Guilherme Fiuza
Felizmente a democracia voltou e venceu a ditadura no Brasil. Ninguém suportaria um regime de conluios a céu aberto entre figuras poderosas da elite e os donos do poder – tudo para beneficiar um extrato de privilegiados em detrimento do povo.
Não, nada disso é possível nos dias de hoje. Imagine, por exemplo, se um cantor famoso desse apoio político ao governo e recebesse um patrocínio milionário de uma estatal? Nem dá para imaginar.
Hoje a classe artística é 100% consciente e jamais entraria em toma lá, dá cá. A poética da defesa dos menos favorecidos, presente em obras famosas da cultura nacional, não seria compatível com atitudes mesquinhas e obscuras em relação à coisa pública.
Já vai longe o tempo em que personalidades famosas aceitariam apagar o passado de políticos comprometidos para auferir vantagens pecuniárias.
Não dá nem para cogitar uma estatal dando prejuízo bilionário e patrocinando amigo do rei – muito menos patrocínio na veia, sem isenção fiscal. Hoje a produção cultural no Brasil é um dos grandes sustentáculos da democracia, e todos sabem que democracia vampirizando o povo não é democracia.
Já pensou se você é um trabalhador simples, com um plano de atendimento hospitalar provido por uma empresa pública, e de repente fica sabendo que o plano parou de atender por inadimplência estatal? Ao mesmo tempo em que a empresa inadimplente está bancando projeto cultural milionário de simpatizantes do governo?
Ufa! Que bom que isso não é possível hoje no Brasil. Seria de revirar o estômago – ainda mais se as apresentações do beneficiário da verba servissem para proselitismo contra os opositores do governo; e se essas apresentações custeadas com dinheiro público de estatal falida só fossem acessíveis a quem pudesse pagar ingressos caros, reforçando o caixa do felizardo amigo do rei. Gente estúpida, gente hipócrita – que felizmente não existe mais.
O tempo passa, o ser humano evolui e a sociedade fica mais justa. O petismo ser um grande investimento hoje para os que dizem defender a democracia, apenas uma década depois de estourar a carnificina da Lava Jato, é a prova de que tudo passa (até o que não passa). Tempo rei.