Leandro Ruschel
Na revista Crusoé, Jerônimo Teixeira escreve artigo crítico à indicação da comunista Manuela d’Ávila à chefia de um grupo de trabalho constituído pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania para apresentar estratégias e propor políticas públicas de “combate ao discurso de ódio e o extremismo”.
O articulista lembra, corretamente, que o comunismo é uma ideologia totalitária, responsável por todo tipo de crime contra a humanidade, e ainda questiona o verdadeiro propósito do grupo de trabalho.
Até aí, tudo bem…
Só que Teixeira passa a apontar que o verdadeiro problema da indicação da companheira Manuela ao grupo de censores é alimentar o “medo paranóico do comunismo” por parte do “bolsonarismo”. Questiona Teixeira: “as mais delirantes fantasias de dominação marxista correm pelas redes sociais da direita extrema. Como um grupo liderado por uma declarada comunista poderá desarmá-las?”
O próprio Teixeira aponta em seu texto outros fatos que alimentariam esse “medo paranóico”: o apoio de Lula a ditaduras comunistas como Cuba e Venezuela, e emergência de um neostalinismo, que tem entre os seus defensores ninguém menos que Caetano Veloso. Relata então Teixeira uma descoberta sua: dezenas de canais de jovens stalinistas, defendendo o fuzilamento de opositores da revolução. Mas, segundo ele, os jovens revolucionários não representam uma ameaça, pois formariam uma “turma minoritária, que não oferece risco efetivo para a democracia brasileira”.
É mais um exemplo da ABSURDA leitura do momento em que vivemos por quase toda classe “pensante”. Mais impressionante ainda é ler isso na Crusoé, revista que foi censurada, mais de uma vez, por criticar o establishment.
Nos últimos anos, vimos redações sendo fechadas, dissidentes sendo exilados, centenas de perfis de redes sociais censurados, pessoas presas por se manifestar pacificamente e, agora, a busca por legalizar a censura nas redes. Sem esquecer da campanha mais censurada da história, em que a justiça eleitoral chegou ao ponto de aplicar censura prévia a um documentário porque talvez ele prejudicasse a candidatura da esquerda, isso depois de centenas de posts censurados pelo mesmo motivo.
Também não podemos esquecer que o líder da esquerda teve seus processos anulados por filigranas jurídicas, após ser condenado em três instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro. Nas palavras do ex-ministro Marco Aurélio Mello, ele foi “ressuscitado politicamente”. Enquanto isso, “bolsonaristas” são alvo de investigações conduzidas ao arrepio da lei, sem direito de defesa.
“Medo paranóico”, ou correta oposição a um projeto totalitário de poder? O subterfúgio para tratar o medo do comunismo como paranóia é apresentar a impossibilidade de implementação de um regime como o soviético. Ora, não é necessário que haja uma economia planificada, tocada por partido único sob tutela militar com Gulags contra opositores para virar uma “ditadura comunista”. Os tempos são outros. Até mesmo o PCC abriu mão do controle absoluto da economia, e percebeu que a tecnologia oferece uma alternativa aos campos de concentração, com aprisionamento em massa. O movimento comunista é marcado pelo ajuste de estratégias ao longo do tempo, mas o objetivo é sempre o mesmo: controle absoluto da sociedade, e fim da liberdade individual.
O que mais precisará acontecer para esse pessoal que não é petista, mas que trata o “bolsonarismo” como maior ameaça, passar a se opor ao regime autoritário em curso ? Começar a ser alvo de perseguições? É uma questão de tempo, mas aí será tarde demais. Na verdade, talvez já seja.