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Marcio Antonio Campos

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O alfaiate Raniero Mancinelli já fez batinas para João Paulo II, Bento XVI e Francisco

Quando um cardeal atingir dois terços dos votos dos eleitores no conclave que começou hoje, ele terá de responder se aceita sua indicação: ao dizer que sim, ele se torna papa. Depois, ele será levado à Sala das Lágrimas, onde é deixado sozinho, com três batinas brancas de tamanhos diferentes; é quando “cai a ficha” do novo pontífice, que nem sempre reage de forma estoica. Independentemente de qual tamanho de batina o novo papa usar, é certo que ela levará o talento do alfaiate Raniero Mancinelli. “Está feito. Foram entregues esta manhã”, disse Mancinelli à Gazeta do Povo, que visitou sua loja na terça-feira, véspera do início do conclave.

Sua loja, que leva o sobrenome da família, fica no Borgo Pio, uma rua bem próxima ao Vaticano e que tem inúmeras outras alfaiatarias que produzem todo tipo de veste eclesiástica. Raniero Mancinelli, que hoje tem 86 anos, começou no ramo aos 15. “Comecei a fazer as coisas devagar, como todas as crianças; e, devagar, fui gostando”, contou ele à Gazeta – e, se depender dos descendentes, o futuro do negócio está garantido, pois a filha e o neto de Raniero também trabalham no estabelecimento.

O papado entrou na vida de Mancinelli com João Paulo II, que lhe encomendou algumas batinas. E foi assim que ele se tornou o “alfaiate dos papas”, ocupando um lugar que havia muito tempo era de outra alfaiataria romana, a Gamarelli. “Primeiro, eu servi a João Paulo II. Depois, fiz diversas batinas também para Bento XVI, porque, quando ele era cardeal, morava praticamente ao lado da minha loja e nos conhecíamos muito bem; já o atendia quando era cardeal, e continuei a servi-lo com muito prazer. Para mim foi muito mais fácil, porque já havia essa relação anterior. Depois, fiz algo também para Francisco. Com ele tive uma relação muito bonita, limpa, sincera, com grandes sorrisos, como se fôssemos amigos de longa data”, recorda o alfaiate.

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Mancinelli vende em sua loja tudo o que um padre, bispo ou cardeal precisa usar, incluindo solidéus, barretes e outros acessórios

A loja não vende apenas vestimentas eclesiásticas, mas também objetos litúrgicos e acessórios usados por bispos, como anéis e cruzes peitorais. E aí está uma outra ligação entre Mancinelli e Francisco, pois a cruz de prata que o papa usou, desde quando era bispo na Argentina até morrer, havia sido comprada na loja de Raniero. Quando Jorge Mario Bergoglio foi nomeado bispo, em 1992, um outro bispo veio aqui, comprou aquela cruz peitoral para dá-la de presente a Bergoglio. E ele nunca mais a tirou, porque a usou como bispo, como cardeal e até como papa, até o último dia. Usou sempre apenas aquela cruz”, recorda o alfaiate.

Mancinelli não esconde o orgulho de ter trabalhado para três papas – ou quatro, considerando que o próximo usará uma batina feita por ele ao menos no primeiro dia de pontificado –, mas diz que essa é só uma parte do seu trabalho. “Poder vestir um papa é algo que me dá muito prazer; afinal, é o papa! Servi três deles, e fico muito satisfeito com isso, pois pude fazer muitos trabalhos”, afirma. “Mas aqui atendemos padres, bispos, cardeais, e sempre me esforcei para ter ótimo relacionamento com eles. Não importa se a cor da roupa é preta, roxa, vermelha ou branca: no fundo, são todos sacerdotes, também o papa, e fico orgulhoso em poder atender a todos eles”, finaliza, dizendo que agora aguarda a fumaça branca “com confiança e amor”.

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