MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS

A idéia é simples e qualquer aluno de primeiro grau sabe repetí-la de cor, porque a escutou centenas de vezes de todos seus professores engajados e admiradores do socialismo: “câmbio valorizado é ruim, a moeda deve ser fraca para favorecer as exportações”. Alguns mais empolgados chegam a fixar valores: “com Ciro Gomes presidente, o dólar vai valer oito reais e o Brasil vai virar uma superpotência de tanto exportar.” Infelizmente, nossa história mostra o contrário: quando o dólar sobe, as exportações caem.

Na verdade, é quase instintivo pensar que moeda forte é bom. O governo se esforça para nos doutrinar, desde criancinhas, para conseguir que a maioria acredite no contrário. Por quê? Ora, porque é um hábito do governo dizer que faz o que é melhor para nós, enquanto faz o que é bom para ele e ruim para nós.

Basta uma simples olhada nos dados sobre comércio mundial para constatar que os países mais abertos são ricos, e os países mais fechados são pobres. Importante: país aberto é aquele que exporta e importa, não aquele que só exporta – esse quase sempre é pobre. Os economistas podem explicar isso de várias formas (e até mesmo negar os fatos, se forem partidários do Ciro Gomes), mas eu prefiro as explicações simples: um país que é aberto às importações pode ter tudo do melhor, sem ter que ser o melhor em tudo. Pode comprar computadores do Japão, smartphones da Coréia, automóveis da Alemanha, máquinas da Suíça. E ao exportar, tem que ser eficiente, porque está concorrendo com o mundo todo. E é mais fácil produzir algo bom se você pode importar as melhores máquinas e os melhores computadores.

O país fechado, por outro lado, não pode ter o melhor. Só pode ter o que o governo permite, que é o produto nacional. E como é difícil ser tão bom como o Japão, a Coréia, a Alemanha e a Suíça ao mesmo tempo, as pessoas só podem ter computadores ruins, smartphones ruins, automóveis ruins, máquinas ruins. Ruins e caras, porque se as empresas têm um mercado garantido, porque se esforçar?

Para participar do mercado global, há dois caminhos. O primeiro, o dos países bem-sucedidos, é ser bom em alguma coisa. Fazendo isso, o resto do mundo vai querer seus produtos. A Nova Zelândia é boa em produzir ovelhas. A Escócia, em uísque. A Coréia do Sul produz aparelhos eletrônicos. O Japão é bom em automóveis. O Chile produz vinhos e cobre. E por aí vai. Nenhum deles quer produzir tudo. A Nova Zelândia não tem fábricas de automóveis nem de eletrônicos: eles preferem comprar dos melhores (e veja que interessante: eles não importam automóveis nem computadores do Brasil).

O segundo caminho é seguido pelos que não querem ou não conseguem ser bons em nada: vender barato. O jeito mais fácil de fazer isso é justamente desvalorizando a moeda. Quanto mais “forte” for o dólar ou o euro, mais vantajoso parece ser o negócio. Parece, mas não é, porque exportar com câmbio desvalorizado é simplesmente trabalhar por mixaria. O que adianta ter um superavit comercial de trocentos bilhões de merrecas, se estes trocentos bilhões de merrecas não valem nada?

Isso não quer dizer que não podemos ser um grande exportador de soja ou minério de ferro. Podemos, mas desde que nossa competitividade venha da eficiência, da tecnologia, da produtividade. Produzindo com eficiência, não precisamos baixar o preço. A Escócia não precisa de moeda desvalorizada para vender uísque para o mundo todo. A Suíça tem uma moeda fortíssima e mesmo assim todos os países querem comprar seus produtos. E sempre é bom lembrar: não acredite na imprensa chapa-branca que diz que a China conquistou mercado desvalorizando a moeda. É mentira. Durante todo o período em que a China cresceu a passos de gigante, sua moeda se valorizou frente ao dólar (e nos últimos anos, quando sua economia desacelerou, a moeda voltou a cair). Aliás, na grande maioria dos países, a relação é sempre a mesma: economia crescendo, moeda valorizando; economia piorando, moeda desvalorizando. É quase inacreditável que economistas e jornalistas continuem repetindo que moeda desvalorizada é bom para a economia.

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