O mais belo cavalo do Haras Pequeno Príncipe
Para o meu orgulho, nunca será exagero dizer: nasci no mato, “aparado” por uma parteira leiga das horas do aperreio (minha Avó), que em vida me disse que – no dia 30 de abril daquele ano -, a água era “morna” apenas por conta do calor abrasador. Não houve aquela preparação.
Foi aquela parteira leiga das horas da necessidade, que também me disse certa vez, que: “Fio, que eu lembre, fazia um calor insuportável. Apenas três coisas tinham ligações com a vida: a sua chegada e o seu choro; a saúde e a disposição da sua mãe em lhe dar à luz; e, naquela latada da frente da casa, a graúna cantava feito uma disgramada. Parece inté que ela que tava fazendo o parto ou nascendo.”
Andei cedo e também cedo tive o privilégio de ouvir e entender as verdades da vida, que muitos pais (avós) escondem dos filhos (netos): a vida, a partir do nascimento.
Sem aquela de ser trazido pela cegonha.
Sábia, minha Avó apregoava: “Se hoje, sem necessidade, mentimos e enganamos nossos descendentes, quando teremos o direito de querer que algum dia eles acreditem em nós”?
Vovó. Sem graduação ou doutorado. E era ela, a mesma que conversava com as aves do quintal ou os pássaros, tendo a pretensão de achar que era compreendida.
Aquele foi o meu mundo inicial. Fui uma semente bem plantada. Regada. Cuidada e recebendo a quantidade de água que precisava para crescer e para enraizar. A água da verdade para enfrentar a vida com coragem nas adversidades. Sem as frescuras de hoje.
Cresci. Vivi. Viajei e aprendi.
Aprendi que aprendemos mais ainda, quando dividimos o aprendizado com alguém. É o milagre da multiplicação.
Meu Avô, cantador de viola e repentista sem fama, que já se contentava em ser ouvido e escutado por nós, os netos, nas noites das ladainhas e dos ensaios profanos, me disse: “Ser feliz, é poder enxergar o brilho e a luz da felicidade nos olhos de quem te ouve.”
Pois, hoje, tens um haras. Mereces tê-lo. Sei. Tu tens um haras e, nele, crias alguns cavalos de raças ímpares. Espécies bonitas, raras. És herdeira. Estás rica.
Pois eu, tudo que consegui na vida como resposta ao trabalho desde a roça até hoje, foi cultivar um pequeno jardim que, vez por outra transformo num canteiro de verduras.
Nesse canteiro, sem que eu saiba o motivo, apareceram umas lagartas. E isso me fez imaginar que, involuntariamente, crio lagartas. É. Lagartas. Lagartas que voam – ou, que pretendem voar algum dia. É a natureza delas. Querer voar.
Já me flagrei várias vezes repetindo a pretensão da minha Avó. Também converso com uma lagarta. Preferencialmente, uma. A que vive dizendo que, um dia, se eu continuar cuidando dela como cuido, ela vai alçar voo.
Não tenho certeza se acredito. Tem horas que duvido. Mas, por algumas vezes passei a acreditar que ela vai voar.
É, voar. Batendo asas (quais?) e voando.
A lagarta se alimentando para crescer e um dia voar
Ontem li nas redes sociais que um dos teus cavalos foi premiado. O nome que mais recebe elogios é o do cavalo – muito mais que o cavaleiro.
Será que algum dia essa lagarta vai voar mesmo e eu receberei algum prêmio?
Ora, se o teu cavalo é premiado, como que tu que recebes o prêmio?
É isso que me faz pensar que, se a lagarta algum dia voar, eu também posso receber prêmio. Mas, por que eu receberia prêmio por uma lagarta que um dia resolveu voar?
Ontem pela manhã lembrei da Vovó dizendo que, no dia que nasci fazia um calor insuportável. Ontem o calor também estava insuportável e isso me fez molhar o canteiro. Iludido, chamei a lagarta e ela não respondeu. Fiquei aflito, embora ela nunca tivesse respondido mesmo. Procurei debaixo das folhas maiores e não a encontrei.
Continuei procurando enquanto chamava. Sem resposta.
Ora, se eu estava procurando uma lagarta bonita, colorida e falante (pelo menos comigo!), como poderia perceber que algo parecido com o bicho da seda fosse a “minha lagarta” candidata a voar e a receber prêmios?
Mas era. Não era um “bicho da seda”. Era um casulo!
É, um casulo.
Os dias se passavam e eu pouca importância dava ao casulo, sempre que molhava as plantas.
Na manhã do dia seguinte, quando eu molhava as plantas por conta daquele sol abrasador, não olhei mais o casulo.
Mas, como há raios que caem duas vezes no mesmo lugar, também inexplicavelmente, a minha graúna cantava desesperada. Um cantar diferente e sempre que saía da banheira com água e se sacodia.
Minha Avó dizia que, quando os pássaros cantam da forma que a graúna estava cantando, estão querendo dizer alguma coisa. Falar com alguém. Ser compreendido e entendido. E, creia, havia motivo sim para aquele cantar ao mesmo tempo alegre e desesperado da graúna.
A lagarta voou!
Digo, a lagarta que virou casulo, saiu dele e voou!
Será que é justo, também, que eu receba um prêmio?
Mesmo que eu não receba um prêmio, ganhei o aprendizado que não devemos duvidar da Natureza. Os cavalos do haras são bonitos, mas precisam de cuidados.
Os pássaros e as aves de consumo da Vovó conversavam com Ela, sim. Ela, a Vovó, acreditava nisso, e jamais parou de dar a devida atenção os “bichinhos dela”.
Eu, claro, fiquei em dúvida se algum dia aquela lagarta conseguiria voar mesmo. Mas, Ela, a lagarta, acreditava na sua Natureza – e a Natureza das lagartas é, um dia virar borboleta e voar.
Voar a caminho da vida e dos girassóis.
A lagarta que acreditou que voaria
Acredite. As lagartas podem voar, sim!
E a premiação não é de quem as criou. É da Natureza!
Sempre batendo um bolão, Zé Ramos. Parabéns a todos nós que nascemos numa era sem muita frescura e parabens a todos os pais, pois hoje é dia de ganhar cueca e meia, rsrsrs.
Beni, cueca “samba canção” marca Torre e meias Lupo cano longo!
E já de posse dos presentes em forma de cueca “samba canção” marca Torre e meias Lupo cano longo, vou ler Zé com gelo, pois a Natureza das lagartas é, um dia virar borboleta e voar nos textos de ZéRamos, que poetisa em prosa enquanto enxuga gelo aos domingos ensolarados, nesta bertiana gazeta.
Valeu, Zé!!! Valeu, Beni!!! .
Sancho, “arre égua”! E, para comemorar o dia dos Pais, mais dois arres éguas: Arre égua e arre égua! Além de um arreeguazim: arre éguinha! Obrigado Sancho. Que Deus nos proteja sempre. Aqui e alhures.