CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

O filme Philadelphia em DVD

Tema polêmico e dramático, tratado com seriedade pelo diretor Jonathan Demme (O Silêncio dos Inocentes) e pelos atores Tom Hanks e Denzel Washington. “Filadélfia” começa perfeitamente bem. A lente de Tak Fugimoto mostra uma cidade lentamente alegre, movimentada, acompanhada pela bela canção de Bruce Springsteen, “Streets of Philadelphia” que, meritocramente, leva o Oscar de melhor canção original.

Tom Hanks, acertadamente, também leva a sua estatueta para casa por ter sido escolhido como melhor ator, merecidamente. Um trabalho brilhante, que trouxe o ator para os dramas da vida, tirando-o de comédias quase que esquecíveis.

No início dos anos 90, a AIDS ainda era uma incógnita para o grande público, mas já colecionava vítimas pelo planeta. Famosos como Freddy Mercury (morto em 91) e Cazuza (morto em 90) foram cedo demais, junto com diversos outros artistas e desconhecidos, seja pela falta de informação, pela falta de sorte em transfusões ou pela irresponsabilidade sexual ou com as drogas. Mais do que isso, a aids era conhecida como a condenação gay, a peste a que todos os homossexuais estavam fadados por sua ‘depravação’. Algo absurdo, óbvio.

Foi mais ou menos nessa época ainda obscura da doença que o então em evidência Jonathan Demme resolveu filmar Filadélfia (Philadelphia, 1993), a história de um prodígio advogado que é demitido de um poderoso escritório em que trabalhava depois que um dos sócios descobre que ele tem aids. Andrew Beckett (Tom Hanks) decide então processar seu antigo emprego, buscando diversos advogados para representar seu caso sob a alegação de armação (ele teoricamente havia perdido documentos importantes de um caso mais importante ainda), mas todos o recusam. Joe Miller (Washington), advogado trabalhista negro extremamente homofóbico, decide comprar sua briga e, juntos, enfrentam não apenas um império da lei, mas também os preconceitos pessoais de cada um. Tudo baseado em um ‘caso real’.

A verdade é que “Filadélfia,” mesmo com suas escolhas óbvias (advogado negro, raça historicamente sofrida, tem preconceito contra o gay portador de HIV, outra minoria social), tem seus méritos, principalmente por ter sido o primeiro grande veículo a dialogar com o público em massa sobre o assunto em uma época de tabus. Antes dele houve outros trabalhos, mas o filme de Demme conseguiu chamar atenção por ter nomes fortes envolvidos (Tom Hanks, Denzel Washington e o próprio Demme, que vinha de cinco Oscars principais por O Silêncio dos Inocentes (The Silence of The Lambs, 1991) e ser relativamente simples, sem grandes discussões filosóficas ou dubiedade de personalidade, abraçando assim um público ainda maior por sua simplicidade e mensagem direta.

É um filme claro onde o sujeito A é prejudicado, corre atrás de seus direitos, constrói uma relação com a desavença B e tudo se fecha certinho dentro da boa moral, conscientizando a todos. Mas, ao mesmo tempo, é um trabalho tão sincero, tão bem interpretado, com um Hanks tão cativante (premiado pelo Oscar) e um Denzel Washington tão enérgico que fica impossível não simpatizar por sua causa. Há ainda um Antonio Banderas bem jovem interpretando o companheiro de Hanks e a participação como ator de Roger Corman, a lenda por trás de diversos clássicos de horror dos anos 60.

Bruce Springsteen – Streets of Philadelphia (Official Video)

Filadélfia (1993) – Trailer legendado

Análise Jurídica do Filme Filadélfia

7 pensou em “PHILADELPHIA (1993), UM FILME QUE NÃO MAQUIA O PRECONCEITO

  1. A AIDS surgiu no início dos anos 80.

    Na época ocorria o boom das discotecas, liberação sexual, das drogas.

    O paciente zero nos EUA foi um comissário de voo gay franco-canadense, que, através de relações sexuais foi transmitindo a doença, primeiro na Califórnia e depois ao resto do país e do mundo.

    Quem foi muito prejudicado no início foram os hemofílicos, uma vez que a transmissão é através do contato com sangue e estes doentes dependem de transfusão.

    Viciados em drogas injetáveis também foram atingidos em cheio.

    O Sistema de Saúde Global demorou para atacar a causa da doença e em menos de 10 anos os grupos de risco se ampliaram para mulheres (relações promíscuas sem camisinha ou maridos que as traíam), crianças,…

    Hoje algo semelhante ocorre com a dita Varíola dos Macacos.

    Assunto polêmico que mostra como funciona o Mecanismo Global do poder.

    • Bom dia, mestre João Francisco.

      Seus comentários em qualquer área do JBF são sempre valiosos e bem vindos em vista de suas pertinências.

      Não há consenso sobre a data das primeiras transmissões do vírus da AIDS. O mais provável, porém, é que tenham acontecido por volta de 1930. Nas décadas seguintes, a doença teria permanecido restrita a pequenos grupos de tribos da África Central, na região ao sul do deserto do Saara, segundo matéria da revista Super Interessante.

      Nas décadas de 60 e 70, durante as guerras de independência, a entrada de mercenários no continente começou a espalhar a aids pelo mundo. Haitianos levados para trabalhar no antigo Congo Belga (hoje República Democrática do Congo) também ajudaram a levar a doença para outros países. “Entre 1960 e 1980 surgiram diversos casos de doenças que ninguém sabia explicar, com os pacientes geralmente apresentando sarcoma de Kaposi, um tipo de câncer, e pneumonia”, diz a epidemiologista Cássia Buchalla, da Universidade de São Paulo (USP). A aids só foi finalmente identificada em 1981.

      Todo debate sadio é ótimo! Debater com o mestre é excelente!

      Quanto ao filme Filadélfia, esse é magnífico porque não apela ao lugar comum nem torna o tema sensacionalista. Fosse filmado hoje, mesmo com a tecnologia super avançada, os efeitos especiais o tornava “o mundo fantástico de Bobi!”

      Ótimo início de semana para o mestre e família!

      Perguntar não ofende:

      Onde se encontram os outros Tavares e Joaquimfrancisco, que faz tempo que não aparece?

      • “Onde se encontram os outros Tavares e Joaquimfrancisco, que faz tempo que não aparece?”

        Boa pergunta, caro Ciço, boa pergunta.

  2. Esse é um dos melhores filmes que eu já vi na minha vida. As atuações de Denzel e Hanks são magistrais; Sem falar, na plêiade de excelentes atores que atuaram no filme. A cena onde Hanks está ouvindo uma ópera e ele precisa estudar a própria defesa, é uma das cenas mais lindas da história do cinema; A atuação do mesmo foi absolutamente magistral e única. Esse é um clássico. Recomendado para todo cinéfilo. E eu, como cinéfilo que sou, tenho um exemplar, com vários extras, numa edição especial!!! É um filme para ser visto e revisto, sempre!!!
    A pergunta do advogado, vivido por Denzel: “Mr. Beckett, quantos advogados o senhor já procurou antes de vir até aqui?” Hanks responde: “Nove.” Inimaginável, pois ninguém queria representá-lo contra os poderosos do escritório onde trabalhava.

    • Estimado Maurino:

      Nesse clássico dos clássicos de título PHILADELPHIA, há uma pergunta no Tribunal que cabe bem ao Brasil atual em que vivemos:

      “Neste tribunal, Sr. Miller, a justiça é cega independente da raça, crença, cor, religião e orientação sexual.”

      “Com todo respeito, meritíssimo, nós não vivemos neste tribunal, vivemos?”

      Bom dia ao estimado comentarista e família.

  3. Talvez escrevesse meu amigo Zé Larica algo bem parecido: “Uns fumam, outros bebem; uns se drogam e outros se apaixonam po pessoas ou pela vida. Cada um se arrisca à seu modo, pois eu não escolhi ser vida “loca”… a vida “loca” que sorriu pra mim em uma balada bem loka!!!!!!!”

    “On the Streets of Philadelphia…”
    Ah, a promiscuidade, o vale tudo sexual, o “viver como se não houvesse amanhã, a vida loka da juventude, a irresponsbilidade sexual”, as drogas partilhadas…

    E o pior de tudo é o cabra se infectar em relações “inconfessáveis” e trazer para dentro do sagrado lar “vírus mortais”.

    Ontem e hoje a AIDS; hoje a varíola do macaco…

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