CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Meu primo Sérgio Dantas de Oliveira, repórter internacional

Por tantos espaços que já percorri nestes quase 90 anos de vida, pisando em terras que não eram somente minhas, mares que nunca tiveram donos e ares que pertencem ao Grande Arquiteto do Universo, muito vi e ouvi.

Fui aproveitando para gravar boas coisas que captei através dos olhos, dos ouvidos e aquelas que minhas mãos tocaram, sob a forma de livros.

Vez por outra surge o desejo de transmitir, como agora, o que está guardado nas gavetas da memória. Coisas sérias, outras engraçadas.

Nos idos de 1980, voltando do Rio de Janeiro, à noite, voando num “Constellation” da Varig, sentei-me ao lado do escritor e etnógrafo Mário Souto Maior. Muita sorte. Prosa de primeira. Dias depois ele escrevia numa crônica que serviria de Prefácio::

– Conheci Carlos Eduardo numa atmosfera de sonhos, em pleno céu de noite estrelada, voando a muitos metros de altura. Falou-me dos seus sonhos e do livro que estava escrevendo sobre o tema, cujo título seria: “Nem Freud explica”.

Jamais me esqueci daquele magnífico preâmbulo.

Outra cena foi no interior da Paraíba, ao fazer uma reportagem. Deram-me um cavalo para atravessar um riacho. Uma gentileza especial para não me molhar. Mas nunca me vi numa situação tão ruim que foi montar pela primeira vez. Um sacolejo dos infernos.

E eu que me iludira por tantos anos ao brincar de caubói supostamente montando tudo quanto era alazão feroz, além de trepar em cabos de vassoura, a fim de parecer estar num daqueles animais. Meras ilusões infantis!

Uma lembrança dos tempos de teatro. Nos bastidores, camarim de D. Diná, estrela maior da peça “Sangue Velho”, que fazia sua estreia no Teatro Santa Isabel, nos idos de 1950, aguardei na porta meu momento, para que me maquiassem, pois seria o “menino, filho do Tio Velho” (Dr. Valdemar de Oliveira).

Depois que ela terminou, surgiram outros artistas. Margarida Cardoso, Celina Araújo e Clóvis. Permaneci à espera, até que fui ao “contra regra”, Alfredo de Oliveira, para indagar quem iria me pintar. Triste resposta:

– Meu filho, você vai entrar em cena assim mesmo, descalço e sem pintura, porque vai aparecer em cena durante uma noite chuvosa, do jeito que está. Portanto, você já está pronto para ser o menino Francisco!

Colecionei pequenas desilusões nesses arruares. Comitiva de 22 pessoas chega ao Grande Hotel Ok, do Rio de Janeiro, na Senador Dantas, todos artistas do Teatro de Amadores de Pernambuco, a fim de se apresentarem no palco do Teatro Regina.

Encantado com o local e entusiasmado após a primeira viagem num “Douglas” da Aerovias Brasil, até ajudei a carregar as malas de Geninha até o apartamento onde ela ficaria com seu marido, Octávio Rosa Borges.

Aos 15 anos, tudo era “primeira vez”. Chegar a um hotel era um alumbramento. Mas logo fui cientificado por Reinaldo que eu deveria esperar meu parente, lá no hall, que me hospedaria em sua casa, no bairro de Vila Isabel, casa dos meus primos Yeda e José Medeiros.

Desencanto total para quem esperava ficar num daqueles maravilhosos cômodos do “Ok”. O primo apareceu e Reinaldo me “despachou”, informando qual dia eu deveria estar no teatro.

Na segunda semana de estada no Rio, tempo em que minha peça seria apresentada, fui transferido para a casa de Tio Érico, em Copacabana, a fim de ficar mais fácil de me transportar para a Cinelândia, mesmo porque teria o primo Sérgio para aproveitar algumas andanças pela Zona Sul..

Chega o dia da estreia. Numa tarde, já metido a sabidão, fui com meu primo – ainda mais novo do que eu – para o teatro, prevendo chegar lá às 18 horas.

Por uma distração pegamos um ônibus Copacabana-Leme e fomos bater no terminal de retorno, chegando à parada junto ao famoso Cassino da Urca. Sofremos um atraso de quase meia hora, a fim de esperar outro transporte que partisse do Leme para a Cinelândia.

Na porta do Teatro Regina, bastante aflito, Alfredo, o “contra regra”. Suava frio, admirado ao ver aqueles dois meninos sozinhos, soltos pela cidade maravilhosa.

Mais tarde, ao terminar o espetáculo, tio Érico fora nos apanhar. Muito fleumático, teve que amargar um bom esculacho, por haver permitido tal feito: permitir que os meninos fossem sozinhos de Copacabana à Cinelândia.

Na sua calma britânica, apenas afirmou sorridente:

– Meu caro, eles já são dois homenzinhos! Garantiram que chegariam na hora e assim o fizeram!

Tia Mariíta e tio Érico

2 pensou em “POR TERRAS, CÉUS E MARES

  1. Caríssimo Asssuero,

    Você sempre estimulando os colegas colunistas!

    Mais uma vez grato por sua nota.

    Bpm Dia!

    Carlos Eduardo

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