FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

Neste domingo de não mais tirar dentes, rendo uma vez mais minhas homenagens aos construtores da cultura popular nordestina. Ela ainda não bateu pino graças aos esforços de um grupo de abnegados, que efetivam suas pesquisas tirando inúmeras vezes, dos magérrimos próprios salários, o necessário para divulgação dos seus escritos culturais.

Nesse resistente universo, o lugar do folclorista Mário Souto Maior sempre estará no primeiríssimo escalão. Os seus livros NOMES PRÓPRIOS POUCO COMUNS, DICIONÁRIO DO PALAVRÃO e DICIONÁRIO FOLCLÓRICO DA CACHAÇA, subsidiam centenas de pesquisas, que necessitam de trilhas seguras e honestas, distanciadas dos embusteiros pesquisadeiros, macunaímicos e vivaldinos.

Uma das escritas do Mário por mim mais lidas em momentos que muito necessitei remeter o mau humor para a gruta que se partiu foi GEOGRAFIA POPULAR DO PAU ATRAVÉS DA LÍNGUA PORTUGUESA. Trezentas e cinquenta expressões analisadas, sem resvalar para o chulo e o grotesco. Que fazem rir desbragadamente até os moralistas tridentinos de plantão.

Sem obscenizar seu meticuloso ensaio, ele demonstra como o pau contribuiu para as manifestações do nosso brasileiríssimo cotidiano, ainda não de todo tragado pelos importados maneirismos primeiro-mundistas pós-modernistas, repletos de informes, influencers, messengers, facebooks e outras e outras expressões metidas a internacionais.

Ao ler o livro do Mário pela vez primeira, quando ainda éramos companheiros da inesquecível Fundação Joaquim Nabuco, imaginei logo as possibilidades de uma pessoa muito distanciada das raízes da nossa gente entender o significado da frase “no largo da feira de Casa Amarela encontrei o Dr. Fulano a-meio-pau, caindo pelas tabelas”.

Outro dia, uma faxineira declarava para uma madame toda socialite baiana que era pau-pra-toda-obra, indo logo por-cima-de-paus-e-pedras quando algum afoito desejava pôr-os-pauzinhos-ao-sol. E o marido da muito recauchutada como a Gretchen quase cai em desespero, ao ouvir da doméstica, alto e bom som, que estava de olho grande num pauzão e que por conta disso já estava ajeitando os pauzinhos-do-matrimônio. E que o casório aconteceria rapidamente, pois ela gostava mesmo era de pau-na-égua. Pedia apenas ao dono da casa, autoridade de primeira entrância, que fosse na sua vara bulir-com-os-pauzinhos, pois, mais que ninguém, o patrão era especializado em conhecer-o-pau-pela-raiz .

Para não fazer-casa-com-pau-bichado, li, de cabo a rabo, mais de quatro vezes, o imperdível livro do Mário Souto Maior. Também não desejando ser pau-de-amarrar-égua, nem tolerando os que adoram viver-à-sombra-do-pau, fiz questão de ganhar-os-paus para me deliciar, mais uma vez, com a leitura da pesquisa do Mário, meu ex-companheiro da FUNDAJ, pai do Jan Souto Maior e avô do Bruno Souto Maior, dois arretados da Informática, consultores de um montão de gente e empresas, inclusive de burros que nem eu, um metido, vez por outra, a descobrir-o-mel-de-pau na minha área de trabalho.

Tomei ciência que souto, em Portugal, é bosque espesso. E o Mário Souto Maior, folclorista popular de primeira linha, nunca desejou mudar-de-pau-pra-cacete, ficando sempre no bosque dele, convencido de que nem-todo-pau-dá-esteio.

Um autêntico sábio nordestino, o Mário Souto Maior. Agrestino, jamais negou que se um-dia-é-do-pau-o-outro-é-do-machado.

Sinto, vez em quando, uma saudade danada dos papos do sempre lembrado Mário Souto Maior, um pesquisador da cultura popular nordestina muito arretado de ótimo.

2 pensou em “PELA CULTURA POPULAR NORDESTINA

  1. Não tem nem perigo de ter ficado mais ou menos, oxente!
    Ficou pau de dar em doido! Não tem perigo de, numa competição, levar pau porque está pau a pau com os melhores.

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