CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Nilo Pereira, professor, político, jornalista e escritor

Lamento não me lembrar quem apelidou o jornalista Nilo Pereira de “O Nilo do Nordeste”. Isto, porém, foi a forma de se transformar, por instantes, aquele cidadão de semblante austero num personagem com um “meio sorriso” como este aí da foto.

Desejava-se associa-lo ao grande rio da África, um dos mais extensos do mundo, famoso por sua história antiga e pelos sítios arqueológicos que existem nas suas margens.

Nilo Pereira representou em vários tempos de sua prolongada vivência um dos grandes nomes que no Recife aportaram para viver até os finais dos seus dias sob os holofotes e impulsionar nossa cultura em várias áreas.

Nasceu no município de Ceará-mirim, no Rio Grande do Norte e aos 15 anos se iniciou escrevendo para jornais. Depois viveu em Natal, iniciou curso de Direito no Rio de Janeiro concluindo-o na Faculdade de Direito do Recife, cidade onde veio para ficar e aqui constituiu família.

Na “Folha da Manhã”, jornal de Agamenon Magalhães, foi Chefe-de-redação durante muitos anos e somente depois que a chamada “Folhinha” encerrou sua circulação, firmou-se no Jornal do Commercio, de onde foi editorialista durante várias décadas.

Devo-lhe os fundamentos de meu saber nesta arte, quando no Ginásio Pernambucano conseguiu organizar o primeiro curso de jornalismo que funcionou informalmente no Recife, beneficiando os jovens iniciantes lhes oferecendo os melhores caminhos para se tornarem bons profissionais.

Quando em junho de 1986 publiquei “O Banco do Brasil na História de Pernambuco”, solicitei seu prefácio. Foi parte de um depoimento sobre nossa velha amizade. Generoso logo nas primeiras linhas, recordando tempos do jornal em que escrevi, ainda com 15 anos, o que muito me envaideceu:

Conheci Carlos Eduardo na antiga “Folha da Manhã”, da qual fui Redator-chefe. Era o que é hoje: ágil, desembaraçado, dinâmico, com extraordinário faro de repórter.

Este colunista, Nilo Pereira e Amílcar Matos

O lançamento daquele livro correu no hall do velho City Bank, no Recife e ali nos reencontramos, como aliás, sempre ocorria em vários momentos jornalísticos quando a classe se reencontrava, inclusive durante reuniões na Associação da Imprensa de Pernambuco.

Do seu Prefácio transcrevo outra parte interessante:

A História, hoje, não é apenas o documento frio, amarelecido nos arquivos, quase inerme. É o que se está passando aos olhos de toda a gente.

A História oral nos dá o bom exemplo de cada instante na época do povo, nas tradições do tempo, nos violeiros e cantadores de feira, nos testemunhos dos mais velhos, nos álbuns de família.

Não é bem a História de Carlos Eduardo ao tratar, quase amorosamente do Banco do Brasil, onde viveu os tempos em que ele relembra sem pinceladas poéticas, tanto quanto Capiba, sempre exaltando as virtudes do Banco e de seus funcionários.

O Banco aqui evocado pelo memorialista é o estabelecimento que vem desde Napoleão Bonaparte a Camilo Calazans. O estabelecimento fundado por D. João VI, que veio para o Brasil quando da invasão de Portugal pelas tropas de Junot.

Eis uma entidade feliz que tem Carlos Eduardo, Capiba e João Alberto, tanta gente boa a servi-la dando-lhe configuração histórico-social que tem a perenidade entre as melhores tradições do Recife.

Sobre nosso grande Nilo, diria melhor o escritor Orlando Parahym:

Nilo foi em muitos aspectos Nilo é, um pioneiro. Um vidente. Senão providencial, porque esse tipo de homem não existe, mas. pessoa talhada para dirigir, construir, renovar, abrir novas e amplas perspectivas e dar vida e força às esperanças dos mais jovens; ainda mais, encaminhando os novos para a cultura através do jornalismo. Um homem de inexcedível valor moral.

Lembro-me, agora, de sua caneta fazendo os reparos em minhas reportagens para a “Folha da Manhã”, depois, no Ginásio Pernambucano, me ensinando como criar uma legenda. Em anos mais recentes, quando desfrutando de sua amizade familiar, me deliciava com o cafezinho de D. Lila, enquanto o menino Roberto se arrumava para a escola.

Além de memórias sobre Agamenon Sérgio de Godoy Magalhães, meu inesquecível amigo marcou sua trajetória de vida cultural com a publicação de 35 livros, membro da Academia Pernambucana de Letras, Contador, Bacharel em Direito, Professor universitário e membro da Fundação Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais.

Nilo de Oliveira Pereira foi um caudaloso Nilo, dir-se-ia; realmente o “Nilo do Nordeste”.

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