Leandro Ruschel
A reunião de personalidades do mercado com políticos e membros do novo governo, em evento do BTG, expõe uma postura completamente diferente entre Lula e o seu gabinete, o que explica a desconfiança em relação à política econômica do novo governo.
Enquanto Lula ataca o mercado diariamente, demonstrado repúdio à responsabilidade fiscal, e à independência do Banco Central, além de defender políticas desastrosas como o uso do BNDES para financiar projetos em ditaduras companheiras, e a desestatização de empresas, o que alimentou a máquina de corrupção petista no passado, ministros como Haddad seguem atuando como o “policial bonzinho”, jurando de pé junto que o governo será fiscalmente responsável, e que não adotará nenhuma medida radical.
O problema é acreditar na palavra de um professor universitário comunista, que já escreveu longas críticas ao sistema capitalista, em defesa da implementação do socialismo, e membro atuante do partido que já saqueou e destruiu o país. Mesmo que Haddad fosse um “cristão novo” do capitalismo, coisa que ele não é, haveria ainda outro obstáculo intransponível: a falta de conhecimento.
Recentemente o ministro confundiu CVM, com CMN, repetindo o erro três vezes numa entrevista, o que afasta a hipótese de ato falho.
No próprio evento de hoje, Haddad definiu o mercado como “essa meninada que fica no computador dando ordem de compra e venda”. Num dos poucos momentos de franqueza observados no evento, o dono da gestora SPX, Rogério Xavier, que fez o “L”, mas depois demonstrou algum arrependimento, disse que o problema é que o mercado não acredita nas promessas de responsabilidade fiscal do PT, para deleite da plateia.
Eis o “X” da questão, ninguém acredita no PT, mas sim na necessidade do partido seguir uma mínima agenda que garanta alguma estabilidade econômica, por imposição das circunstâncias, enquanto trava uma guerra em outra frente, que é a perseguição da oposição e aparelhamento completo das instituições, seu objetivo desde sempre.
Hoje, o partido não conta com o controle político necessário para impor o caminho econômico populista falido da Argentina, ou mesmo da imposição de um regime totalitário venezuelano. Mas nada garante que não terá, em algum momento. O seu propósito existencial é esse. O mercado, então, se apega ao seu principal protetor, o presidente da Câmara Arthur Lira, que já prometeu barrar qualquer pauta bomba do governo.
Há ainda a aposta sobre o Supremo ser um fator de contenção de radicalismos petistas. Se por um lado há a crença na efetividade da camisa de força imposta a um Lula muito mais radical do que vários Farialimers imaginavam, por outro há um desconhecimento temerário sobre a capacidade de destruição da esquerda radical.
Por ora, prevalece a crença na capacidade de empurrar o governo para o caminho da mínima responsabilidade. Ou seja, na melhor das hipóteses, o Brasil não implode.
Isso não é nem de perto o suficiente para fazer os empreendedores voltarem a confinar e a investir, o país crescer, e a paz social ser recuperada. Mas pelo menos faz a Bolsa e o Real não desmancharem.
O mercado acredita que o dinheiro controla a política, e por isso acabou aceitando, e em alguns casos até apoiou, o resgate político de um corrupto condenado e a sua alçada ao poder pelo estamento burocrático, que enxergava no antigo governo uma ameaça existencial.
Além disso, muita gente no mercado se locupletou da corrupção petista, e enxerga a possibilidade de repetir a dose, acreditando que uma nova Lava Jato é praticamente impossível.
Como diria Tancredo Neves, “a esperteza, quando é demais, acaba engolindo o esperto”.