ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

Resolveu pegar aquela van porque os amigos disseram que seria mais rápido. Pensou. São apenas 200 Km. Chega-se rápido e sem cansaço algum. Afinal, que mal faria estar em casa antes da hora do jantar… pensou assim durante o dia todo. Telefonou rápido. Reservou lugar. Pagaria quando o veículo o pegasse no endereço passado à moça que o atendeu. Colocou rapidamente suas coisas na mochila.

Quatro e trinta. Uma buzina. Despediu-se dos amigos com um “até logo”. Sentou-se. Depois de várias paradas começou a ver a cidade rarear. Contou de relance, onze pessoas, ao todo naquele veículo. Depois campos cultivados, viadutos, pontilhões. Adormeceu embalado pelo sacolejar da van no asfalto irregular. Antes de fechar os olhos pensou em sua casa. Na tranquilidade e silêncio de seu lar. Acostumara-se a esse silêncio. Acostumara-se à paz de viver sozinho, apenas, de vez em quando, ouvindo o barulho de vozes que passavam na rua, ou no som de motocicletas, carros e caminhões, lá, do outro lado do muro, como se fosse um mundo distante, separado, alheio a ele.

Acordou meio que assustado. O sol na linha do horizonte. Tentou se mexer. Uma dor subiu-lhe da bexiga até o peito. Placa de 10 Km até o seu destino final. Ficou contente. Precisava de um banheiro mais do que do ar que respirava. Cada sacolejo da van, que antes o fizera dormir, agora provocava uma dor excruciante que passeava pelo abdome, descia até aos pés e subia novamente. Tentou pensar em algo, mas o cérebro só se fixava naquele pequeno saco de urina. Cheio. Quase para estourar. Por mais que se concentrasse. Nada. Dor. Dor. Dor apenas.

Levantou-se. Nada. A dor não lhe dava trégua. Começou a se desesperar. Placa 5 Km. Pensou aliviado que chegaria ao seu destino rápido. 15 minutos talvez, descontando o trânsito. Sentou-se. Piora na dor. Resolveu ficar em pé. Nove pessoas sentadas dormiam tranquilamente. Olhou para o motorista. Olhos fixados na estrada. Cada movimento da van era como se agulhas perfurassem o seu corpo todo. Desespero. Contorcia-se. A dor cada vez mais intensa. Tinha vontade de gritar. Pedir ao motorista para parar. Queria descer. Precisava descer. Necessitava descer. Cada vez mais urgente. Nada mais via. A dor o cegava. Colocava-o como um animal desesperado dentro de uma jaula.

Na estrada a van em alta velocidade. O sol se pondo. Metade ainda no céu e a outra metade já abaixo da linha do horizonte. Cortando rápido o vento. 5 Km. 5Km. Nada. O desespero cada vez maior. Suava frio. Retorcia-se. Quase clamando piedade. E a cidade ainda não chegara. E a van fazendo o seu caminho rotineiro.

Km 10. Um inferno! Socorristas. Bombeiros. Policiais. Trânsito parado. Sirenes e buzinas enlouqueciam o ar. Borbotões de fogo e fumaça no ar. Cheiro de combustível queimando. Manchete no dia seguinte? Quem vai saber! Doze corpos enegrecidos, queimados até o osso. Horrendos. Odor de carne queimada. Vísceras à mostra. Uma van e um caminhão com seus ferros retorcidos ao lado da estrada.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *