Natal é tempo de contar histórias. Como esta, de Meyer Michael Greenberg. Um homem simples que trabalhou na Revlon (Nova Iorque) até se aposentar, em 1990. Não era rico. Nem tinha prestígio no mundo social da cidade. Mas ficou famoso por algo que fazia, sempre, no inverno congelante da cidade. Ele distribuía luvas de lã. Ao morrer, Greenberg mereceu generoso obituário no New York Times, escrito por Lawrence Van Gelder. E acabou mais famoso que (quase) todos os milionários da Wall Street. Prova de ter razão, Matinas Suzuki (O Livro das Vidas), ao dizer que “é mais negócio ter um bom obituário no NY Times do que ir para o céu”.
Certa vez, ao dar um par de luvas, disse-lhe um velho: – “Não posso aceitar. Nunca ninguém me deu nada. O que você quer de mim?”. Greenberg queria só um aperto de mãos. E insistiu até quando, 15 minutos depois, o homem aceitou. Ainda jovem, foi figurante da Metropolitan Opera. E admirava o primeiro tenor, que brilhava, enquanto ele ficava nos fundos, segurando uma lança. Mais tarde o reconheceu, esmolando na rua. E lhe deu um par de luvas que o antigo parceiro agradeceu, comovido. Sem a menor ideia de que, no passado, estiveram juntos num palco. Ele, como estrela. Greenberg, como ninguém.
Um repórter, certa vez, acompanhou suas andanças. E perguntou se sabia quanto custava cada par. – “Sei. Custa um aperto de mão” – “O senhor é rico?”. – “Sim, claro”. – “E a quanto monta sua fortuna?” – “O senhor não está entendendo. Minha riqueza não está no dinheiro. Mas em trazer alegria para quem precisa”. Greenberg sabia que poderia entregar luvas em abrigos, que as distribuiriam. Mas escolheu fazer isso ele mesmo. E ia procurando, nas ruas, quem mais precisasse. – “Prefiro aqueles que evitam o olhar. Não é tanto a luva, mas dizer para as pessoas que elas importam”. No fim da vida, repetia sempre uma frase que seu pai vivia dizendo, – “Nunca se prive da alegria de doar”.
O amigo Fernando Pessoa um dia escreveu, no Cancioneiro (Natal), “Nasce um Deus. Outros morrem…/ Temos agora outra eternidade,/ E era sempre melhor a que passou”. Que neste Natal brasileiro, em tempos de pandemia, a lição se espalhe. E que, no coração de todos e cada um de nós, esteja presente, sempre, a disposição para doar. De ser solidário. De compreender bem dentro, no coração, o espírito desse tempo. Bom Natal, amigo leitor.
Pois é, dr Paulo. Existe por aí uma centena de milhares de ninguém que fazem uma diferença enorme
José Paulo, (obrigado)
Fico-lhe eternamente grato por escrever “Natal de Luvas” para meu Velho.
Sim. Para meu Velho Pai. Porque meu Velho possuía essa mesma força solidária de Michael Greenberg quando levava a gente para a feira de Carpina e trazia consigo algumas estopas para doar aos desabrigados, que dormiam embaixo das marquises dos prédios comerciais do centro da cidade sem agasalho para no outro dia saírem a pedir esmolas aos feirantes.
Muitas vezes alguns acordavam com os olhos arregalados e vermelhos de susto e sono e perguntavam a papai porque aquilo e o Velho, solidário, respondia: “Para você se cobrir.” “O frio está de lascar e você precisa se proteger.” “Ficar aí ‘incriquiado’ dá ‘entrevamento!’” “Morre congelado.”
Adolescente, passei anos para compreender o significado daquele gesto altruísta do meu Velho. Depois de ler “Natal de Luvas” compreendi a razão da satisfação do Velho em cobrir os descobertos.
Lindíssima crônica, prezado Dr. José Paulo!
O ato de doar`, a quem precisa, faz tanto bem à alma de quem doa, quanto à de quem recebe.
É emocionante a sua narrativa sobre Meyer Michael Greenberg, “um homem simples, que trabalhou na Revlon (Nova Iorque) até se aposentar, em 1990”, e que, no inverno congelante da cidade, distribuía, pessoalmente, luvas de lã com os pobres.
Essa caridade silenciosa é a mais importante que existe.
Muita Saúde e Paz!
Um Ano Novo bem melhor, cheio de Ventura, Saúde e Paz, para o senhor e sua família!
Tão reconfortante quanto a história e o ato de Greenberg é poder desfrutar desta bela e edificante história em forma de mensagem de Natal.
Bom Natal e felicidades no ano que se avizinha.
Caro Doutor Zé Paulo,
Muito obrigado por essa emocionante história.
De lascar é que o Sr, Greenberg, mesmo sendo judeu, tenha adotado melhor a mensagem de Jesus que muitos dos que se dizem cristãos.
A grande diferença entre discursos vazios e prática… E fica o belo exemplo: Greenberg, um judeu, praticando, à moda Nazareno, com mais fé do que muitos que se dizem cristãos.
Um ano maravilhoso para a família Cavalcanti no ano que já bate à porta.
Aproveito o espaço cavalcatiano para desejar a outro cavalcanti, o Marcos André, um ano ano do tamanho da generosidade do coração que ele carrega no peito.
Bons anos para todos. E abraços com o coração.