XICO COM X, BIZERRA COM I

Em 2080 completarei cento e tantos anos e darei uma festa. Espero todos lá.

Muita coisa mudará daqui até lá, mas os clipes, os guardanapos e o papel higiênico permanecerão no mesmo formato e com a mesma função que exercem hoje.

Postos de gasolina, assim como cédulas e moedas, não mais haverão, assim como burocratas engravatados em repartições públicas: robôs atenderão às demandas da população.

Filas nos bancos e eles próprios, os bancos, viverão apenas na memória de meus contemporâneos. Livrarias e Bibliotecas estarão desertas de interessados em leitura, como eu me interessava na juventude distante. Onde elas existiam, existirão igrejas evangélicas e farmácias. Não precisarei sair à procura de alfaiates, sapateiros e barbeiros: eles se foram com o tempo.

Ana Maria Braga estará aposentada e ninguém se lembrará do seu Louro José. Terá surgido outro Chico Buarque, em 2080? E Ney Matogrosso, em sua eterna juventude, ainda cantará o Vira-Vira, do tempo longínquo dos Secos e Molhados? Ou prevalecerão, os funks, arrochas e piseiros que hoje invadem o nosso São João. Alguém tocará sanfona como Dominguinhos tocava? Acho que não.

Mas complementado e contrariando o que disse no primeiro parágrafo, pode ser que minha festa não aconteça por ausência contrariada e involuntária do aniversariante. Em compensação e por consolo, sei que restarão por aqui descendentes meus bem melhores que eu, que continuarão a assistir, diariamente, o nascer e o pôr do sol, a brincadeira das ondas do mar e o clarão azulado da lua dançando ciranda com as estrelas. Isto se as alterações climáticas permitirem. Só saberemos em novembro de 2080.

2 pensou em “MEUS CENTO E TANTOS ANOS

  1. Desde já confirmo presença. E já peço reciprocidade, por favor prometa que irá à festa que farei em 2.100. Só isso. Nem que seja por educação,,por favor prometa. Abraços de seu devoto.

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