PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

(Solilóquio)

Dá-me o sol sua luz e o seu calor me aquece;
Dá-me a terra morada; o rio, a linfa pura;
As árvores, além do abrigo de frescura,
Doces frutos me dão, em farta e longa messe.

Dão-me as vacas leite, e, quando me apetece,
Dão-me a carne também; a ovelha, a vestidura;
As abelhas me dão seus favos de doçura…
Sem que disso lhes venha o mínimo interesse.

Dão-me as flores perfume; e ósculos no rosto
As brandas virações; as aves, seu trinado;
E os homens só me dão trabalhos e desgosto…

Assim falava eu… E um homem que, escondido,
Ouvira o meu discurso, olhou-me admirado,
E perguntou-me a rir, se eu tinha endoidecido.

Padre Antônio Tomás de Sales, Acaraú-CE (1868-1941)

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