redemocratização veio o desastroso governo Sarney, a aberração chamada Constituição de 1988, o ladroísmo descarado de Collor, e o impeachment do mesmo que quase nos leva para o buraco. O governo Itamar foi aquela sensaboria que todos conhecem, afora a cena com a sans-cullote no carnaval que se tornou um escândalo e quase leva Itamar para o buraco. Fernando Henrique Cardoso tentou dar alguma racionalidade, mas rendeu-se ao sistema republicano do toma lá-da cá para poder passar a emenda da reeleição. Chamaram isso de presidencialismo de coalização, ou seja, o chefe do executivo entrega um ministério, uma autarquia, um banco, uma estatal de porteira fechada para um chefe político, em troca de votos no congresso. E o público? Sempre convocado a pagar essa brincadeira cara demais, sem graça demais, para quem precisa gerar riqueza e sustentar essa máquina balofa e ineficiente chamada Poder Público.
Após FHC – Fernando Henrique Cardoso – inaugurou-se a república do lúmpen sindicalismo, com toda sorte de bucaneiro, parasita, escroque, vagabundo, preguiçoso e oportunista se adonando da nação. O resultado? Mensalão, Petrolão, a Fraude contábil, que muitos idiotas chamam de pedalada fiscal, como se esse crime fosse tipificado, mas é apenas uma forma de atenuar os crimes cometidos por um desastre ambulante que somou nove mais quatro e encontrou onze, que disse que uma bola feita de folha de bananeira era o ápice da evolução do brasileiro, que saudou uma raiz de mandioca, que encontrou um cachorro como sujeito oculto atrás de uma criança, e por aí vai.
E outra crise se instalou quando, os bucaneiros do congresso resolveram chutar a inquilina do Alvorada porque as tetinhas estavam magrinhas e saindo pouco leite. Só não saiu porrada no congresso porque estava todo mundo de olho, mas cuspe, xingamentos, alusão à mãe, promessa de vingança pulularam, naquele espaço que chamam de casa do povo. Sinto, mas até um puteiro há mais ordem, decência e organização do que naquele espaço. Imagina isso ocorrendo na casa de um cidadão? Jamais.
Veio o governo Bolsonaro, a pandemia e toda a esculhambação político-jurídica que bagunça a nação e destrói as possibilidades de futuro. Certa vez Paulo Guedes disse que em seis meses o Brasil viraria uma Argentina de Cristina Kirchner e em um ano, uma Venezuela de Maduro. Enganou-se. Em um ano saímos de uma Argentina e fomos direto para uma Coreia do Norte, com toda a sua arbitrariedade, sua truculência, suas vinganças e mesquinharia.
Aproveitou-se a pandemia para levantar a bandeira de “salvar a democracia”, reconduzindo um ladrão triplamente condenado, e seu acusador, aquele que dizia que o ladrão queria voltar à cena do crime, de volta ao poder e à lúmpen república. Em resumo, nunca, na história republicana tivemos vinte anos sem crises e regressos, sem objetividade e sabotando o futuro do país, tudo em nome de uma república que, de público nada tem, apenas o dinheiro para pagar as contas dos “donos do poder”.
Comparativamente, acredito que dei exemplos suficientes de que, a volta à monarquia, pelo menos dará estabilidade e previsibilidade ao país, mesmo porque, despejar um primeiro-ministro inepto é menos traumático do que um presidente, pois uma família imperial será espelho dessa estabilidade, tranquilidade e certeza de uma representação de decoro público que nossa república prometeu, mas nunca cumpriu.