JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

José Gomes Pinheiro Machado nasceu em Cruz Alta, RS, em 8/5/1851. Advogado, jornalista e militar-civil ou vice-versa. Foi um dos políticos mais influentes da República Velha (1889-1930) e recebeu o epiteto de “o condestável da República”. Na condição de senador, e devido ao seu poder e influência, era visto como um símbolo da “política dos governadores”.

Filho Maria Manoela de Oliveira Ayres e do deputado federal Antônio Gomes Pinheiro Machado. Estudou na Escola Militar e aos 15 anos largou o curso para lutar, como voluntário e contra a vontade do pai, na Guerra do Paraguai. Afastou-se do Exército em 1868 e passou a viver na fazenda da família até meados da década de 1870. Em seguida foi viver em São Paulo afim de ingressar na Faculdade de Direito, concluindo o curso em 1878. Durante o curso, e interessado na política, juntou-se a alguns colegas, criou o Clube Republicano Acadêmico e fundou o jornal A República.

Logo após formado, casou-se com Benedita Brazilina da Silva Moniz, voltou para o Sul e passou a viver em São Luiz Gonzaga, onde montou escritório e fundou o primeiro partido republicano da província junto com Venâncio Aires, Demétrio Ribeiro, Apolinário Porto Alegre, Ramiro Barcelos, Joaquim Francisco de Assis Brasil e Júlio Prates de Castilhos, seu grande amigo. Com a Proclamação da República (1889), foi eleito senador e passou a viver no Rio de Janeiro. Em 1893, com a Revolução Federalista em seu estado, decidiu licenciar-se do cargo para assumir o comando da Divisão Norte. Com sua experiência em combates, foi bem-sucedido na Batalha de Passo Fundo, ganhou a patente de general de brigada honorário e retornou ao Senado.

Sua primeira articulação política se deu com o presidente Deodoro da Fonseca. A pedido de Júlio de Castilhos tentou convencê-lo a moderar o relacionamento com os políticos, apelando em nome do Rio Grande do Sul para que não fechasse o Congresso Nacional. O diálogo não logrou sucesso, mas impressionou o então presidente. Em 1897 ocorreu o atentado contra o Presidente Prudente de Morais e ele foi acusado de ser o mandante junto com Francisco Glicério. Foi preso por alguns dias, mas logo foi solto devido à falta de provas. No início da República o ambiente político era bastante conturbado e os partidos eram organizados apenas em âmbito regional. Com sua influência e ambição ampliou o âmbito político com a criação do PRC-Partido Republicano Conservador Nacional.

Em 1902 tornou-se vice-presidente do senado e passou a coordenar a Comissão de Verificação de Poderes, um simulacro de tribunal de justiça eleitoral. Com tal poder em mãos, conseguiu eliminar diversos mandatos parlamentares de alguns adversários. No período, que foi até 1914, seu poder político atingiu o ápice. Na época havia uma piada contando que Hermes da Fonseca ao passar a faixa presidencial para seu sucessor Venceslau Brás, teria dito: “Olha Venceslau, o Pinheiro é tão bom amigo que chega a governar pela gente”. Teve intenção de disputar a presidência, mas os oponentes não deixaram. Assim, continuou nos bastidores da política. Seu temperamento era difícil e algumas vezes enfrentou o clamor das ruas. Ao tentar impor o nome de Hermes da Fonseca ao Senado quase foi linchado pela multidão. Num desses “encontros” com o povo, teve sair às pressas. O cocheiro perguntou: “Como devemos sair dessa?”. “Nem tão depressa que pareça fuga, nem tão devagar que pareça provocação”.

Em 8/9/1915, acompanhado pelos deputados paulistas Cardoso de Almeida e Bueno de Andrade no saguão do Hotel dos Estrangeiros, no Rio de Janeiro, foi apunhalado pelas costas por Francisco Manço de Paiva e faleceu. O assassino foi preso e assumiu a autoria do crime sem revelar mandantes. Meses antes, previu sua própria morte numa entrevista ao jornalista João de Rio: “Morro na luta. Matam-me pelas costas, são uns ‘pernas finas’. Pena que não seja no Senado, como César”. Era famoso na política nacional e implacável com seus desafetos. Seu conterrâneo e senador Pedro Simon disse que ele era “um político afastado dos holofotes, mais voltado para a atividade de gabinete e totalmente interessado nas manobras de bastidores e na costura dos grandes acordos políticos. Era uma eminência parda… Quem mandava e elegia presidentes era o Machado, um dos mais influentes políticos da República, de quem hoje ninguém fala.”

Era poderoso também no Nordeste, com suas ligações com o Padre Cícero no Ceará. Através de seus conchavos políticos, colocou o Padre como terceiro vice-presidente estadual da província, ampliando seus poderes na região. Seus embates com Rui Barbosa no plenário do Senado eram frequentes. A “Águia de Haia”, diplomata, jurista e jornalista tinha tudo para ser eleito presidente da República nas eleições de 1910, mas perdeu para Hermes da Fonseca, devido às suas articulações.

Os dois brigavam por qualquer coisa: o estouro do tempo das falas, ofensas infantis e correções gramaticais expostas por Rui, que irritavam ainda mais o “nobre” senador. Foi um político importante para a consolidação da República e foi homenageado com um monumento na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, inaugurado em 1931, além de nomear uma cidade no Rio Grande do Sul. Sua biografia – Pinheiro Machado – escrita numa narrativa quase mítica, foi publicada em 1951 pelo historiador Cyro Silva, editada pela Livraria Tupã Editora. Outra biografia, não menos mítica a julgar pelo subtítulo, saiu em 2018, publicada por seu sobrinho-bisneto José Antônio Pinheiro Machado: O Senador acaba de morrer: a vida e o assassinato de um dos políticos mais importantes da História do Brasil.

4 pensou em “OS BRASILEIROS: Pinheiro Machado

  1. Estimado BRITO!

    Excelente, como sempre, suas pesquisas com esses desconhecidos da historiografia oficial!

    Abraçaço, com ótimo domingo.

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