Vicente do Rego Monteiro nasceu em Recife, PE, em 19/12/1899. Escultor, desenhista, artista gráfico, muralista, poeta, dançarino e um dos pintores pioneiros ao retratar o Brasil indígena. Renomado no mundo, trouxe-nos o Modernismo na “Semana de Arte Moderna de 1922”, em São Paulo e na “Exposição Internacional de Arte Moderna”, em 1930, no Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.
Membro de uma família de artistas, sua mãe era prima do pintor Pedro Américo. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1908 e ingressou na Escola Nacional de Belas Artes ainda criança. Foi iniciado na arte sob a orientação de sua irmã, a também pintora Fédora do Rego Monteiro. Em 1913 foi à Paris e participou do Salon des Indépendents, do qual se torna associado e manteve contatos com os modernistas Modigliani, Joan Miró, Fernand Léger Georges Braque etc.
Na volta ao Brasil, em 1914, passou a residir no Rio de Janeiro. Sua primeira exposição individual se deu no Teatro Santa Isabel, em 1918, no Recife. Pouco depois expôs no Rio de Janeiro e São Paulo, revelando seu interesse por lendas e costumes da Amazônia. Seu interesse pela cultura indígena e paixão pela dança, conduzem-no ao espetáculo Lendas, crenças e talismãs dos índios do Amazonas, no Tetro Trianon, no Rio de Janeiro em 1921. Pouco antes, expôs algumas de suas obras em São Paulo e travou contato com o grupo de modernistas, abrindo caminho para sua participação na Semana de Arte Moderna de 1922, onde expôs 8 obras inspiradas na cerâmica marajoara e cultura indígena.
Mudou-se, de novo, para Paris e realizou desenhos, ilustrações gráficas e figurinos. Após longa temporada, retornou ao Brasil, em 1930, trazendo a exposição da escola de Paris, a primeira mostra internacional de arte moderna no Brasil, incluindo Picasso, Braque, Miró, Gino Severini e Fernand Léger. Pouco depois fixou residência no Recife, alternando períodos no Brasil e França até 1950. Em 1941 publicou suas primeiras poesias no livro Poemas de bolso, seguido da promoção de vários salões e congressos de poesia no Brasil e na França, com a colaboração de João Cabral de Melo Neto e Ariano Suassuna. Animado o novo talento, fundou a Editora La Presse à Bras, para publicar poesias brasileiras e francesas em 1946. Em Paris, recebeu o Prêmio Guillaume Apollinaire pelos sonetos reunidos no livro Broussais – La Charité, publicado em 1960.
Além de grande pintor, poeta, escultor… era um bom dançarino tendo vencido muitos concursos de dança de salão em Paris. Sua paixão por carros levou-o a disputar o Grand Prix do Automóvel Clube da França. Gostava de engenharia mecânica, chegando a construir um planador. Gostava também de cachaça, pois chegou a fabricar aguardente no Recife. Como se vê, era um artista completo. Algumas de suas obras: Goleiro, A mulher sentada, Os calceteiros, Maternidade indígena, Burro de carga de telhas, Mulher com galinhas, O artesão, Leda e o cisne, A mulher e o galgo, Adoração dos Reis Magos, O aguardenteiro, O vaqueiro…
Seu amigo João Cabral dedicou-lhe este poema:
Esse recifense em Paris
taquigrafou (como Miró)
o magro e o nu, o inexcessivo
de onde nasceu e se exilou;
e essa parca caligrafia
de recifense soube apor
aos verdes podres do alagado,
traduzindo o que é lama em cor.
Segundo a crítica, “sua pintura é marcada pela sinuosidade e sensualidade. Contido nas cores e contrastes, suas obras nos reportam a um clima místico e metafísico. A temática religiosa é frequente em sua pintura, como em Pietá e Crucifixão, de 1924, além de cenas do Novo Testamento, com figuras que, pela densidade e volume, se aproximam da escultura”. Ele mesmo, dizia que “Minha pintura não poderia existir antes do cubismo, que me legou as noções de construção, luz e formas. Minhas influências: O futurismo, o cubismo, a estampa japonesa, a arte negra, a escola de Paris, nosso barroco, e sobretudo a arte do nosso ameríndio na ilha de Marajó.”
Suas obras estão expostas em museus e galerias em todo o mundo. Realizou 30 exposições individuais, 52 coletivas e 134 póstumas. Foi professor na Escola de Belas Artes da UFPE, em 1957-66, e no Instituto de Artes da UnB entre 1966-68. Faleceu em 5/6/1970 em sua cidade natal. Sua vida, legado e obra ficaram registradas em muitos livros, artigos, textos acadêmicos e na obra de Walter Zanini – Vicente do Rego Monteiro: artista e poeta 1899-1970 -, publicada em 1997 pela Empresa das Artes.
Quero registrar aqui, o meu apreço pela coluna e o colunista José Domingos, que toda semana nos presenteia com parte da nossa história, muita vezes desconhecida ou esquecida. Parabéns.
Grato Beni pelo seu registro. É bom saber que a coluna conta leitores qualificados. Aguarde mais nomes menos conhecidos, porém relevantes.
Bom como sempre. Parabéns, mestre José Domingos.
O grande biógrafo Rui Castro é um radical na desqualificação da Semana de Arte Modesta de 1922, chegando a afirmar que a boêmia do Rio de Janeiro teve mais progresso para a arte contemporânea do que o evento realizado em São Paulo.
Interessante que esse movimento realizado no Rio de Janeiro, se teve alguma importância, somente Rui Castro viu.
Ao trazer novo personagem que influenciário a Semana de Arte Moderna com todos os seus gênios, como agora Vicente Monteiro, que participou ativamente da semana, o mestre nos mostra mais um personagem digno da Semana de Arte Moderna.
E no Rio de Janeiro, só o Rui Castro enxerga.
Autoelogio por ser carioca ou inveja por não ser sampista?
Obrigado mestre, por mais ela aula cultural.
Pois é Cicero
Gosto muito do cronista Ruy Castro, mas não vejo graça no seu ufanismo pelo Rio. Ele é carioca por adoção, poie é mineiro.
São Paulo sabe que o Rio é a cidade maravilhosa e não compete com ele.