DEU NO JORNAL

Guilherme Macalossi

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Compre quem quiser a versão oficiosa de que o tarifaço do IOF anunciado por Fernando Haddad foi dialogado. O lulopetismo, entretanto, não dialoga. A não ser entre o seus. Firma sua convicções e as joga sobre a mesa. Quando não caem bem, quando repercutem negativamente, quando obrigam o governo a recuar, quando afetam a periclitante popularidade de Lula, daí aciona-se o modo “erro de comunicação” e, como num passe de mágica, todos os problemas de mérito são reduzidos a meros problemas de modo. Como se não houvesse uma concepção torta de administração a orientar as escolhas. Como se as políticas públicas não fossem fruto de uma visão de mundo.

Se o governo Lula tivesse qualquer intenção de construir uma proposta ao menos coesa sobre a elevação da alíquota do IOF, teria consultado o Banco Central para tirar a temperatura. Mas nem isso. Gabriel Galípolo ficou sabendo pela imprensa, junto com o mercado, que derreteu sob a percepção de que a medida constituía um cepo cambial à moda brasileira. De tal forma que o Ministério da Fazenda correu para revogar uma parte do que acabara de ser anunciado.

Segundo Haddad, o tema IOF era pauta do governo há pelo menos um ano, e foi discutido “na mesa do presidente”. Será que ninguém nesse meio tempo imaginou as consequências de elevar a tributação sobre as remessas de capitais para o exterior? Ou o efeito potencialmente inflacionário de se encarecer a aquisição de crédito para empresas produzirem? Será que na mesa do presidente ninguém ponderou diante do óbvio? Ou será que se sabia de caso pensado e tal decisão foi tomada na base do se “colar colou”?

A fraqueza mais contundente do arcabouço fiscal sempre foi sua dependência estrutural de recordes de arrecadação. Sem o aumento progressivo da receita ele torna-se insustentável. Isso porque a opção do governo sempre foi deixar de lado qualquer compromisso programático com o corte estrutural de despesas.

Empurra-se a conta para depois da reeleição. Já não há mais de onde se tirar dinheiro dos contribuintes para sustentar o governo. Usar um imposto regulatório como o IOF para aumentar o dinheiro em caixa é emblemático de um modelo que se exauriu. “Não é gasto, é investimento”, repetem os petistas. A semântica virou inimiga da aritmética e subterfúgio da contabilidade criativa.

O lulopetismo subestima a sociedade. E acha que seus factoides eleitoreiros serão sempre comprados pelo valor de face. Todos já sabem que o tal compromisso com a responsabilidade fiscal virou um fantasma retórico morto em definitivo no final de 2024. No drama fiscal, que mostra uma trajetória de contração dramática do orçamento livre e crescimento explosivo da dívida pública nos próximos anos, uma conta ajuda a não fechar todas as demais: a da reeleição. E tome tarifaço para viabilizá-la.

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