Sabugo de milho: o papel higiênico da roça
A vida na roça é algo saudável. É algo bom. Quem viaja para “passar as férias” na roça, num lugar onde provavelmente não nasceu, precisa deixar as frescuras de lado.
Beber água de pote, andar descalço, acordar com o galo cantando – e até jogar o barro fora, no mato (cagar, defecar, fazer cocô).
Em muitas casas, durante muito tempo, os proprietários faziam um reservado de palha, e ali cavavam um buraco – um depósito de fezes.
Mas, a maioria de quem nasce, cresce e vive na roça, prefere mesmo é cagar no mato. Atrás de uma moita, portando um ou mais sabugos de milho, uma vara, de preferência longa. Isso, se a moita não for de “marmeleiro”, cuja folha é muito macia e refrescante.
E a vara, é para que?
Ora, a vara comprida é para espantar (na roça a gente diz “tanger”) porcos e galinhas que adoram aproveitar a “obra”.
Menino “obrando” no mato
Pois bem. Vamos ao que interessa.
Aristeu, jovem com quase 30 anos de idade, era o filho mais velho de Francisco Carlos e Benedita.
Desde cedo aprendeu ajudar o pai na labuta diária da roça. Trabalhava durante o dia, e descansava durante a noite – nos tempos que não tinha televisão, e, quando tinha, o sinal que chegava naquelas paragens produzia uma imagem desanimadora.
Nos fins de semanas, o jogo de bola pela manhã, sempre depois da missa dominical, e, de noite, o namorico com Cicinha.
Cerca de dez jovens na mesma situação econômica de Aristeu resolveram fazer uma vaquinha e assumiram a compra de uma Kombi que, rodando apenas aos domingos, levava o magote para jogos amistosos previamente combinados.
Eis que chegara mais um domingo. A missa, onde ficou acertado que, horas depois, a Kombi passaria próximo da casa de Aristeu para apanha-lo e leva-lo para o jogo. Era jogador importante para o time.
Naquela casa, por sugestão de Francisco e Benedita, cada morador “tinha a sua moita” para fazer suas necessidades. A moita de Aristeu ficava distante por uns 30 metros, de forma que, quando o vento soprasse, levasse o “odor” para distante.
Pois, antes de sair para o jogo, Aristeu se preparou para “jogar o barro fora” na sua moita preferida. De lá, fazendo o que faria, ficaria no aguardo da passagem da Kombi.
De repente, Aristeu se deu conta que esquecera o sabugo. Levara apenas a vara. Além disso, a moita que usava não era de marmeleiro. Tinha que ter o sabugo.
Aristeu voltou à casa, onde pegaria o sabugo. Aproveitou para tomar uns goles d´água, pois a empreitada do jogo o tiraria de casa por longo tempo. A volta à casa para pegar o sabugo, acabou atrasando tudo.
A Kombi passou e Aristeu não estava no local previamente combinado. Os amigos deduziram que, por algum motivo de última hora, Aristeu não iria jogar. Foram sem ele.
Na estrada, ao desviar de uma vaca que dormia no asfalto, o motorista da Kombi perdeu o controle e bateu de frente com um caminhão que trafegava em sentido contrário. Acidente horrível, que acabou por ceifar a vida dos ocupantes da Kombi.
Aristeu foi salvo por um reles sabugo de milho.
A vida realmente não vale nada!


O sabugo é muito falado, mas pensando bem, é pouco. Merece uma tese de doutorado. Dizem aqui que além da higiene perfeita ainda serve pra coçar o desgraçado.
Flavio, dizem isso mesmo. Mas, na minha terrinha, era pela falta de papel higiênico mesmo. Outra utilidade do sabugo (crendice, claro), era acabar com a tosse do cachorro. Fazia-se um rosário e pendurava no canino. Coisas do sertão!
É o famoso 3 em 1: limpa, coça e penteia.
Beni, quem sabe já usou! Eu também usei. Muito!