Cesare Mansueto Giulio Lattes nasceu em 11/7/1924, em Curitiba. Um dos maiores cientistas brasileiros. Físico, codescobridor do “méson pi”, que deu o Prêmio Nobel de Física de 1950 a Cecil Frank Powell, líder do grupo de pesquisa, e fundamental para o desenvolvimento da física atômica. Exerceu forte liderança na criação do CNPq-Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Filho de Carolina Maroni Lattes e Giuseppe Lattes, imigrantes italianos, completou o ensino médio no Colégio Dante Alighieri e se graduou em física aos 19 anos pela USP-Universidade de São Paulo. Teve como professor e mentor o cientista Gleb Wataghin, mestre de uma geração de físicos, como Mário Schenberg, Jayme Tiomno, Oscar Sala e Sônia Ashauer.
Conviveu com os cientistas pernambucanos Mário Schenberg, José Leite Lopes e Leopoldo Nachbin, e costumava brincar dizendo que para ser um grande cientista, só havia duas alternativas: nascer em Pernambuco ou se casar com uma pernambucana. Foi o que ele fez em 1947 ao se casar com a matemática Martha Siqueira Neto, com quem teve 4 filhas e foi o amor de sua vida em mais de 50 anos. Quando ela faleceu, em 14/10/2002, ele declarou “Minha vida acabou”. De fato, foi o que se deu logo após, com problemas cardíacos e pulmonares, que se acumularam até o falecimento em 8/3/2005.
Embora fosse o principal pesquisador e primeiro autor do artigo que descreve o “méson pi”, apenas Cecil Frank Powell -líder do grupo- foi agraciado com o Nobel de Física, não obstante ele ter merecido a premiação devido ao “seu desenvolvimento do método fotográfico de estudo dos processos nucleares e suas descobertas em relação a mésons feitas com este método”. O que impediu que ele recebesse o prêmio foi a determinação da política do Comitê do Nobel, até 1960, de conceder o prêmio apenas ao líder do grupo de pesquisa.
Mais tarde ele declarou: “Sabe por que eu não ganhei o prêmio Nobel? Em Chacaltaya, quando descobrimos o méson-pi, se publicou: Lattes, Occhialini e Powell. E o Powell, malandro, pegou o prêmio Nobel pra ele. Occhialini e eu entramos pelo cano”. Realmente, ele é o primeiro autor citado no artigo, que levou ao Prêmio Nobel. Powell é o último, conforme a referência bibliográfica: Lattes, C.M.G.; Muirhead, H.; Occhialini, G.P.S.; Powell, C.F. (1947). Processes involving charged mesons. Nature. 159 (4047): 694–697. Tal façanha marcou o início de um novo campo de estudos: a física das partículas elementares. Chegou a haver rumores que Niels Bohr teria deixado uma carta intitulada “Por que César Lattes não ganhou o Prêmio Nobel – Abra 50 anos após a minha morte”. No entanto, durante as buscas feitas no Arquivo Niels Bohr, em Copenhague, a carta não foi encontrada.
Não recebeu a premiação, mas entre 1949 e 1954, foi indicado 7 vezes ao Prêmio Nobel de Física. Além de sua atuação na criação do CNPq, em 1951, teve papel destacado na criação do CBPF-Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, em 1949, e do IMPA-Instituto de Matemática Pura e Aplicada, em 1952. Teve participação fundamental no Instituto de Física da USP, onde implantou o laboratório de emulsões nucleares, e na UNICAMP, dirigindo o Departamento de Cronologia, Raios Cósmicos e Altas Energias do Instituto de Física e montou o laboratório de Síncroton.
Apesar de ser crítico de Einstein, suas pesquisas foram fundamentais para o desenvolvimento da ‘Teoria da Relatividade’, pois foram precursoras para a concepção dos ‘quarks’, apresentando fundamentos das teorias sobre a criação e a expansão do universo. Suas contribuições não se restringem ao meio acadêmico. Entre 1945 e 1956, houve uma forte interseção entre ciência e política. Os pesquisadores tinham a noção de que a ciência, para progredir, tem que partir de preceitos políticos capazes de arregimentar apoio logístico e financeiro em questões estratégicas para o desenvolvimento nacional.
De 1950 a 1959, esteve presente na Comissão de Raios Cósmicos da União Internacional de Física Pura e Aplicada, demonstrando a necessidade de integração em parcerias e cooperação entre nações em prol do desenvolvimento científico. Recebeu várias homenagens nacionais e internacionais em reconhecimento ao legado de suas contribuições. Numa das homenagens, o CNPq deu seu nome à “Plataforma Lattes”, uma base de dados de currículos e instituições nas áreas do conhecimento. Trata-se do registro da vida profissional dos pesquisadores, elemento indispensável à análise de mérito e competência dos pleitos apresentados às agências de fomento no Brasil.
Dentre tantas homenagens de instituições científicas, vale citar uma bem popular, como o samba-enredo da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira: “Ciência e Arte”, numa parceria de Cartola e Carlos Cachaça, em 1947. A canção foi regravada em 1999 por Gilberto Gil no álbum Quanta Live, premiado com o “Grammy” na categoria World Music. Contamos ainda com a excelente biografia – Cesar Lattes: uma vida – visões do infinito, de Maria Góes e Tato Coutinho, publicada pela editora Record, em 2024. Neste ano seu nome foi inscrito no “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”. Para conhecer melhor o caráter humano do cientista, vale a pena ver a entrevista concedida por suas filhas. Para ler, clique aqui.
O cara mais injustiçado da ciência brasileira. Descobriu o méson e foi indicado pra o Nobel uma porrada de vezes. Infelizmente nunca obteve. Aqui, a pessoal da academia faz currículo numa plataforma do CNPq chamada Lattes
Grato Assuero pela visita ao memorial. Se tiver alguma sugestão para incluirmos, mande Estou precisando de nome de mulher
Meu “cumpadi”,
Relembrando César Lattes, você “botou para arrombar”.
Nada como trazer aos novos públicos figuras que realmente merecem estar eternamente no pódio dos Grandes Atores da História do Brasil.
Um abração do seu admirador de sempre,
Carlos Eduardo
Carlão
O que você achou de sua frase “Pra ser grande cientista no Brasil só existe duas possibilidades: nascer em Pernambuco ou casar com uma pernambucana”
Pois não isso que ele fez !!!!!
Cabra bom !!!!!!
Grande professor do meu irmão.
Pois é, Guilherme
Seu irmão foi privilegiado em ter o mestre Lattes como professor. A intenção do Memorial é exatamente essa: divulgar os maiores nomes pouco conhecidos do grande público.
Aguarde novos nomes + ou – surpreendentes