FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

De um amigo muito fraterno, uma admiração profunda, o GH, analista de sistema, recebi um comentário da Rosa Freire de Aguiar, viúva do saudoso economista Celso Furtado, ex-superintendente da SUDENE. Um texto que merece ser lido e muito bem meditado por todos aqueles pensantes, não ruminantes nem aloprados, que desejam um Brasil muito arretado de ótimo para TODOS que aqui vivem e labutam com dignidade, sempre para o bem coletivo edificando.

Encareço licença do escritor Luiz Berto, amizade que muito prezo, notável coordenador deste independente jornal fubânico, para reproduzir, abaixo, o texto da Rosa Freire de Aguiar:

MILITARES, PODER E DITADURAS: LONGE DA TENTAÇÃO

“Nos anos em que cobri a redemocratização da Espanha, desde a morte de Franco em 1975 até a eleição do socialista Felipe González, em 1982, a questão militar era um tema onipresente. A ditadura de Franco durou 40 anos, as Forças Armadas – especialmente o Exército – estavam coalhadas de oficiais de alta patente medularmente franquistas e de ultradireita. Os dois primeiros governos pós-Franco fizeram grandes reformas, votaram a nova Constituição, mas não conseguiram avançar no front militar. Resultado: em fevereiro de 1981 um alucinado tenente-coronel da Guarda Civil invadiu o Parlamento, de arma em punho, tendo a seu lado 150 soldados, e pôs todos os parlamentares no chão, literalmente, exigindo, para soltar os reféns, que o Exército tomasse o poder.

Cheguei a Madri na manhã seguinte ao golpe e tremi ao conversar com um grupo de velhos exilados que, já de passaporte no bolso, e diante do Parlamento, temiam que os militares voltassem ao poder, obrigando-os a mais um exílio. O receio não era infundado: desde a morte de Franco tinha havido uma dúzia de estados de alerta e sedições potenciais nos quartéis, finalmente abafados.

Tudo isso mudou a partir de 1982, quando Felipe González foi eleito. Seu ministro da Defesa, o economista Narcis Serra, promoveu uma profunda reforma militar que, em poucos anos, afastou de vez a tentação golpista dos militares.

A ideia de González era formar um Exército mais moderno, mais reduzido e mais operacional. A reciclagem deu certo.

A reforma teve três eixos principais:

1. Enterrar de vez a noção de “inimigo interno”, que identificava as correntes de esquerda em todos os seus matizes. Dentro da pátria não há inimigos; inimigos são os que estão más allá de la frontera, e podem ameaçar a pátria; sai o conceito de “inimigo interno”, entra o de “defesa nacional”. Eram essas as diretrizes.

2. Rever de alto a baixo o ensino militar. Multiplicaram-se os contatos entre alunos e professores militares e civis. Lançaram-se programas para levar professores universitários às academias e, inversamente, jovens cadetes às aulas de história e ciências sociais nas universidades. O currículo das academias, que era elaborado apenas por chefes do Estado-maior, passou a ser definido em acordo com o Ministério da Defesa. Simbolicamente, aboliu-se a disciplina “Guerra civil: cruzada contra o comunismo”.

3. Remover das chefias os militares franquistas. Este foi sem dúvida o eixo mais difícil e o mais caro da reforma, pois o governo teve de bancar, com polpudas indenizações, o afastamento de centenas de oficiais superiores. Sob Franco, não havia reforma compulsória, e a Espanha tinha 1300 generais, número maior do que o de todos os exércitos da Europa ocidental. A reforma reduziu pela metade o total de generais, e diminuiu de 250 mil para 90 mil os efetivos do Exército. As promoções passaram a obedecer a critérios profissionais e não apenas de antiguidade.

A reforma ainda incluiu mudanças profundas na Justiça Militar, na disciplina dos quarteis etc.

A reciclagem deu certo. Muito hábil e prudente, Felipe González neutralizou o antagonismo de um Exército que ainda era dado a espasmos golpistas.

Gonzalez era desses que afirmavam, com razão, que com militares ou se manda ou se obedece.

E lembro de um grande intelectual espanhol que repetia à exaustão:

CIVILIZAÇÃO VEM DE CIVIL!”

PS. Saibamos, os brasileiros de todas as têmporas pacifistas democráticas libertadoras, trilhar os melhores caminhos para um amplo desenvolvimento socioeconômico nacional, sempre a favorecer o que nos ensinou o apóstolo mais jovem do Senhor (Jo 10,10).

5 pensou em “PARA O BEM DO BRASIL

  1. A esquerda canalha já conseguiu uma das suas grandes metas: AVACALHOU TOTALMENTE AS FORÇAS ARMADAS!

    Agora, nosso professor stalinista vem de sugerir que as FFAA sejam infiltradas de cabo a rabo com os propagandistas do bolchevismo, através de professores universitários (doutrinadores – Comissários Políticos ?????).

    Será o último prego no caixão do nosso malfadado país.

  2. Eu penso que só defende o comunismo aquele que nunca viveu num país comunista ou que se deixou levar por uma propaganda política massificadora como eu que cheguei à universidade nos anos 1980 com todos os conceitos disponível.
    Li, de cara, os livros de Frei Betto (cartas da prisão, batismo de sangue, Fidel e a religião). Troquei o Jesus de amor e perdão, por esse de cartucheira atravessada no peito e fuzil na mão. Li A ilha de Fernando Morais, li Meu Filho Che. Fui petista. Filiado. Votei em Manoel da Conceição pra governo do estado em Bruno Maranhão pra senador. Pedi votos pra Gregório Bezerra.
    Um dia veio o mensalão e eu entendi que estava compactuando com meros ladrões. Um dia um amigo meu, doutor em Física, começou a relatar como era a vida dele e da família sob o comunismo na Romênia e como eles conseguiram fugir. Um dia eu lu depoimentos de vítimas de Che em Cuba. Um dia eu vi o muro de Berlim cair sob a ação de um povo que sempre fugiu do lado oriental para o ocidental, nunca ao contrário.
    Hoje eu vejo o hemisfério sul mais pobre, vejo o nordeste fudido sendo administrado por esse sentimento de esquerda aplaudido apenas por quem renda líquida e certa. Lamentável que os livros tragam lições de quem só leu livros.
    Eu joguei no lixo minha ideologia já faz muito tempo. Cazuza queria uma pra viver. Pra mim, foda-se.

    • Caríssimo Assuero:
      Todo ser humano pensa, para fazer o bem ou o mal. E há, em cada um de nós, cercas morais que abrangem todas as culturas, sendo fonte de valore universais para o século XXI. Respeito as opiniões de todo mundo, aprovando umas e defenestrando outras, percebendo sempre que o nível ideacional de cada um depende da sua convivialidade comunitária. Sua opiniões são valiosas sempre.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *