CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Moacir Vasconcelos – Presidente Benemérito do Atlético

Continuo a reafirmar que tive a sorte de conviver com personagens notáveis de tempos que o vento já levou, principalmente aqueles que viveram nas décadas de 1940 e 1950, quando escreveram a história do nosso Recife.

Pessoas que pelo seu valor e prestígio hoje são pouco lembradas. Moacir da Matta Vasconcelos foi um deles. Não pode ser esquecido.

Funcionário público, por 30 anos; no começo da carreira conquistou a chefia do Departamento de Obras e Fiscalização dos Serviços Públicos e se tornou uma legenda de seriedade naquela Repartição.

Residindo na Vila dos Jornalistas, posteriormente conhecida como Vila dos Remédios, em Afogados, fez parte de um grupo que pretendia fundar um clube esportivo e social. Com meu pai, que era seu cunhado e residia nas proximidades, houve impulso para a iniciativa.

Em abril de 1943 assinaram a ata de fundação do Atlético Clube de Amadores as seguintes pessoas: Arthur Lins dos Santos, Moacir da Matta Vasconcelos, Leoville Cavalcanti de Albuquerque, Ascendino José Palmeira, Paulo José Belo, Albino de Barros Pinheiro, Eriberto Tavares, Gil José Martins, Geraldo Pinheiro, José de Melo Barbosa, Nilo de Barros Correia, Jair Pimentel, Arlindo Silva Melo, Abelardo da Cruz Gouveia, José Pereira da Silva, Oswaldo Lucas Benedito de Melo Mota, Geraldo Santa Cruz, Rômulo José Clemente, Luiz Guerra e Antônio Baptista de Souza.

A primeira providência, após o registro da ata, foi alugar um terreno que pertencia a vários herdeiros, onde havia um pequeno sobrado e um sítio, com área aproximada de 6.000 metros quadrados. Não houve dificuldades e os avalistas foram alguns fundadores. Todos idealistas.

Lembro-me, pequeno ainda, que meu pai – um dos fundadores – foi com meu tio Moacir fazer um levantamento do que era necessário a fim de botar o clube para funcionar e assim se obter aumento do quadro social.

Num sábado de sol vários idealistas se apresentaram com os apetrechos necessários para iniciar a pintura do sobradinho, enquanto outros preparavam a medição e limpeza da área para funcionamento do futuro campo de volibol.

Seu Ascendino já chegou com o desenho do símbolo e conseguiu aprovação após consulta à Prefeitura. Desejava-se que fosse “ACA – Atlético Clube de Amadores”, todavia, não foi possível porque já havia um registro anterior sob a identidade de “ACA – Associação Cajueirense de Atletismo”.

Definido o escudo, no dia seguinte, um domingo, já se colocou uma faixa provisória com a identidade: “Atlético Clube de Amadores, que foi registrado sob o nº 669, da Estrada dos Remédios. Aquele local seria um polo cultural e esportivo dos moradores da Vila.

Meu tio Moacir era u’a máquina humana para consolidar ideias e criar soluções para problemas difíceis. Cada associado doou mesas e cadeiras para as reuniões iniciais na sede. Jogos de dama e gamão foram ofertados. As moças e rapazes, filhos dos fundadores, passaram a visitar as casas convidando as pessoas para se associar e preparando a lista dos interessados.

Seu Lourival Vasconcelos, dono da Tipografia Globo, sendo um dos nossos, colocou sua empresa à disposição para imprimir todo o material de expediente, cujo papel foi fornecido gratuitamente pela Livraria Universal.

Sinésio Santa Clara, era o jornalista do grupo e se encarregou da divulgação junto às rádios e jornais. Organizou-se uma reunião festiva para comemorar a fundação e a sociedade local se fez presente, motivada pelas reportagens que saíram nos jornais.

A primeira diretoria teve como Presidente: Moacir Vasconcelos, Vice-presidente: Rômulo José Clemente, Diretor Social Gilberto Martins, Diretor de Teatro, Cultura e Assistência Social: Arthur Lins dos Santos e Diretor Esportivo: Adelgísio de Barros Correia.

O clube foi se ampliando e sob a presidência de Moacir Vasconcelos manteve a mesma diretoria durante vários anos, pois se reelegeu durante quatro mandatos, período relativo a 12 anos.

Conseguiu solidificar o patrimônio de tal forma que reuniu os herdeiros e a venda do imóvel foi efetuada. No segundo mandato, já contava com um dancing, campo de volibol e basquete, festas dançantes regulares todos os meses, participava de certames de atletismo e no terceiro mandato já construiu um teatro, onde funcionavam a Escola Nilo de Barros Correia, o Departamento de Teatro, Cultura e Assistência Social.

Moacir Vasconcelos foi um líder que soube antever as necessidades sociais do lugar, deixando sua marca emblemática firmada no nome: Atlético Clube de Amadores.

Infelizmente os tempos mudaram e com eles os modelos de divertimento das pessoas. O Atlético, como outros, mesmo se tornando uma “Casa de Festas” e centro de pequenos comércios, não conseguiu resistir, sendo vendido em hasta pública após 70 anos de atividades.

Hoje só nos resta lembrar e registrar o esforço do grande presidente que foi Moacir Vasconcelos, que transformou ideias de um grupo de entusiastas, materializando um dos melhores clubes de bairro do Recife, entidade que fez história nos setores esportivos, culturais, sociais e assistenciais do bairro de Afogados.

Sede do Atlético, já transformada em Casa de Festas. Triste fim de um clube que atuou durante 70 anos.

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