RODRIGO CONSTANTINO

O que temos em curso no Brasil hoje é uma aliança instável entre tucanos e petistas, para que o “sistema” pudesse resgatar seu poder de antes e afastar a ameaça de um governo honesto de direita. Para tanto, tiveram que soltar Lula, torná-lo elegível e recolocá-lo na cena do crime, como diria Alckmin.

Muita gente poderosa faz parte desse “consórcio”, que envolve a velha imprensa e muitos empresários. Alexandre de Moraes certamente não age sozinho, e em vários momentos importantes teve apoio do plenário do STF para seus atos. São muitos cúmplices no verdadeiro golpe que nossa democracia sofreu.

Mas não resta dúvidas de que Alexandre de Moraes é o maior ícone desse regime de exceção implantado no Brasil. Por isso acredito que, em algum momento, o próprio “sistema” vai oferecer sua cabeça para sair ileso e impune do que fez até aqui.

Moraes seria uma espécie de pitbull da turma, e por isso mesmo pode assumir o papel de “bode expiatório”, levar a culpa pelo que o restante consentiu ou permitiu, ainda que por omissão. Ao se tornar o foco das pesadas críticas e denúncias do dono do X e um dos homens mais ricos do mundo, Moraes reagiu com o fígado, dobrando a aposta, o que torna o custo de mantê-lo cada vez maior para o “sistema”.

Em seu editorial de hoje, até a Folha de SP busca certo afastamento, aceitando a premissa falsa de que “salvar a democracia” era uma meta nobre, mas que os meios começam a parecer excessivos. Diz o jornal de esquerda:

Decerto o sentido da crítica a Moraes não soa descabido. O ministro já estendeu bem além do razoável uma frente de investigação nada transparente, ademais questionável desde a origem. Ao atacar um problema real, o das ameaças à democracia, Moraes adentrou um terreno pantanoso, o de definir o que é verdade e o que não é, atoleiro do qual parece não conseguir sair.

No Roda Viva desta segunda, sob o comando da militante Vera Magalhães, o senador Flávio Bolsonaro respondeu que não acredita no impeachment de Alexandre como solução para nossos problemas. Essa chamada incomodou muito bolsonarista, mas recomendo a entrevista na íntegra. Flávio não deixou de responsabilizar Alexandre por seus atos ilegais. Ele apenas ofereceu uma saída “honrosa” ao sistema.

É seu papel de “good cop” dentro da família. Não resta dúvida de que Flávio é o mais diplomático deles, defensor do diálogo com o inimigo. Ele disse que esperava do próprio STF uma autocorreção de rumo, para que resgatasse a credibilidade perdida perante o povo. E foi direto: “É preciso encerrar todos esses inquéritos ilegais”.

Para quem não acha que haverá uma revolução salvadora no país, alguma ponte com o “sistema” precisa ser construída. Não é uma estratégia absurda. O maçarico do mundo todo, aceso por Musk, está esquentando o cangote dos verdadeiros golpistas, que só defendem uma “democracia” sem a participação da direita. A solução mais imediata para se preservar as galinhas dos ovos de ouro é se livrar do enorme bode na sala.

É pouco afastar Alexandre para quem vem sendo alvo de tantas injustiças. Mas é um começo. É uma retomada gradual da normalidade institucional. Ou o “sistema” entende a necessidade deste passo, ou vai declarar guerra ao mundo todo, não só ao dono do X. E o custo disso para o Brasil será insuportável. O “sistema” terá de transformar mesmo o Brasil numa Venezuela, o que será terrível para muitos ali.

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