JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Martim Afonso Tibiriçá, nome de batismo cristão dado pelo Padre Anchieta ao líder indígena tupiniquim, nasceu em fins do século XV em São Paulo, SP. O nome homenageia Martim Afonso de Souza, fundador da vila de São Vicente. É considerado na História como um dos fundadores da cidade de São Paulo, em 1554, devido a sua colaboração com os jesuítas Manuel da Nóbrega, José de Anchieta e Manuel de Paiva.

Seu nome significa “vigilante da terra” na língua tupi, e sua aproximação com os portugueses ocorreu por volta de 1510, quando João Ramalho chegou ao planalto, vindo do litoral. O cacique ofereceu (em casamento) ao náufrago ou degredado sua filha Bartira, com quem viveu 40 anos e teve uma grande família, constituindo-se na primeira geração dos colonizadores paulistas. Além do casamento desta filha, o cacique manteve boas relações de parentesco com os portugueses, concedendo-lhes o casamento com outras duas filhas.

O nome Tibiriça está na raiz de 16 gerações de mamelucos, muitos deles tornando-se paulistas quatrocentões, constituindo um novo povo. Mais tarde uma ala da ilustre família Almeida Prado trocou o nome pelo do cacique e um destacado membro – Jorge Tibiriça – foi governador do Estado em 2 ocasiões. Em 1554 colaborou com os jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta no trabalho de fundação da vila de São Paulo e instalou-se com sua tribo próximo deles, no local onde hoje se encontra o Mosteiro de São Bento. Durante muito tempo, a rua São Bento foi chamada Rua Martim Afonso. Consta a História que o próprio cacique e seus índios ajudaram na construção do colégio ali instalado.

Assim naquele ponto da colina, onde de um lado temos o rio Tamanduateí e de outro tínhamos o riacho do Anhangabaú, formou-se a vila, que resultou na fundação da cidade (25/1/1554). Tudo começou com um colégio de padres rodeado de habitações indígenas sob o comando do cacique Tibiriça. Segundo Roberto Pompeu de Toledo, em seu livro A capital da solidão: uma história de São Paulo (Ed. Objetiva, 2003), o padre Anchieta declarou que o cacique “não mereceria apenas o título de benfeitor, mas ainda o de fundador e conservador da Casa de Piratininga”.

Graças ao cacique, os jesuítas puderam agrupar seus primeiros neófitos naquela redondeza, atual centro antigo de São Paulo. A maior prova de sua fidelidade aos jesuítas se deu em 9/7/1562, quando o cacique liderou o povoado na defesa do maior ataque de índios de outras tribos. Articulou o apoio de três aldeias; formou um exército e venceu os inimigos numa luta sangrenta. O episódio -quase ignorado nos livros de História- ficou conhecido como a “Guerra de Piratininga”

O curioso nessa história é que o grupo dos índios invasores era comandado pelo cacique Araraiga, irmão de Tibiriça. O plano de invadir a vila dos jesuítas foi comunicado previamente pelo sobrinho Jaguanharon, a fim de salvar família do tio. Tibiriça logo avisou os padres, que tiveram tempo de pedir reforços em Santos e salvar a vila do ataque. Vê-se que não havia consenso entre todos os índios sobre a presença dos jesuítas naquele território. Entre os revoltosos encontravam-se alguns índios que já viviam nas aldeias próximas, que tinham como chefe o próprio irmão de Tibiriça

Pouco depois desse combate, uma epidemia de peste negra infestou a vila de São Paulo e algumas aldeias do planalto paulista, vitimando o velho cacique em 25/12/1562. Os jesuítas providenciaram um honroso funeral e seu corpo foi sepultado na igreja. Hoje seu túmulo encontra-se na cripta da catedral da Sé, no mesmo local onde estão sepultadas outras importantes figuras da história paulista.

Foi homenageado com o nome dado a alguns logradouros da cidade e a rodovia estadual SP-031, ligando a região do ABC ao Alto Tietê. Consta também mais uma homenagem com um projeto de lei tramitando na Câmara dos Deputados, que solicita a inscrição de seu nome no “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”, localizado no Panteão da Pátria e da Liberdade, ao lado da Praça dos Três Poderes, em Brasília.

3 pensou em “OS BRASILEIROS: Tibiriça

  1. Grande Tibiriçá, incluído justamente, i.é, com justiça no Memorial dos Brasileiros.
    Receba, caro colunista, minhas congratulações

  2. Grato Affonso pela visita ao Memorial.
    Você e o Padre Anchieta estão com a razão. Tibiriçá foi o primeiro dos grandes paulistas.

    Abs.
    Brito

  3. Meu amigo, o historiador Carlos Caio Gomes Carneiro, me disse que o cacique Tibiriçá foi um traidor de seu seu povo ao lutar ao lado dos portugueses na conquista das terras brasileiras, no século XVI.,
    Eu lhe disse que se ele não tivesse cometido a traição ou aliança com os portugueses, nós não estaríamos aqui falando disso.

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