CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Pablo Milanês (1943-2022) com a pequena Lynn e a esposa nos anos 1970

Encantou-se no dia 22 de novembro de 2022 na cidade de Madrid, Capital da Espanha, Pablo Paulo Milanés Arias – Pablo Milanés, aos 79 anos, o compositor de Yolanda, uma das músicas românticas mais executadas nas rádios e programas de TV dos anos setenta, oitenta, noventa e lá vai o trem, que o canto e compositor cubano fez para sua então esposa Yolanda Benet, que acabara de da à luz à Lynn, a primeira filha do casal e que ele não pôde assistir ao parto, pois estava viajando a compromissos.

Chico Buarque versificou Yolanda para o português, mantendo a mesma essência da canção e a interpretou magistralmente com a cantora Simone, fazendo a canção conquistar o Brasil inteiro.

O crítico musical, ex JC, José Teles, prestou uma grande homenagem a Pablo Milanés em crônica recentemente publicada, que segue reproduzida abaixo:

“Uma das canções mais tocadas do repertório de Chico Buarque é a versão que ele fez para Yolanda, do cubano Pablo Milanés, cuja morte foi anunciada nesta terça-feira, 22 de novembro. Ele estava com 79 anos, e morava há alguns anos em Madri. Mudou-se para a capital espanhola pelas melhores condições que oferecia para o tratamento da doença hemato-oncologica contra a qual lutava há alguns anos (submeteu-se também a um transplante de rim).”

“Um dos principais nomes da Nueva Trova, movimento renovador da canção de Cuba, fez amizade com Chico Buarque, nos anos 70, quando este foi à ilha para participar de uma comissão julgadora do prêmio literário La Casa de Las Americas, o que rendeu parceria, e a divulgação do trabalho de Milanés no Brasil.”

“Iolanda (sem o “y” na versão em português) foi um dos maiores sucessos de Simone, e continua sendo obrigatória em seus shows. Foi gravada por ela, com participação de Chico Buarque, no álbum Desejos, de 1984. Pablo Milanés teve uma popularidade no Brasil que raros artistas cantando em espanhol obtiveram desde os áureos tempos do bolerão. Da música cubana, Antes dele, somente Bienvenido Granda, “El bigode que canta” nos anos 50 e início dos 60.”

“Milanés foi gravado por muita gente da MPB, Fagner, MPB-4, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Jessé, Miúcha, Diana Pequeno, a lista é longa, e inclui sertanejos, e bregas. O próprio Milanés gravou um disco ao vivo no Brasil, com participações de Elba Ramalho, Chico Buarque e Caetano Veloso.

Apologista ferrenho da revolução cubana, e de regimes de esquerda da América Latina, Pablo Milanés não fazia o tipo “uns mandam, outros obedecem”, pelo contrário. Ele condenava os desvios do regime. Denunciou os métodos stalinistas implantados no governo de Fidel Castro, em seu rígido alinhamento com a então União Soviética. Foi confinado, num campo de concentração, na província de Camagüey, com artistas, intelectuais, homossexuais, religiosos, pessoas não sintonizadas com as normas do governo.

Em 2015, ao jornalista Maurício Vicenti, do El País, Pablo Milanés falou, sem dissimulação, sobre os quase três anos em que esteve preso:

“Nunca me perguntaram tão diretamente sobre as UMAP (ironicamente, Unidades Militares de Ajuda à Produção). A imprensa cubana não se atreve e a estrangeira desconhece a nefasta transcendência que aquela medida repressora de caráter puramente stalinista teve. Estivemos ali, entre 1965 e finais de 1967, eu e mais de 40 mil outras pessoas, em campos de concentração isolados na província de Camagüey, realizando trabalhos forçados desde as cinco da madrugada até o anoitecer, sem nenhuma justificativa nem explicações, e muito menos o perdão que estou esperando que o Governo cubano peça.

Eu tinha 23 anos, fugi do meu acampamento — e me seguiram mais 280 companheiros que estavam presos no mesmo território que eu — e fui a Havana para denunciar a injustiça que estavam cometendo. O resultado foi que me enviaram por dois meses à prisão de La Cabaña, e depois fui transferido para um acampamento de castigo pior que as UMAP, onde permaneci até que essas unidades fossem dissolvidas devido à pressão da opinião internacional”. Porém, Pablo considerava estes percalços acidentes de percurso, afirmando que não ser revolucionário seria trair sua própria consciência.

Lynn e Yolanda Benet

Há pelo menos 50 gravações de Yolanda no Brasil, realizadas por nomes dos mais diversos nichos, da Citada Simone a Lairton dos Teclados, Chrystian & Ralf, Glória Maria, Sonia Santos, Elymar Santos, Selma Reis, Guto Franco (filho de Moacir Franco), Elba Ramalho entre muitos outros intérpretes.

Yolanda foi composta em 1970. Pablo Milanés era casado com uma produtora de cinema e TV, Yolanda Benet. Ele estava em turnê quando nasceu sua primeira filha, Lynn. A saudade da mulher, e a vontade de ver a filha, o inspiraram a compor a canção, tão popular no Brasil que muita gente acredita que é de Chico Buarque. Iolanda é cantada em coro nos shows de voz e violão pelos barzinhos país afora, ao lado de eternos sucessos feito Amélia (Ataulfo Alves/Mario Lago), ou Mulher Brasileira (Benito di Paula).”

Yolanda com Chico Buarque e Pablo Milanez

9 pensou em “PABLO MILANÉS – O CUBANO APAIXONADO PELO CAPITALISMO

  1. Pablo apoiou no início, mas não concordou com o rumo que a revolução cubana tomou. Foi preso, isolado em um campo de trabalhos forçados, mas não desistiu do comunismo.

    …”Pablo considerava estes percalços acidentes de percurso, afirmando que não ser revolucionário seria trair sua própria consciência.”

    Hoje só quem tem mais que 40 anos ou frequenta botecos com músico de violão sabe quem é Chico ou Pablo.

    Pablo se foi, Chico ainda acredita que o comunismo é legal. Ele é um legítimo representante da esquerda caviar.

    • João Francisco, meus parabéns pela complementação.

      Chico é gênio. Não precisava “negociar” o caráter dele por nada nessa vida terrena, mas a grana fácil, advinda da Lei Rouanet, fez com que ele autorizasse o canalha nove dedos, filho de Caetés, repetir o pênalti no Polytheama, campo-teatro futebolístico das trocas de favores entre petralha e emibebistas.

      Bom dia, mestre!

    • Chico é gênio como letrista!

      Quando se for, vai deixar um legado extraordinário à MPB.

      Infelizmente tem um caráter duvidoso em se tratando de grana fácil advinda da Lei Rouanet. Sua cobertura em Paris, onde vai comer ou lamber a Janja dele, o comprova.

      Mas, mesmo assim, merece admiração! Não é gênio espalhafatoso.

      “CONSTRUÇÃO” é uma obra-prima, espécie de “Por um Punhado de Dólares,” do genial Sergio Leone.

  2. Chico é gênio por uma fatalidade genética!
    Foi criado ouvindo as preleções do Aurélio do dicionário, seu tio, e do Sérgio (Raízes do Brasil), outro gênio, desta vez da história brasileira, juntamente com a plêiade do que havia de mais representativo na cultura brasileira, a turma de amigos de seu pai que se reunia costumeiramente em sua casa.
    É uma pena que tenha se transformado no espectro daquilo que já foi.
    A tentação do dinheiro fácil é muito difícil de resistir.
    Tinha tudo para ser o Bob Dylan brasileiro.

  3. Eis a grande diferença para o que eu penso e de vocês, caros colegas de JBF.

    Já paguei muito pau para Chico nos idos dos anos 70 e até 86, quando do famoso programa dele e do Caetano na Globo, que assisti todos. Achava ele gênio e estas coisas todas.

    Depois fui vendo as coisas de outra forma.

    Garoto rico mimado na juventude que roubou um carro e precisou ser buscado na delegacia por uma das irmãs.

    Os dois pais intelectuais famosos fundaram o PT junto com Golberi, colegas da USP e padres esquerdóides no final dos anos 70 e buscaram um operário para representar o partido. No início era para ser Manoel Fiel Fº, que foi morto pois era intelectual demais. Depois acharam um metalúrgico ganancioso de nome Luís Inácio,

    Chico sempre foi privilegiado pelo Sistema, ganhou prêmios que não deveria. Cito dois; o FIC de 66 quando depois de uma estrondosa vaia do Maracanãzinho dividiram o 1º lugar com Disparada do Vandré.

    Depois teve os prêmios Jaboti e Camões ganhos por livros escritos sem muito brilho.

    Enfim, a meu ver, Chico não “se vendeu”, não foi enganado pela esquerda, ele faz parte dela, do sistema, ou seja, é uma farsa.

  4. A questão de Chico não vem da lei Rouanet. Essa lei é de 1991 e a grana dele vem primeiro da própria família. Chico sempre teve um público cativo que lhe endeusou e que não se fez de rogado pra pagar R$ 700,00 num ingresso do seu show aqui em Recife. Ganhou dinheiro com peças, ganhou jaboti, mesmo que fosse dito que houve privilégio. Fez música pra cinema e explorou em benefício próprio a ideologia. Millôr no roda viva disse que não tinha raiva dele, mas desconfiava de quem ganhava dinheiro com ideologia. Realmente é a nata da esquerda caviar.

    • Caro Assuero, vejo que v. já saiu da Matrix e está enxergando as coisas como elas são.

      Não é à toa que nossa cultura se atrasou tanto nos últimos 100 anos ao ponto de chegar onde estamos, com uma mediocridade literária, no cinema, teatral, TV. Na música então.. Todos tendo que viver do Estado.

      Começou em 1922 na tal de semana do modernismo em SP, depois se rendeu ao comunismo.

      Não temos relevância mundial em quase nada culturalmente neste período, com honrosas e raras exceções.

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