JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

José Bento Renato Monteiro Lobato nasceu em 18/4/1882, em Taubaté, SP. Advogado, promotor, empresário, jornalista, editor, tradutor, fotógrafo, pintor e o mais destacado escritor da literatura infantil brasileira. Na condição de empresário foi pioneiro no mercado editorial e criador do livro paradidático. Foi também o primeiro industrial do petróleo brasileiro.

Filho de Olímpia Augusta Lobato e José Bento Marcondes Lobato, foi alfabetizado em casa com a mãe professora e teve acesso a imensa biblioteca do avô materno Visconde de Tremembé. Aos 11 anos ingressou no Colégio São João e aos 14 já dominava o inglês e francês. Aos 16 anos perdeu o pai e aos 17 decidiu viver na capital. Queria ingressar num curso de belas artes, devido ao talento como desenhista. Mas ingressou na Faculdade de Direito, por imposição do avô. Junto com os colegas, fundou a “Arcádia Acadêmica”; tornou-se líder da turma e passou a presidir a “Arcádia”. Foi colaborador do jornal Onze de Agosto, da Faculdade, publicando artigos sobre teatro. Tais artigos resultaram, em 1903, na formação do grupo “O Cenáculo”, integrado por Godofredo Rangel, Tito Lívio Brasil e Ricardo Gonçalves entre outros.

Era um tipo anticonvencional e sem papas na língua. Por essa época venceu um concurso de contos, na Faculdade, com o texto Gens Ennuyeux. Aos 22 anos formou-se bacharel em Direito e retornou à Taubaté, onde passou a ocupar interinamente a promotoria da cidade. Conheceu “Purezinha” (Maria Pureza da Natividade de Souza e Castro), com quem casou-se em 1908. Aos 26 anos, o tino empresarial foi despertado com a associação num negócio de estradas de ferro e passou uma temporada vivendo em pequenas cidades da região. Passou a escrever regularmente, colaborando em jornais, como A Tribuna, de Santos, Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro e na famosa revista Fon-Fon, com caricaturas e desenhos. Os negócios, porém, não prosperavam.

Aos 29 anos, com o falecimento do avô, tornou-se herdeiro da Fazenda Buquira, para onde se mudou com a família. Dedicou-se à modernização da fazenda, mas não era propriamente um “homem do campo” A Fazenda serviu, posteriormente, de inspiração para os personagens de seus livros e se tornou centro de visitação turística. A casa-sede da fazenda ainda se encontra em seu estado original, à margem da rodovia atualmente denominada “Estrada do Livro”, que liga a cidade de Monteiro Lobato à Caçapava. A partir de 1912 sua fama foi se consolidando através de artigos publicados no jornal O Estado de São Paulo e se estabelece em 1914 com a publicação de um artigo – Velha praga – contra as queimadas praticadas pelos caboclos. O artigo repercutiu bem entre os leitores e contribuiu para sua mudança do interior para a capital, deixando de ser fazendeiro para tornar-se escritor-jornalista.

Em fins de 1917 publicou o artigo Paranoia ou mistificação, uma crítica arrasando a exposição de Anita Malfatti, gerando uma polêmica até a Semana de Arte Moderna de 1922. Os modernistas passaram a vê-lo como reacionário. Polemista e nacionalista, ele criticava os “ismos” importados da Europa: cubismo, dadaísmo, surrealismo etc., causando certo estranhamento com os modernistas. Em 1918 publicou o livro de contos Urupês, contendo seu personagem mais conhecido – Jeca Tatu – e considerado sua obra-prima. A tiragem ultrapassou os 100 mil exemplares, um fenômeno até para os dias atuais. Em seguida entrou no ramo editorial, comprando a Revista do Brasil; abriu espaço para novos talentos e tornou-se um intelectual engajado na causa do nacionalismo.

A revista prosperou levando-o à editoração de livros. Dizia que “livro é sobremesa: tem que ser posto debaixo do nariz do freguês”. Encarou o livro como um produto de consumo e caprichou na capa e produção gráfica, além de introduzir novas formas de distribuição. Assim, criou a editora Monteiro Lobato & Cia e entregou a direção da revista a Paulo Prado e Sergio Milliet. Importou novas máquinas impressoras para atender a demanda e ampliou o parque gráfico. Em 1921, atendendo um pedido do presidente de São Paulo, Washington Luís, publicou A menina do narizinho arrebitado e distribuiu gratuitamente 500 exemplares nas escolas.

Por essa época, o País enfrentou uma grande seca levando a uma crise energética. O Governo de Arthur Bernardes promoveu uma desvalorização da moeda, gerando um enorme rombo financeiro e muitas dívidas à editora. A saída foi decretar a falência da editora, em 1925, e criar outra – a Companhia Editora Nacional -, em sociedade com Octalles Marcondes Ferreira e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi dirigir a filial da Editora. A nova editora teve um impacto revolucionário na indústria editorial, conforme declarou: “Fui um editor revolucionário. Abri as portas aos novos. Era uma grande recomendação a chegada dum autor totalmente desconhecido – eu lhe examinava a obra com mais interesse. Nosso gosto era lançar nomes novos, exatamente o contrário dos velhos editores que só queriam saber dos ‘consagrados’”.

A editora começou a investir em títulos educacionais. Os livros tinham a garantia do “selo de qualidade” Monteiro Lobato, com bons projetos gráficos e enorme sucesso de público. Assim, alavancou a publicação de novos sucessos editoriais, especialmente com Narizinho e outras personagens, como Dona Benta, Pedrinho, Tia Nastácia, Visconde de Sabugosa e Emília. Além disso, por não gostar das traduções dos livros europeus para crianças, e sendo um nacionalista convicto, criou aventuras com personagens ligadas à cultura brasileira, recuperando inclusive costumes da roça e lendas do folclore. Desse modo, tornou-se pioneiro na literatura didática com o ensino de história, geografia, matemática, física e gramática como parte de suas histórias.

Antes do auge da editora ocorre nova mudança em sua vida, participando mais efetivamente na política. Enviou uma carta ao recém-empossado presidente Washington Luís -seu amigo paulista-, defendendo os interesses da indústria editorial. O contato reatado rendeu-lhe a nomeação para adido comercial nos EUA, em 1927. Assim, mudou-se para Nova Iorque e deixou a Editora sob a direção de seu sócio. Nos EUA ficou encantado com o progresso e confirmou a tese do presidente: “Governar é abrir estradas”. Na correspondência mantida com o presidente, aconselhava-o a desenvolver atividades semelhantes no Brasil.

(Continua no próximo domingo)

8 pensou em “OS BRASILEIROS: Monteiro Lobato (I)

  1. Monteiro Lobato foi um dos grandes brasileiros do século XX.

    Para mim está entre os 5 maiores junto do Dr. Sobral e do Nelson Rodrigues, Gustavo Corsão e Tristão de Ataíde (grande Alceu).

    Por suas posições nacionalistas e conservadoras se tornou inimigo do Sistema vigente, foi o primeiro autor cancelado pela máfia esquerdista do Brasil.

    Seu contemporâneo Mario de Andrade tinha seu Macunaíma, retrato do herói brasileiro sem caráter, enquanto monteiro Lobato tinha o Jeca Tatu, o matuto do interior, que não era estudado, mas tinha a sabedoria das coisas simples.

    Reinações de Narizinho foi o meu primeiro livro lido.

  2. Excelente, Brito.
    Sucinta, mas recheada de informações pouco divulgadas deste gênio brasileiro, que, valha-me Deus!, não está esquecido.
    Aguardemos com entusiasmo a segunda parte desta bela biografia.
    Abraços,
    Airton

  3. Tenho toda coleção de Monteiro Lobato e meus 4 netos leram e tiveram contato com o mundo mágico deste grande brasileiro.
    Outro escritor da literatura infanto juvenil foi Francisco Marins , obra que também tenho completa
    Obrigado

    • Parabéns Junior
      Você e seus 4 netos foram agraciados com a obra de Monteiro Lobato
      Grato pela visita ao Memorial e aguarde mais grandes brasileiros

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *