FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Um amigo muito querido me enviou, dias atrás, uma reflexão esplendorosa de uma psicanalista, onde ela afirmava que estávamos todos inseridos numa civilização da solidão, onde todos estão se tratando com todos através de cada vez menores contatos pessoais. Tudo a favorecer uma reprodução, nos moldes pós-modernos, do Mito da Caverna, genial criação do filósofo Platão (427 – 347 a.C.), onde a caverna representa o “campo do existir”, onde acorrentados emocionais apenas contemplam teclados e painéis eletrônicos, interagindo com mil e uma irrealidades, fake news, promessas e ilusões anestesiantes, em conflitos permanentes contra nós mesmos, sempre ansiosos por um melhor bem-estar existencial.

Estamos vivenciando uma gigantesca crise civilizatória nos mais diferenciados setores. O principal, o substancial, o indispensável se relacionando com o da transcendentalidade racional, posto que tudo não é o bastante, segundo livro famoso, por mim lido há mais de dez anos, sempre por mim presenteado para amigos (as) desesperançados(as): QUANDO TUDO NÃO É O BASTANTE, Harold Kushner, 2ª. reimpressão, São Paulo, Nobel, 2010, 174 p. O autor, nascido em 1935, eternizou-se em 23 de abril de 2023, em Massachusetts, Estados Unidos. Militante do judaísmo progressista, ele foi considerado pela organização católica Christophers uma das cinquentas pessoas que fizeram do mundo um lugar melhor, tendo sido, em 1999, laureado Clérigo do Ano, pela Religion in American Life.

No livro acima citado há reflexões que muito incomodam os que sempre se portam infantilmente espiritualizados. Uma pequena amostra: “Quando a religião nos mima e os líderes religiosos nos mantêm em submissão infantil e dependência, dizendo-nos o que fazer e pedindo em troca nossa gratidão e obediência, não estão nos prestando um serviço. … A religião nos deve estimular a crescer, a abandonar os padrões infantis, mesmo que desejemos continuar a ser espiritualmente crianças. A religião nos deve, até mesmo, encorajar a desafiar criticamente suas próprias posições. … Meu trabalho como rabino seria muito mais fácil se eu pudesse esperar que as pessoas me obedecessem e fizessem tudo aquilo que recomendo que devem fazer, da mesma forma que meu trabalho de professor seria mais fácil se os estudantes anotassem e decorassem tudo o que lhes digo sem nada questionar. Em ambos os casos eu estaria furtando pessoas que me procuram para aprender alguma coisa.” Recomendo uma leitura amplamente meditativa do capítulo 2 do livro, intitulado O livro mais mal-humorado da Bíblia, Ed René Kivitz, Ed. Mundo Cristão, 2009.

Para todos os espiritualistas e espiritistas docentes de um Brasil que necessita urgentemente reinventar Paulo Freire, efetivando suas próprias rogativas, um livro de um pensante altamente qualificado merece ser lido e debatido: EDUCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE, Gabriel Perissé, Belo Horizonte MG, Editora Autêntica, 2022, 122 p. No livro, ele faz uma conclamação: “Pensemos no papel (positivo e negativo) das religiões no comportamento da sociedade. Pensemos na influência iluminadora ou manipuladora que líderes espirituais exercem sobre as multidões. Pensemos nas utopias e distopias, nas nostalgias e nas críticas ao passado que, sob a ótica da espiritualidade, fomentamos em nossos locais de convivência familiar ou profissional.”

Saibamos perceber cotidianamente que “a espiritualidade educa e a educação inspira.” E que o Rabi Dossa bem Harkinas tem plena razão:

“O sono até tarde da manhã, o vinho do meio-dia, as conversas infantis e a convivência com ignorantes, arrebatam o homem do mundo.”

Saibamos sempre ser mais, antes de qualquer ter mais, nos amadurecendo sempre mais.

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