JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

José de Anchieta nasceu em 19/3/1534, nas Ilhas Canárias, Espanha. Padre jesuíta, gramático, dramaturgo, poeta, historiador e patrono da cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Música. Reconhecido como o Apóstolo do Brasil e um dos fundadores das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, foi declarado co-padroeiro do Brasil, em 2015, na 53ª Assembleia Geral da CNBB-Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e canonizado em 2014, após um processo que durou 417 anos, contando as interrupções.

Criado numa rica família basca, seu pai fazia oposição ao imperador Carlos V e por isto teve que se refugiar nas Ilhas Canárias. Aos 14 anos ingressou no curso de filosofia, na Universidade de Coimbra, e entrou na Companhia de Jesus em 1551. Foi enviado para o Brasil, em 1553, pelo próprio (santo) Inácio de Loyola, o fundador da Companhia. Aportou em Salvador e 3 meses depois foi para a capitania de São Vicente encontrar-se com o Pe. Manoel da Nóbrega. Juntos chegaram ao planalto de Piratininga em 24/1/1554 e no dia seguinte celebraram a primeira missa no povoado, que contava com apenas 130 pessoas. Assim deu-se a fundação de São Paulo na data comemorativa da conversão deste Apóstolo.

Aí foi criado o primeiro colégio dos jesuítas na América, onde passou a viver e trabalhar bastante na catequização dos índios. Ensinou-lhes a língua portuguesa e aprendeu linguagem tupi-guarani; compôs uma gramática própria; escreveu um catecismo e várias peças de teatro e hinos. Consciente da forte impressão que a música produzia nos índios, utilizava-se de canções para a catequese. Escrevia nos idiomas português, latim e tupi-guarani e sua primeira obra Arte da gramática da língua mais falada na costa do Brasil, foi publicada em Coimbra, em 1595. Em 1563, junto com o Pe. Nóbrega negociou a paz entre portugueses e os índios tamoios, que invadiram a colônia de São Vicente. Como prova de seu desejo de paz, entregou-se como refém aos índios e ficou alguns meses entre eles, enquanto a paz era negociada pelo Pe. Nóbrega com a Confederação dos Tamoios. Foi nesse período que escreveu seu famoso Poema à Virgem Maria nas areias da praia, em Ubatuba.

Conseguida a “Paz de Iperoig” com os índios, retomou às missões, sempre atento à educação e saúde dos índios e colonos. Ele mesmo padecia de tuberculose óssea, que lhe causou uma escoliose, agravada durante o noviciado. Além da atividade religiosa, teve participação política na luta contra os franceses que invadiram a baía da Guanabara. Em 1566 foi à Salvador convencer o governador Mem de Sá a enviar tropas para o Rio de Janeiro. Sobre este embate, escreveu “De gestis Mendi de Saa” (Os feitos de Mem de Sá), livro publicado em Coimbra, em 1563. Na ocasião foi ordenado sacerdote na Catedral de Salvador, aos 32 anos. No ano seguinte, partiu com o Pe. Nóbrega para o Rio de Janeiro para fundar mais um colégio, do qual foi reitor no período 1570-1573.

Em seguida retornou à São Vicente para catequisar os índios tapuias. Nesse meio tempo redigiu longos relatórios aos superiores sobre sua atividades, repletos de informações sobre os costumes indígenas, a flora, a fauna, o clima e a geografia brasileira. Tais escritos levaram-no a ser considerado um dos primeiros antropólogos e naturalistas do Brasil. Sua vasta obra só foi totalmente publicada no Brasil em meados do século XX. Em 1997, nas comemorações do IV Centenário do seu falecimento, foi publicado o catálogo “Anchieta: obras na Biblioteca Nacional”, onde constam as referências bibliográficas de 42 títulos de sua autoria, 88 títulos de ensaios e biografias e 190 artigos de periódicos sobre ele, excluindo as obras raras e musicais.

Em 1577 foi nomeado superior provincial da Companhia de Jesus no Brasil, onde permaneceu até 1588, e empreendeu diversas viagens pelo País, desde Cananeia até o Recife, para acompanhar as várias missões já instaladas. Tais missões se estenderam até o Paraguai e Argentina. Na época havia 140 missionários da Companhia no Brasil, os quais Anchieta visitava duas vezes por ano enquanto ia criando escolas e casas de caridade, como a Santa Casa de Misericórdia no Rio de Janeiro, fundada em 1582, para dar assistência aos doentes e às vítimas das frequentes epidemias. Após deixar o cargo de superior provincial, foi reitor do Colégio dos Jesuítas de Vitória até 1595. Com a saúde abalada, pediu dispensa de suas funções e foi viver em Reritiba (atual Anchieta), onde veio a falecer em 9/6/1597 e sepultado em Vitória.

Durante as solenidades do funeral foi reconhecido como o “Apóstolo do Brasil” e iniciado o processo de canonização, interrompido em 1634, quando foi decretado a espera de 50 anos para tal. Em 1647 o processo é retomado e 5 anos após foi declarado “Servo de Deus” pelo papa Inocêncio X. Novas interrupções surgem até 1736, quando suas “Virtudes Heróicas” foram declaradas pelo papa Clemente. Em 1773 a Companhia de Jesus é suspensa por 100 anos, devido a perseguição do Marquês de Pombal. O processo só foi reaberto no século seguinte e, finalmente, foi beatificado em 1980 pelo papa João Paulo II e canonizado em 2014 pelo papa Francisco, através de uma “canonização equivalente”. Isto se dá quando o Papa reconhece e ordena culto público universal a um Servo de Deus, sem passar pelo processo regular de canonização formal, porque a veneração ao santo já vem sendo feita desde os tempos antigos e continuamente pela Igreja.

Na homilia, o papa Francisco disse: “ele, juntamente com Nóbrega, é o primeiro jesuíta que Inácio de Loyola envia para a América. Um jovem de 19 anos… Era tão grande a alegria que ele sentia, era tão grande o seu júbilo, que fundou uma Nação: lançou os fundamentos culturais de uma Nação em Jesus Cristo”. O Santo Pe. Anchieta conta com 2 santuários: um na cidade onde nasceu, em San Cristóbal de La Laguna, Ilhas Canárias e outro na cidade de Anchieta, no estado do Espírito Santo, fundada por ele. Em 2015 o local, formado pela Igreja Nossa Senhora da Assunção e pelo Museu Nacional São José de Anchieta, foi declarado “Santuário Nacional”.

10 pensou em “OS BRASILEIROS: Pe. Anchieta

  1. Brito amigo,

    Você continua lascante.

    Li com muita atenção porque eram coisas vistas nos primeiros anos escolares e que eu nem me lembrava mais, além de outras plenamente desconhecidas.

    Obrigado pela aula; sliás, mais uma.

    Bom domingão!

    ce

    • Mestre Plínio
      Grato pelo impulso. Encerramos, por enquanto, esta serie dos “Cabras do Espírito” com o Santo Padre Anchieta.
      Sua condição de catequizador e educador me leva a iniciar outra série com os “Cabras da Educação”.
      Assim, teremos pela frente: Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Paulo Freire……… Zeferino Vaz.
      Caso tenha algum bom nome para incluirmos, por favor envie.

  2. Sem os jesuítas ainda estaríamos desenhando bichinhos em paredes de caverna. Gigante Brito e imenso Anchieta. Sancho vos saúda!!!!!

  3. Felicitações por mais este verbete que enriquece sobremodo nossas letras biográficas, Brito!! Você deu relevo ao espírito de luta e até irredento do primeiro professor do Brasil! Você é um farol que ilumina nosso passado com suas pesquisas que prodigaliza e divide com todos nós que o acompanhamos há anos.

  4. Gabriel
    Tais palavras vindas de um crítico literário, membro da APCA, me deixa ancho que só vendo, como diz o editor do Jornal da Besta Fubana.
    Muito grato

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