JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Joaquim Gomes de Souza nasceu em Itapecuru-Mirim, MA, em 15/2/1829. Matemático, astrônomo, filósofo e político, conhecido pelo nome “Souzinha”, é uma das figuras mais interessantes e esquecidas da História do Brasil. Para o cientista José Leite Lopes, trata-se do “primeiro vulto matemático do Brasil – e talvez o maior até hoje”.

Filho de Antônia Carneiro de Brito e Souza José Gomes de Souza, proprietário do Solar Gomes de Souza, no centro histórico de São Luís, atual Museu Histórico e Artístico do Maranhão. Realizou os primeiros estudos em São Luís e aos 14 anos foi para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Escola Militar da Corte. Mas não se sentiu vocacionado nesta área. No ano seguinte ingressou na Faculdade de Medicina, aos 15 anos, e encontrou na Física e na Química a motivação para suas pesquisas na área da Matemática. Interrompeu o curso de Medicina no 3º ano e passou a dedicar-se como autodidata ao estudo de Cálculo Diferencial e Integral, Mecânica e Astronomia.

Após o 3º ano deixou o curso de Medicina e voltou à Escola Militar para estudar Matemática. Pediu permissão para realizar “exames vagos” de todos os cursos que faltavam para completar o curso de Ciências Matemáticas e Físicas. Nesse intento ganhou a proteção do senador José Saturnino da Costa Pereira, lente da Escola Militar e graduado em Matemática pela Universidade de Coimbra. Foi aprovado com boas notas em todas as matérias e colou grau de bacharel em 1848.

Ao final do ano, solicitou a defesa pública de uma tese sobre o Modo de indagar novos astros sem auxílio de observações diretas, baseada na “Mecânica Celeste” de Laplace, colando grau de doutor em Ciências Matemáticas, com apenas 19 anos. Em seguida foi aprovado no concurso para professor da Escola Militar, tornando-se tenente-coronel e capitão honorário da Escola. Nos anos seguintes dedicou-se, como autodidata, ao estudo da integração de equações diferenciais parciais, equações integrais, usando séries divergentes, e Física Matemática. Em 1855 viajou à Paris e assistiu diferentes cursos de Matemática na Universidade de Sorbonne, em contato com estudiosos franceses e ingleses.

Teve aulas com August Louis Cauchy, o maior matemático de seu tempo. Certa vez o professor apresentou uma equação não integralizável. Souzinha pediu licença timidamente, pegou o giz e demonstrou na lousa onde, por duas vezes, o sábio Cauchy se enganara, sendo levado a concluir erroneamente pela não integralização da equação. Impressionado, Cauchy cumprimentou-o e tornaram-se amigos. Apresentou na Academie des Sciences de Paris os trabalhos: 1) Memória sobre a determinação das funções incógnitas sob o sinal de integral definida, cujo resumo foi apresentado na Royal Society of London, pelo físico G.G. Stokes; 2) Memória sobre a propagação do som e 3) Memória sobre um teorema de cálculo integral aplicado a Física Matemática.

Na ocasião aproveitou o tempo para concluir o curso de medicina na Faculdade de Medicina de Paris. Mesmo estando na Europa foi designado deputado geral pelo Maranhão e casou-se com a inglesa Rosa Edith, em 1857. Retornou à São Luís para tomar posse na Assembleia Geral do Império, onde defendeu projetos voltados à educação. Em 1858 foi nomeado professor de Matemática e de Ciências Físicas e Naturais da Escola Central, sucessora da Escola Militar, e foi reeleito deputado em 1861. Como cientista Souzinha ficou mais conhecido na Europa do que em seu País.

Assim, a divulgação de seus livros se deu a partir da França: Resolução das equações numéricas (1850); Recueil des memoires d’analise mathematiques (1857); Mélanges du calcul intégral (1889) e teve o resumo de seus trabalhos editados postumamente pela Editora Brockhaus, em Leipzig. Seu interesse pela literatura foi manifestado numa coletânea de poesias publicada também pela Brockhaus, em 1859: Anthologie universelle choix des meilleurs poésies lyriques de divers nations dans les langues originales. O livro de 950 páginas surgiu a partir de um encontro que manteve, na Alemanha, com o romancista maranhense Antônio Gonçalves Dias em meados da década de 1850. A conversa girou em torno do lançamento de uma coletânea poética de alta qualidade.

Nos anos seguintes ocorreram tragédias domésticas: sua esposa faleceu e, 2 anos depois, o filho também. A tragédia atingiu-o com uma tuberculose, A doença foi agravada e veio a falecer em 1/6/1864, em Londres, ainda jovem aos 35 anos. No Maranhão é lembrado com um busto de bronze na Praça do Pantheon, em São Luís; tem seu nome estampado em escolas e logradouros da cidade e é patrono da cadeira nº 8 da Academia Maranhense de letras. Em 1996, a FUJB-Fundação Universitária José Bonifácio (RJ) instituiu o Prêmio Joaquim Gomes de Souza, destinado a contemplar os melhores trabalhos apresentados nas Jornadas de Iniciação Científica, Artística e Cultural da UFRJ. É também um dos patronos da Academia Nacional de Engenharia.

Como biografia contamos com artigos e estudos acadêmicos esparsos e textos de alguns entusiastas motivados pela manutenção de sua memória. Gastão Rúbio de Sá Weyne publicou o livreto Joaquim Gomes de Souza – Souzinha entre o cálculo integral e os poemas universais, por inciativa própria, editado em 2012 pela Scortecci Editora. Outro entusiasta -Ubiratan D’Ambrosio- apresentou o trabalho Joaquim Gomes de Souza, o Souzinha (1829-1864) no 3º Encontro da AFHIC-Associação de Filosofia e História da Ciência do Cone Sul, realizado em Campinas (SP) em 2004. Ele finaliza seu trabalho dizendo que “Um estudo da vida e obras da figura fascinante de Joaquim Gomes de Souza falta na historiografia da matemática brasileira”. Encontramos o verbete “’Souzinha’, o maior matemático da história do Brasil”, no link conhecimento infinito.

7 pensou em “OS BRASILEIROS: Joaquim Gomes de Souza

  1. Caríssimo Britão,

    Sua pena, ao evocar brasileiros esquecidos, lembra aos novos historiadores que é preciso que tais personagens estejam sendo apresentados às gerações atuais.

    E cada vez em maior quantidade, sempre com a permanência de quem deseja que os leitores de hoje se mantenham no embalo de tantas leituras profícuas.

    E você o faz de modo especial, dando notáveis aulas de História.

    Aquele abração do Carlos Eduardo

  2. Carlão
    Disseste bem: “evocar brasileiros esquecidos”. É exatamente esse o objetivo do Memorial. De vez em quando divulgo um mais conhecido para lembrar que o Memorial pretende ser completo. Sempre que posso vou deixando os mais conhecidos para o fim
    Grato pelo reconhecimento

  3. Amigo Zé Domingos, estive internado em UTI, de domingo a quinta, coisa de velho mesmo. Por isso, falhei com você na quarta.

  4. Adoro ler seus “escritos” sobre ilustres brasileiros “esquecidos” pela história, isto nos dá orgulho, continue assim. No Brasil de hoje escutamos frases dizendo que “nossos heróis morreram de over dose…” e todos ficam felizes. Triste país…

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