Gregório de Mattos e Guerra nasceu em 23/12/1636, em Salvador (BA). Advogado e poeta conhecido como “Boca do Inferno”, devido ao caráter satírico e sarcástico de seus poemas. É considerado um dos maiores poetas do barroco em Portugal e no Brasil. Foi criado numa família de proprietários rurais, donos de engenhos e funcionários da administração da colônia. Seus primeiros estudos se deram no Colégio dos Jesuítas, em Salvador (1642) e complementados em Lisboa (1650).
Entrou na Universidade de Coimbra em 1652, formando-se em Direito em 1661 e no mesmo ano casou com Michaela de Andrade. 2 anos após, foi nomeado Juiz de Fora de Alcácer do Sal, ao ser atestado como “puro sangue”. No período 1665-66 foi provedor da Santa Casa de Misericórdia, em Alentejo. Em 1668, representou a Bahia na Cortes de Lisboa, seguido do cargo de Procurador da Bahia. Em 1674 foi novamente representante da Bahia nas cortes. Em 1678 faleceu sua esposa, com a qual teve um filho.. Em 1679 retornou à Salvador e foi nomeado Desembargador da Relação Eclesiástica da Bahia, pelo arcebispo Gaspar Barata de Mendonça.
Em 1683, o Rei de Portugal, Dom Pedro II, nomeou-o tesoureiro-mor da Sé, logo após receber as Ordens Menores, tornando-se clérigo tonsurado. No Brasil já se sabia de sua reputação como poeta satírico e improvisador, adquirida em Portugal. No ano seguinte foi destituído dos cargos pelo novo arcebispo, frei João Madre de Deus, por não querer usar batina nem aceitar as imposições eclesiásticas. Por essa época surge o poeta satírico, cronista impiedoso dos costumes, ridicularizando as autoridades civis e religiosas. Satirizava todas as classes sociais chamando-as de “canalha infernal” e apelidando os nobres de “caramurus”. Sua poesia é corrosiva, erótica e até pornográfica, não obstante escrever, também, poemas líricos e até sagrados.
Em 1685, foi denunciado à Inquisição por seus hábitos e modos pouco cristãos. Mas a denúncia não prosperou. O que prosperou foi sua produção poética eivada de críticas e ironias contra os poderosos da colônia. Assim, as inimizades foram crescendo até atingir o governador Antonio Luis Gonçalves da Câmara Coutinho. Correndo o risco de ser assassinado, seus amigos conseguem uma condenação mais leve: a deportação para Angola, em 1694. Lá manteve um relacionamento amigável com o governo local, chegando a colaborar no combate a uma conspiração militar. Como recompensa, seu exílio durou apenas um ano, recebendo o benefício de retornar ao Brasil, porém longe de seus desafetos em Salvador. A partir de 1695 passou a residir no Recife, onde veio a falecer em 26/11/1696.
Em 1831, o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen publicou 39 dos seus poemas na coletânea Florilégio da Poesia Brasileira. A obra restante foi publicada por Afrânio Peixoto de 1923 a 1933, em seis volumes a cargo da Academia Brasileira de Letras, reunidos nos códices existentes na Biblioteca Nacional e na Biblioteca Varnhagem, do Ministério das Relações Exteriores, exceto a parte pornográfica que aparecerá publicada, por fim, em 1968, por James Amado. Em 1972, Caetano Veloso gravou a música “Triste Bahia”, na qual as duas primeiras estrofes são extraídas de um soneto de Gregório de Mattos:
Triste Bahia, oh, quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado
Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado
Rico te vejo eu, já tu a mim abundante
Triste Bahia, oh, quão dessemelhante
A ti tocou-te a máquina mercante
Quem tua larga barra tem entrado
A mim vem me trocando e tem trocado
Tanto negócio e tanto negociante
Em 1986, foi criada em Salvador a Fundação Gregório de Mattos, instituição municipal responsável pela administração de espaços culturais soteropolitanos, como o Museu da Cidade, a Casa do Benin, o Arquivo Histórico Municipal e o Espaço Cultural da Barroquinha.. Em 1990, a escritora Ana Miranda publicou o romance Boca do Inferno, pela editora Cia. das Letras, e ganhou o Prêmio Jabuti de Revelação no mesmo ano e a inclusão do livro na lista dos 100 melhores romances em língua portuguesa do século XX. Além da obra ter sido traduzida para diversos países, foi apontada como uma boa fonte de pesquisa para estudos sobre o Barroco no Brasil. Em 2002, Ana Carolina realizou o filme “Gregório de Mattos”, uma cinebiografia tendo Waly Salomão no papel principal, que pode ser visto na íntegra clicando aqui.
Finalmente, temos em 2014 sua obra completa publicada em 5 volumes pela Editora Autêntica. Trata-se de um conjunto de poemas coletados no Códice Asensio-Cunha que circularam em Salvador nas últimas décadas do século XVII e na primeira metade do século XVIII sob o nome “Gregório de Mattos e Guerra”, então a mais importante autoridade poética local.
Eu estava certo que o Boca do Inferno era português. Grato pela informação
Caro Thomaz
A rigor você não está errado. O Brasil só é um país a partir da Independência, em 1822. Antes disso era uma colônia de Portugal e todos que aí nasceram antes dessa data são portugueses