“Cambitos para carga em animal” refere-se a ganchos de madeira usados para transportar cargas sobre animais, como burros, cavalos e mulas. Esses ganchos, também conhecidos como “ganchos de madeira”, são colocados sobre a cangalha (uma estrutura que se fixa no animal) e servem para fixar a carga, como lenha, capim, ou outros materiais”.
Cambitos
A rotina funcionava como um desenho. Todo ano, no último dia de aulas na escola, a entrega – via de regra com alegria – do calhamaço de provas e as boas notícias da aprovação. Naqueles tempos, os alunos eram aprovados, porque aprendiam. Diferente de hoje.
A chegada em casa sequer merecia parabéns, pois a boa notícia, repito, era a rotina.
– Vamos viajar amanhã, cedinho. As passagens já estão compradas. Vá dormir cedo, mas antes arrume a mala (ainda não haviam inventado a valise, tampouco aquela maleta com rodinhas e puxador de mão) com as coisas que vai precisar. Ordenava a mãe.
No dia seguinte, sem o cantar do galo, mas, mal dormido pela ansiedade da viagem – o ônibus saía da Cidade da Criança às 8 horas, em ponto – o café preto com pão sem manteiga, na verdade representava um desenho da alegria da chegada na casa da Vovó, onde café torrado em casa, leite de cabra fervido, cuscuz feito no prato, coalhada e batata doce cozida compensavam o café preto de casa.
A viagem era rápida. Demorada era a caminhada no caminho cheio de terra que nos obrigava a retirar os sapatos para poder caminhar mais rápido, antes que o sol esquentasse.
Na chegada na casa da Vovó, o café era reforçado. O Avô, como presente por mais uma aprovação na escola, preparava uma baladeira nova, feita com a melhor borracha de câmara de pneu. O neto ganhava, também, um badoque cheio de pedras para a baladeira. A alegria era explosiva. Presente melhor, nunca houve.
Eis que, passada a alegria da chegada era iniciada a preparação para a rotina do dia seguinte:
– Zezim, meu fio, vá pegar o jumento na capoeira, aprepare ele e vá buscar dois caminhos d´água! Se avexe menino, se não o animal vai muito longe!
Aquele trabalho fazia parte da alegria rotineira das férias. Havia algum tipo de trabalho para compensar os nacos de rapadura, as cuias de farinha com açúcar e, às vezes, até as mariolas compradas pelo Avô no dia anterior.
Jumento “Pretinho” carregando água
O primeiro “caminho d´água” era para os afazeres domésticos. O segundo era para encher os potes de beber e as quartinhas – uma ficava na janela, para refrescar com a batida do vento – e a sobra enchia a terrina que ficava na sombra. Era para as aves e no fim de tarde para molhar a frente da casa antes de ser varrida.
As conversas eram postas em dia entre os avós e a mãe.
Eu ia usufruir da baladeira nova e do badoque de pedras. Conseguia matar algumas rolinhas “caldo de feijão”, e ainda voltava para tomar banho nu no açude. Aproveitava para atirar nas galinhas d´água e marrecas que se fartavam com a água do açude.
Voltava, sempre, antes do anoitecer. Bem na hora do jantar estar botado na mesa – onde todos comiam à vontade depois das orações de agradecimento. Sem telefone celular.
Panelas areadas e postas à secar
Quem vinha da cidade grande para passar férias no interior, trazia sempre alguma novidade. Mamãe comprava no prestamista (pagamento mensal) algumas panelas e outras vasilhas para a Vovó.
Tudo de alumínio. Antes do uso, eram escaldadas (na água fervente) e areadas com sabão, areia lavada e esponja de cerca. Depois, eram postas a secar e a brilhar no sol!
O que acontecia de ruim, era que aqueles trinta dias passavam mais rápido que a chuva fininha do verão – quando achávamos que deveriam demorar mais que enxaqueca menstrual das mulheres.
No último dia, a rotina. Arrumar a mala para a volta. Agora, tinha um apetrecho a mais: a baladeira nova presenteada pelo Avô.