JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

Minha janela aberta para o meu mundo

Manhã de qualquer dia.

Em qualquer lugar, tão logo a vida se dana a tocar mais alto que todos os badalos de todos os sinos rebimbando ao mesmo tempo.

Num mesmo tom e com o mesmo som. Como se fora a abertura de uma ópera. No teatro da vida que existe em cada um de nós.

Blém, blém, blém!

Abro a minha janela. Uma e, depois, a outra.

As duas abertas para o meu mundo, tingido de um acastanhado claro. Mas, meu. São assim as minhas janelas.

O horizonte (meu!) se acastanha e, num mundo só meu, a poesia tem as cores que eu queira dar. Que eu queira pintar. Que eu queira ver. E, quero-o castanho neste momento.

Até um oásis, antes de um verde azulado pela profundidade, se tinge de tons castanhos – como meus olhos. Como meus olhos em janelas de mim mesmo querem ver.

É assim que eu quero ver, desde as minhas janelas recém abertas. Abertas às escâncaras, para um mundo castanho – como meus olhos de janelas abertas para o que antes, no horizonte, era totalmente azul.

O azul que outros olhos viam era azul

As minhas janelas!

Janelas de mim mesmo, que me transformei, tal qual as casas de antigamente, uma porta e duas janelas, numa moradia de coisas boas, pautáveis e paladares.

Coisas acastanhadas!

Como meus olhos, de um tom castanho claro, que consegue, nos momentos de felicidade, “ver a cor do som”. Dar cor castanha ao som.

Janelas de mim mesmo.

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