Editorial Gazeta do Povo
A ex-primeira-dama peruana Nadine Heredia, esposa do ex-presidente Ollanta
Um clichê antigo é o do Brasil como terra de impunidade, um local onde criminosos estrangeiros jamais seriam encontrados ou incomodados – Ronald Biggs, Josef Mengele e Cesare Battisti que o digam. O tema chegou a ser fartamente explorado por Hollywood ao longo de muitas décadas, até mesmo por gênios do cinema como Alfred Hitchcock, em Interlúdio. Mas, antigamente, os que escolhiam o Brasil para escapar da Justiça de seus países ao menos tinham de se dar ao trabalho de conseguir chegar até nossas terras. Hoje, não mais: o governo Lula se encarrega de mandar aviões oficiais para buscá-los, e lhes concede até asilo político; basta serem “amigos do rei”.
O desdobramento peruano da Operação Lava Jato resultou na condenação, nesta terça-feira, dia 15, do ex-presidente Ollanta Humana (que governou de 2011 a 2016) e da ex-primeira-dama Nadine Heredia, a 15 de anos prisão cada um. O Terceiro Juizado Colegiado da Corte Superior Nacional do Peru considerou o casal culpado de lavagem de dinheiro, por ter recebido recursos do ditador venezuelano Hugo Chávez e da empreiteira Odebrecht para financiar duas campanhas eleitorais. Humala é o segundo ex-presidente peruano condenado graças à Lava Jato: seu antecessor Alejandro Toledo (2001-2006) já havia recebido pena de 20 anos por favorecer a Odebrecht em um contrato em troca de US$ 35 milhões em propina. E a operação ainda mirou outros dois ex-presidentes: Alan Garcia (1985-1990 e 2006-2011) se matou em 2019 quando a polícia cumpria um mandado de prisão contra ele; e Pedro Paulo Kuczynski (2016-2018) renunciou em meio às denúncias de corrupção – as investigações seguem em andamento.
Humala já estava detido, mas Nadine Heredia estava em liberdade, e correu para a embaixada brasileira em Lima ainda na manhã de terça-feira; diante do desfecho negativo do julgamento, pediu asilo. A chancelaria peruana havia informado que a ex-primeira-dama “solicitou asilo naquele país [o Brasil], de acordo com a Convenção sobre Asilo Diplomático de 1954”, e que “ambos os governos [brasileiro e peruano] estão em comunicação constante sobre esta situação” – mas as tratativas, ao que tudo indica, foram muito breves, pois no dia seguinte Heredia já desembarcou no Brasil ao lado de um filho menor de idade, devidamente protegidos pelo asilo concedido por Lula e trazidos por um avião da Força Aérea Brasileira.
Um asilo muito mal concedido, evidentemente. A convenção invocada pelo Brasil aplica-se apenas “a pessoas perseguidas por motivos ou delitos políticos”, como diz seu artigo 1.º, e o artigo seguinte ainda acrescenta que “não é lícito conceder asilo a pessoas que, na ocasião em que o solicitem, tenham sido acusadas de delitos comuns, processadas ou condenadas por esse motivo pelos tribunais ordinários competentes, sem haverem cumprido as penas respectivas”. Por mais que caiba “ao Estado asilante a classificação da natureza do delito ou dos motivos da perseguição”, como diz o artigo 4.º, é evidente que nem corrupção, nem lavagem de dinheiro são crimes políticos.
A não ser, claro, que se trate de corrupção praticada por esquerdistas, como são Humala e Heredia, aliados de Lula e legítimos “guerreiros do povo peruano”. Neste caso, tudo é perseguição política, tudo é narrativa, tudo é injustiça, tudo é conluio entre autoridades para “criminalizar a política”, como afirmam os petistas brasileiros desde a época do mensalão – e como também vem afirmando o ministro Dias Toffoli, o ex-advogado do PT que, instalado no STF desde 2009, protagoniza o desmonte do combate à corrupção com essas mesmas alegações. Aliás, não contente em destruir a Lava Jato brasileira, o ministro se empenhou em melar também sua contraparte peruana, barrando a colaboração internacional entre órgãos de investigação e impedindo que testemunhas brasileiras prestassem depoimento a autoridades peruanas. As condenações de Toledo, Humala e Heredia só foram possíveis porque a Odebrecht fechou acordos de colaboração premiada com a Justiça local, e esses Toffoli não tem como alcançar.
Na prática, o Brasil de Lula ajudou Nadine Heredia a fugir da Justiça de seu país, sob o disfarce de um asilo político. A ONG Transparência Internacional, em reação à decisão brasileira, afirmou que, depois de exportar corrupção, o país governado pelo PT também “exporta impunidade”, corrompendo um instrumento que serve para proteger verdadeiros perseguidos políticos, e não corruptos condenados que compartilham da mesma filiação ideológica. Agora, a esquerda latino-americana já sabe que, não importa quão escabrosos sejam seus crimes, basta chamar o companheiro Lula e esperar o jatinho da FAB.