O bolo inédito
A Crônica Social me traz reflexões e permite comparações surpreendentes com os dias anteriores, quando se revelaram os negativos das primeiras mudanças de comportamento e se ouviram os acordes iniciais de sinfonias um tanto fora de tom, quando na década de 1960, começaram a surgir acontecimentos diferentes, numa sociedade ainda carregada de preconceitos, mas tentando superá-los.
FESTEJEMOS A POMPA! – Para alguns antigos, um escândalo. Mas, para os de hoje: “Vem que tem!” Colunista local registra convite para festa de casamento de dois respeitáveis senhores, com direito a Salão de Festas, bolinho enfeitado com os nubentes abraçadinhos, e champanhota às pampas.
TAPINHAS E ABRAÇOS – Durante a festa, registrei para a Coluna Social: “O pai do noivo, para se destacar, apresentou-se todo de branco, com gravata-borboleta e sapato de duas cores. Um endinheirado industrial, pai daquele que estaria representando a noiva, (…se fosse o caso), cidadão sacado, há anos, da pobreza relativa, à Imprensa falou de peito estufado: “Há de ver-se que, se a lei o permite, vamos festejar. Festejemus!, como se diz no Vaticano.”
MENINO MALUQUINHO – D. Fifí, mãe do “consorte”, (um lascado de grana, que aproveitou o sopro da sorte para sair do “bostejamento” em que vivia) alegríssima, pintadíssima, barrigudíssima, cheia de penduricalhos no pescoço, rodava no salão, pra cima e pra baixo.
FILHO GRÁVIDO – A madame procurou o repórter para segredar: “Meu menino já está se sentindo grávido”. Olhe o brilho nos olhos dele. Que maravilha! Meu netinho está “embarrigado”. Sob aluguel, é bem verdade… Além disso, me sinto muito querida com tantas pessoas colunáveis em nossa festinha, não é mesmo?!…”
HÁBITOS DIFERENTES – E continuou eufórica, D. Fifí: “Aliás, cá entre nós (e os 40 mil assinantes do jornal, claro!), desde criança, lá em Morro do Chapéu, a ‘Cidade dos Discos Voadores”, da Bahia, notava-se que ele tinha hábitos “diferentes”. Sempre foi um garoto avançado pro seu tempo, esse meu menino maluquinho!..”
ME ENGANA – E os comensais, lá, aplaudindo, comendo e bebendo, na maior desfaçatez. Cinismo só. Aliás, sociedade moderninha é isto: torna “festejável” tudo quanto possa, mesmo sabendo que ali flutua, às escancaras, a embromação desenfreada.
PAULO MALTA – Meu saudoso editor, um residente pombalino, (dizia isso porque residia na Rua do Pombal): Mesmo agredindo a natureza criadora de homem e mulher. Agora pode se ver casamentos de homem com homem, lembrando aquela piada: “E agora, só resta sugerir que se escove bem os dentes, passem bem graxa nas “partes”, e seja lá o que Deus quiser!”
COLUNÁVEIS FESTEJADOS – Na manhã seguinte o Diário registrou: “A festa do casamento de Livinho e André de La Manha, moço nascido em Passo de Los Libres, Espanha,. foi um barato. Lotou o salão do Paço Alfândega. Colunáveis a granel. Gente enfeitada, à torto e à direito foi o mais que e viu. Ao final da festa, num telão, foi exibido o filme: “Sentei-lhe a vermelha”, alusiva à partes da vida dos pombalinos que separados pelo mar Atlântico, se tornaram verdadeiros heróis de uma sociedade em movimento.