JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

O passeio na noite parisiense

Não sabíamos nosso destino inicial. Estávamos em Belleville, um bairro de Paris, onde a noite convida para a diversão, para a realização dos sonhos de quem ama. A felicidade do momento, era impagável – ela, vivendo outra vida conjugal e afazeres profissionais e domésticos, resolvera se autopremiar com aqueles momentos de dias diferentes.

Ela vestia um vestido longo para garantir a proteção contra a baixa temperatura. Calçava botas de couro, e um cachecol azul marinho lhe protegia o pescoço. Passos lentos e elegantes garantiam o caminhar de uma dama.

Eu, vestindo uma calça jeans, um sobretudo por cima de uma blusa italiana com fios de lã e um cachecol xadrez, ao tempo que, cortês e cavalheirescamente fazia tudo para que aqueles momentos furtivos valessem à pena. Ambos fugíamos da realidade que vivíamos distante dali.

Mãos entrelaçadas vestindo luvas, diziam bem o que seria o momento quando voltássemos ao aconchego da hospedagem – um simples, mas muito bom hotel.

Os ares noturnos tinham uma magia tipicamente francesa, pós outono e anúncio do inverno. Pairava uma magia que não existe em qualquer lugar, pois Belleville nos oferecia a magia musical de um saxofone tão regulado que imaginávamos muito distante. Era a magia contagiante que a cidade onde nascera Edith Piaf nos oferecia:

La Bohème

Je vous parle d’un temps
Que les moins de vingt ans
Ne peuvent pas connaître
Montmartre, en ce temps-là,
Accrochait ses lilas
Jusque sous nos fenêtres
Et si l’humble garni
Qui nous servait de nid
Ne payait pas de mine
C’est là qu’on s’est connus:
Moi qui criait famine
Et toi qui posais nue.

La bohème, la bohème
Ça voulait dire:
On est heureux.
La bohème, la bohème
Nous ne mangions qu’un jour sur deux

Dans les cafés voisins
Nous étions quelques-uns
Qui attendions la gloire
Et bien que miséreux
Avec le ventre creux
Nous ne cessions d’y croire
Et quand quelque bistrot
Contre un bon repas chaud
Nous prenait une toile
Nous récitions des vers
Groupés autour du poêle
En oubliant l’hiver.

La bohème, la bohème
Ça voulait dire:
Tu es jolie
La bohème, la bohème
Et nous avions tous du génie.

Souvent il m’arrivait
Devant mon chevalet
De passer des nuits blanches
Retouchant le dessin
De la ligne d’un sein
Du galbe d’une hanche
Et ce n’est qu’au matin
Qu’on s’asseyait enfin
Devant un café-crème
Épuisés mais ravis
Fallait-il que l’on s’aime
Et qu’on aime la vie

La bohème, la bohème
Ça voulait dire:
On a vingt ans.
La bohème, la bohème
Et nous vivions de l’air du temps.

Quand au hasard des jours,
Je m’en vais faire un tour
À mon ancienne adresse,
Je ne reconnais plus
Ni les murs, ni les rues
Qui ont vu ma jeunesse
En haut d’un escalier
Je cherche l’atelier
Dont plus rien ne subsiste
Dans son nouveau décor
Montmartre semble triste
Et les lilas sont morts.

La bohème, la bohème
On était jeunes, on était fou.
La bohème, la bohème
Ça ne veut plus rien dire du tout…

“Édith Piaf

Édith Giovanna Gassion, conhecida como Édith Piaf (Paris, 19 de dezembro de 1915 — Grasse, 10 de outubro de 1963), foi uma consagrada cantora, compositora e atriz francesa. O seu ritmo musical era concentrado inicialmente em música de salão e as suas variedades, mas ficou reconhecida pelo seu talento com a música de estilo francês chanson. O seu canto dramático expressava claramente os momentos trágicos que permearam sua intensa história de vida.

A consagrada cantora nasceu como Édith Giovanna Gassion em Belleville, um distrito cheio de imigrantes em Paris. Uma lenda diz que ela nasceu na calçada da Rue de Belleville 72, mas a sua certidão de nascimento cita o Hospital Tenon, que faz parte de Belleville. Ela recebeu o nome de Édith em homenagem a uma enfermeira britânica da Primeira Guerra Mundial que foi executada por ajudar soldados franceses a escapar dos alemães. Piaf, um nome coloquial francês para um tipo de pardal, foi um apelido dado a ela 20 anos depois.

Édith Piaf está sepultada na mais célebre necrópole francesa, o cemitério do Père-Lachaise. O seu funeral foi acompanhado por uma multidão poucas vezes vista na capital francesa. Hoje, o seu túmulo é um dos mais visitados por turistas do mundo inteiro. Segundo a pesquisa da BBC: Le Plus Grand Français, Édith Piaf foi considerada a 10.ª maior personalidade francesa de todos os tempos. (Informações extraídas do Wikipédia)”

Na volta ao hotel, uma taça de vinho iniciava a realização de um sonho tão satisfatório para quem somava os desejos de um passado que só tinha relação com a juventude.

A subida para o aconchego……. e, poooorrrrrraaaa! Alguém tocou forte na minha rede e me acordou!

Puta que pariu!

Nem em sonho a gente pode ser feliz, passear em Paris e ouvir Édith Piaf?!

6 pensou em “O SONHO INTERROMPIDO

  1. … diziam bem o que seria o momento quando voltássemos ao aconchego da hospedagem…

    A subida para o aconchego, na hora do rala e rola, do ”TCHACA TCHACA NA BUTCHACA”……. e, poooorrrrrraaaa! Alguém (o famoso empata phodda), tocou forte na rede e te acordou! kkkkkkk

  2. Prezado ZéRamos, hoje você se superou, adorei o seu sonho e como diz a música, “sonhar não custa nada”, mas as vezes nos custa caro demais, mas como diria o Padre LançaLeite, uma bronha via internet as vezes pode nos aliviar a distancia do amor presente.

  3. Marcos, você sabe das coisas! Bronha via Internet, a gente acaba sujando a rede, né não? Vosmecê me fez lembrar de quando íamos dormir, e minha mãe botava uma bacia debaixo da rede, com a certeza de que, de noite, mijaríamos na rede. O piso era diferente de hoje. Era daquele tijolo vermelho, sem lustre. Eita tempo bom da porra, mermão!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *