JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

Rolo de fumo

Diferente da maioria dos outros estados brasileiros, o “falar cearense”, vez por outra enfeitado pela verve da comicidade, é tipo cartão de visita ou convite de apresentação. O que nem seria necessário, pois existe cearense morando até na lua. A NASA levou experimentalmente, um Pedreiro e um Servente de Pedreiro, com o objetivo de construir as primeiras vilas e realizar um teste de como alguém poderia sobreviver naquele mundo, sem ter certeza que existe água potável. E, sejamos sinceros, cearense é phoda nisso.

Sem deixar pegar vereda diferente na prosa, indo para a capoeira e nunca para o xópi, quero focar hoje o fumo. É o fumo que, no Brasil tem sua melhor fabricação nas Alagoas. É ali que se planta, se curte, se produz e vende – mas poucos fumam. É de lá que saem os rolos. Rolo de fumo. Mas, e o que tem o cearense com isso?

A verve cearense, muito antes de abolirem os primeiros escravos brasileiros, já apelidava o “negro” – e não o escravo – de “pau de fumo”. Também, nenhuma relação com o pênis avantajado da negrada. Nenhuma relação ofensiva ou humilhante. Pode até não haver carinho mas, com certeza para nós cearenses, “pau de fumo” vai muito além daquela mangueira com fumo enrolado ou com algo ofensivo ao afrodescendente.

Pois, foi com canivete feito de uma banda do Gillete Blue Blade, ou com uma peixeira de 25 polegadas sacada da bainha de couro, que vi pela primeira vez meu Avô cortando fumo para fumar no cachimbo – de barro.

Nas tardes de domingo, a paisagem nunca mudava: meu Avô, João Buretama sentado na latada, botando a prosa em dia com meu tio Antônio Luciano. Vez por outra, Vovó cortava a prosa e servia um café quente daqueles grãos torrado e pilado em casa. E a prosa continuava, mantida pelas cachimbadas.

Prosa na “cachimbada”

* * *

O ZAP-ZAP DOS ÍNDIOS

Zap-zap indígena

Descoberto por conta do destino e da forte ventania que mudou o caminho para as índias, o Brasil, desde aquele “fatídico” 22 de abril de 1.500 convive com a mentira, aceitando-a como verdade. Tem quem afirme que, quando o Monte Pascoal foi avistado, de lá já saíam sinais de fumaça que os índios enviavam numa conversa por zap-zap com a tribo que vivia em Fernando de Noronha. Verdade ou mentira, fica o registro.

Longe dali, do outro lado do Atlântico, as mensagens “zapianas” entre os índios americanos do Alabama já existiam, avisando que o homem branco tentava invadir aquelas terras para construir o caminho do “cavalo de aço” (trem). Foi por conta disso que o chefe Cabeça de Touro organizou o primeiro levante naquelas plagas, e entregou o comando para Flecha Ligeira, aquele guerreiro que tirava a exibia os escalpos dos homens brancos.

Os anos se passaram, alguns hábitos mudaram, e outros nem tanto. O homem branco construiu e passou a usar o Cavalo de Aço que o levou em definitivo para novas terras. Fizeram avenidas, arranhas-céus, shopping centers e venderam parte dos direitos para a Samsung que fabricou os telefones celulares – a forma moderna do homem branco para enviar suas mensagens. Algumas mentirosas, tal qual aquela do dia 22 de abril de 1.500. A essas mensagens deram o nome de “fake news” – prova de que os índios americanos continuavam mandando seus sinais pela fumaça.

Junto com os sinais, os índios americanos exportaram também a linguagem. E é exatamente essa linguagem importada, que passamos a chamar de stand-up, que o cearense chama de baitolagem. Coisa de fresco, de queimador de rosca.

Por que, temos tanta vergonha de falar a nossa língua?

Que beleza existe em “dèjavu”? Em “monsieur”?

Ou, em mister, background, know-how, feed-back?

Imagine, o dia que Luiz Berto chegar em Palmares, e o ladrão da Roleta do Cu-Trancado começar a falar: “Mister and miss, make yours plays”!

24 pensou em “O ROLO DE FUMO E A PROSA NA CACHIMBADA

  1. Num é ? . pra morde que chamá de lord , gentleman um cara que não tá nem aí pra população , a não ser para a população da própria familia ?. e o termo “latada” ? , em uma visita á Bahia , meu primo me pediu para buscar a galinhota lá embaixo da latada. levei quase uma hora e voltei de mãos vazias . não achei as latas e nem vi galinha alguma. Certo dia minha tia pediu para pegar o tibério para ela. Não achei o moleque ,outro vexame !. Mas teve o do jegue zurrando , teve o da surra de faca ,teve o da água salobra . Nasci em Santos , o nordeste não é para qualquer um .

    • Joaquim, “aubrigado” pelo divertido comentário. “Latada”, nada tem com lata. “Latada” nada mais é que uma “varanda” (prolongamento de uma residência) avantajada, onde se armam redes, deposita sacos disso ou daquilo, e, em alguns lugares, até serve para chocar galinhas caipiras. É, digamos, uma “despensa” sem paredes ou cadeados.

      • Em Brumado na roça , latada é uma cobertura de varas e folhas que as vezes se acha para cobrir geralmente olarias, tem vida curta(poucas horas ). Galinhota é o carrinho de pedreiro .Tibério é cachimbo que muitos usam para fumar o fumo de corda. Já o zurrar , surra de faca , água salobra se refere a falta de conhecimento , gênio ruim ou metido a besta pois nos dois últimos as pessoas tinham uma enorme peixeira que quase chegava nos pés. Foi no tempo do plano Sarney, as pessoas eram novas. Mesmo sem nada de mal acontecer ,nunca mais voltei lá. Bom domingo!.

        • Joaquim, apois, “zurrar” é gritar alto; surra de faca ou “panada de facão” é usar o que tem à mão para bater em alguém; água salobra é a água imprópria para beber – diz-se da água que, na composição, tem algo além de H2O. Tem alto percentual de sódio.

    • Claro , todo ludâmbulo que não queira ter inconvenientes , digamos com uma sinaleira ,deve usar os serviços de um cinesíforo profissional.

      • Mais um arre égua, macho réi! Em São Luís, por conta do meu trabalho com o futebol, fiz amizade com um ex-atacante peixeiro: Kléber Pereira.

    • Arre égua! Não é por nada que o “nosso estádio” tem o nome de Urbano Caldeira! Sou torcedor do Santos, sim! Nos anos 60 andei por lá, passeando.

        • Joaquim, engraçado como temos esquecido o Mauro Ramos, Rildo, De Leon, Djalma Dias, Jair da Rosa Pinto, Pita, Geovani, Clodoaldo, Abel, Juari e tantos outros.

          • Já que citei Laércio , o santista Gilmar dos Santos ,que lembras , foi do Corinthians antes de ser do Santos.
            Acho que ficamos velhos demais .

        • Santos Futebol Clube: Gilmar; Lima, Mauro Ramos, Calvet e Dalmo; Zito, Sancho e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe.
          Timaço. Melhor que o Santos? Só o JBF treinado por Berto, que diz que o difícil é escalar o time titular. JoséRamos? Sempre com a 10.

  2. Arre égua maxo vei, essa baitolagem de uzá palava istrangeira é coisa de perôba! Essa tal de novil[ingua é coisa de cumpade “Jorgi Orvél”. Bom domingo ZéRamos!

    • Marcos, bom dia. Pois é. Pelo que li não lembro onde, quando um produto brasileiro é exportado para os EUA, todas as informações pertinentes ao produto, tem que ser escritas em inglês, idioma deles. Aqui, sem que nos façamos respeitar, engolimos o “stand up”, “bulliyng”, “control”, delivery, etc. O sujeito aprende falar inglês, mas não sabe falar português corretamente.

    • Professor Assuero, existe cosia mais disforme na cara de uma pessoa, que um nariz grande e carnudo? Não. Não existe. Mas, aquele nariz é o único que o sujeito tem. Vejo assim também com o nosso idioma falado ou escrito aqui e acolá. Parece até que, em inglês não existem os neologismos, os regionalismos, etc. Coisa de mangaio, mesmo.

    • Maurício, se você estiver passeando numa cidade interiorana do Nordeste, parar para pedir água de beber e falar: “moça me sirva um copo da água daquele vaso cerâmico que está na janela”, ela vai rir da tua cara e da tua fala e dizer: o senhor quer beber da água da quartinha, né? É assim. Qual a vergonha que existe nisso? Acho que vergonha é queimar rosca, segurar mangaio, fazer boquete num e noutro. E nem nos arrisquemos a contar a quantidade de gente que tem fazendo isso com o maior prazer, né não?

  3. MEU PAI, ALEM DE GUARDA LIVROS da FAZENDA SANTA LINA, NORTE DO PARANÁ, cuidava também do armazem de secos e molhados que atendia os colonos da fazenda e da redondeza. Adorava brincar com os peões, aqui se “vende fumo por metro”, Quanto mais corre, mais fumo leva. SAUDADE DO SEU MARTINS..Pessoa boa e honesta.

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