O combate às muriçocas
Minha mãe tinha dois irmãos, Luiz Gonzaga Pimentel e Alberto Edmundo Pimentel, que cursaram a Escola Naval no Rio de Janeiro e chegaram ao posto de Almirante da Marinha de Guerra. Só vinham a Natal a passeio.
Tio Luiz, não cheguei a conhecer, pois faleceu aos 52 anos e eu era de braço.
Tio Alberto, eu o visitava na casa do meu avô materno, sempre que ele vinha a Natal.
Décadas atrás, Nova-Cruz (RN), onde nós morávamos, era o fim do mundo. Ninguém tinha automóvel e as viagens daqui pra lá e de lá pra cá (Natal) eram feitas de trem ou de ônibus, e levavam de 5 a 6 horas.
Quando vinha a Natal, tio Alberto fazia questão de ir a Nova-Cruz, visitar a irmã Lia, minha mãe. Gostava de observar as conversas de meio de rua e a linguagem do povo. O que achava engraçado, anotava num caderno.
Nova-Cruz fazia um calor horrível durante o dia (30 a 40 graus), e à noite soprava uma brisa agradável, chegando mesmo a fazer um friozinho gostoso.
Os esgotos a céu aberto colaboravam para a proliferação de muriçocas. E as surras de muriçocas, que o Almirante Alberto levava nas noites em Nova-Cruz, ficaram na história. E ele, muito bem humorado, se divertia, contando, pela manhã, quantas picadas havia levado durante a noite. Como diz o matuto, ele devia ter o sangue doce, para que, numa só noite, levasse mais de 100 picadas de muriçoca.
Ele também se divertia com a linguagem do povo. Os termos: “Sostou!!!”, “bom que só!”, “Oi de casa”!, “Verter água”(urinar)”, “se banhar”, “bassoura”, “Bacio” (pinico), “ Aparelho” (sanitário)”, “Boca da noite” (o anoitecer), “Pico do meio-dia”, “Ponche”, “Garapa” (água com açúcar), Caningado (chato), Caninga (chatice), ”Barrer”(varrer) e outros, ele anotava num caderno que fazia parte da sua bagagem.
Depoimento da nora do Almirante Alberto Pimentel, residente em Brasília, no Facebook:
Esse depoimento da minha prima Catharina, que reside em Brasília e é viúva de Milton, filho de Tio Alberto, me comoveu. Ele era adorável!
O Almirante Alberto Edmundo Pimentel combatia a corrupção e abominava a desonestidade.
Costumava dizer que, aquele que deseja banalizar o roubo, achando que roubar é normal e que todo brasileiro é ladrão, deveria conhecer a história do Almirante Ary Parreiras, que construiu a Base Naval de Natal (que hoje tem o seu nome), entre os anos de 1941 e 1942, com a metade do dinheiro que lhe foi destinado para a construção. A outra metade, devolveu ao Ministério da Marinha, porque não precisou usar.
Um caso nunca visto!
Atualmente, os corruptos dominam a Nação.
E os desonestos consideram os honestos pessoas burras.
Almirante Alberto _ uma pessoa que valeria a pena conhecer! Gente assim faz muita falta hoje em dia. Muito bem Violante . . .
Obrigada pelo comentário gentil, prezado Flavio Feronato!
Fiquei feliz com suas palavras.
Realmente, tio Alberto foi um homem raro, de personalidade forte, cultura admirável e valores morais difíceis de encontrar na política atual.
Era filho da poetisa Anna Lima (Verbenas), que morreu de parto aos 36 anos, deixando 6 filhos órfãos, de um ano e oito meses a 11 anos, sendo ele e Luiz os mais velhos.
O pai, Celestino Pimentel, professor catedrático da língua inglesa, que chegou a ser diretor do Colégio Estadual Atheneu Norte-Riograndense, se empenhou em dar uma formação militar as dois filhos homens. O resultado foi formidável. Os dois cursaram a Escola Naval do Rio de Janeiro e fizeram uma brilhante carreira, alcançando o posto de Almirante.
Grande abraço!
Então tio Alberto era filho de Anna Lima! Um bem merecido privilégio que ele teve. Com essa lembrança vou reler mais uma vez o “Verbenas”, um dos melhores presentes que ganhei.
Obrigada pelo carinho do comentário, prezado Flávio Feronato!
Suas palavras me emocionaram!
Um grande abraço.
Minha cara e Divina Violante, seu tio é da época que se podia confiar na palavra dada e negócios eram fechados com base no “fio de bigode”. Havia muito amor à pátria e as coisas públicas eram respeitadas.
Me lembro em 2004 que um endividado faxineiro (Francisco de Sobral – CE) do Aeroporto do DF devolveu uma bolsa com muito dinheiro (U$10 mil) ao verdadeiro dono e por isso foi recebido pelo então PR Lulla. Este questionou o gesto do Faxineiro como se o mesmo não tivesse que fazer aquilo, ao que este respondeu que se não fizesse, jamais ficaria tranquilo.
Este gesto do então PR reflete muito o nosso atual momento.
Obrigada pela gentileza do comentário, prezado João Francisco!
O Almirante Alberto Pimentel, contemporâneo do ex-Presidente João Baptista Figueiredo, foi um homem íntegro.
Serviu durante muitos anos na Ilha das Cobras.
Atualmente, a ilha abriga o complexo do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), o Hospital Central da Marinha, o Centro de Perícias Médicas da Marinha, o Comando Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, o Presídio da Marinha, o Serviço de Documentação da Marinha e Diretorias Especializadas de Intendência, sob a responsabilidade da Marinha de Guerra do Brasil. Abriga também a Empresa Gerencial de Projetos Navais.
Realmente, meu tio Alberto Pimentel viveu na “época que se podia confiar na palavra dada e negócios eram fechados com base no “fio de bigode”. Havia muito amor à pátria e as coisas públicas eram respeitadas.”
Grande abraço!
Violante,
Parabéns por abordar na sua crônica a honestidade. Pessoas como o seu tio Almirante Alberto está fazendo muita falta no nosso Brasil nos dias de hoje. A mídia denuncia quase diariamente casos de desonestidade, então, aproveito o assunto para uma brevíssima reflexão sobre a ética.
Ética é derivada do grego, significa aquilo que pertence ao caráter. … Quando uma sociedade está pautada em valores morais éticos e as suas ações se voltam para a coletividade em detrimento dos interesses individuais, cria-se de imediato uma verdadeira estratégia de prevenção a atos de corrupção. Compartilho nesse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana uma frase de Lya Luft (1938 – 2021) com a prezada amiga: “A gente precisa continuar acreditando: que vale a pena ser honesto. Que vale a pena estudar. Que vale a pena trabalhar. Que é preciso construir: a vida, o futuro, o caráter, a família, as amizades e os amores”.
Desejo um final de semana pleno de paz, saúde e felicidade
Aristeu
Obrigada pelo gratificante comentário, prezado Aristeu!
O que vemos hoje no Brasil é uma legião de pessoas, abertamente, desonestas, como o político que estava preso por surrupiar malas de dinheiro e agora foi solto…Uma coisa revoltante!
Seu comentário enriqueceu o meu texto.
Agradeço, também, o compartilhamento da sábia frase da grande escritora Lya Luft (1938 – 2021):
“A gente precisa continuar acreditando: que vale a pena ser honesto. Que vale a pena estudar. Que vale a pena trabalhar. Que é preciso construir: a vida, o futuro, o caráter, a família, as amizades e os amores”.
Um final de semana com muita paz, saúde e felicidade, para você também!,
Lindo, querida Violante.
Almirante Alberto se encarnou em papai, que possuía áurea típica dos homens de caráter.
– Morro na simplicidade mas não me aposso do que é alheio – dizia orgulhoso por dentro.
Assim que passar a dor de cabeça comento mais e com o carinho que o Almirante Alberto merece.
Abraçaço, querida.
Verdade, Violante.
Pessoas honestas deste tipo é difícil de encontrar.
Se fosse hoje em dia, o Ary Parreira seria enviado pra um local bem inóspito.
Os abutres do dinheiro público não simpatizam com pessoas dessa estirpe,
Obrigada pela gentileza do comentário, prezado Marcos André!
Realmente, na atual conjuntura política, o Almirante Ary Parreiras seria considerado um idiota e, por isso, seria punido.
Você tem razão: “Os abutres do dinheiro público não simpatizam com pessoas dessa estirpe”.
Grande abraço!