JESUS DE RITINHA DE MIÚDO

Dr. Joel, médico em Currais Novos nas eras de setenta do século passado, garantiu a mamãe que eu estava sentado “na barriga” dela.

– Provavelmente teremos uma cesariana – afirmou.

Mamãe, com dois partos normais nas “coxas”, morrendo de medo de cirurgia, ajoelhou-se em casa e prometeu a Deus numa oração:

– Se o bebê nascer de parto normal, dou-lhe o nome de Jesus. – E acrescentou: Que seja menino ou menina.

Papai concordou.

Eu lembro como se fosse hoje. De agorinha. Dei uma cambalhota – na verdade um triplo mortal carpado – dentro da barriga dela e já caí na posição de nascer. De cabeça para baixo. Bem bonitinho.

Vim ao mundo na vizinha Currais Novos numa segunda-feira de Carnaval, com a marchinha Aurora tocando num carro de som. Parto normal, apesar do cordão umbilical passando no pescoço.

“Um menino nos nasceu”. Nasceu Jesus.

Daí o velho Padre Deó, sabendo da promessa de mamãe, passou no Fórum e deixou um recado para papai com a dona do Cartório de Registros Civis, isso já em Acary:

– Maricota, quando Miúdo vier batizar o menino dele, diga-lhe que coloque um nome antes de Jesus. Senão não batizo. – E acrescentou: – D’onde já se viu botar o nome de Jesus num pecador? É uma blasfêmia!

Papai recebeu o recado.

– E agora? Que danado de nome vou botar na frente de Jesus? – perguntava enquanto pensava “não posso ter um filho pagão.”

Minha irmã Josélia, sete anos mais velha que eu, impactada por um filme de Joselito, astro infantil mexicano naqueles dias fazendo sucesso no Cine São José, de Acary, pediu com insistência e quase gritando, agarrando papai pelo braço:

– Bote Joselito, pai! Bote Joselito!

Papai ponderou. Os dois primeiros filhos já tinham nomes começados com a letra jota.

– Bote aí, Maricota. Bote bem assim: Joselito Jesus de Araújo Silva.

Eu!

E papai tinha razão. Joselito é um nome danado. Danado de feio. A verdadeira blasfêmia? Um nome desses ante o de Jesus.

Se o padre foi ignorante, o povo foi sábio. Virei na voz do povo Jesus de Ritinha de Miúdo. E, dizem, a voz do povo é a voz de Deus.

Pronto!
Por isso eu gosto mesmo é que me chamem assim: Jesus de Ritinha de Miúdo.

Quase nome de santo de verdade.

Se o Papa Chico me canonizar em vida não fará mais que sua obrigação.

11 pensou em “MEU NOME

  1. Caro Jesus,

    Não é todo dia que se escreve para um Jesus!

    Qualificando-me como seu leitor quase assíduo, me manifesto aqui para lhe informar que sempre matutei (sem ser do interior) sobre a origem do nome do autor – no caso o seu – dessa coluna tão interessante, que leio aos domingos, e vibro com todas as cordas afinadas da minha alma.

    Hoje fiquei sabendo e me alegro por haver resolvido minha curiosidade explícita.

    O fato me despertou e vou contar a história do meu nascimento, talvez na próxima crônica, porque não houve bronca em meu nome, mas, corpulento, dei trabalho para nascer, até que veio uma senhora na casa onde minha mãe estava sofrendo há horas, e disse que ela ficasse de pé, abrisse as pernas que eu me desalojaria.

    D. Alice segurou-se com firmeza num pequeno guarda-roupas, abriu as pernas, fez força e deu um grito, que mais tarde se admitiu ter sido de minha independência, e a parteira me pegou já com a cabeça quase chegando no piso. Algo diferente!

    Poosiçãozinha incômoda, viu!

    Quanto ao meu nome, vale contar depois, porque não devo me alongar.

    Grato pela inspiração. Sua crônica foi de poucas letras mas muita sabedoria.

    Vou tirar estas notas da confidencialidade, a fim de remetê-las para nosso Padrinho, o Papa Berto.

    Um abração do
    Carlos Eduardo (cronista sabatino).

  2. Casa de meu ídolo, é tão abençoada que conheci Jesus na casa De Luiz Berto Filho. Só na casa do maior escritor do Brasil encontra-se um Jesus. Não foi preciso ir até a casa de dona Ritinha. Abraço grande poeta Jesus.

  3. Joselito Jesus de Araújo Silva, confome a certidão ou Jesus de Ritinha de Miúdo, como profere o poeta? O que é que há, pois, num nome? Aquilo a que chamamos rosa, mesmo com outro nome, cheiraria igualmente bem, nos ensinou William Shakespeare.

    Para “nosotros” importa apenas seus poemas maravilhosos, poeta maior das coisas fubânicas. Caramba, procurei Adonis e não encontrei. Verifiquei a lista de colunistas e o nome dele não está mais lá.
    Alguém sabe me dizer o que aconteceu?

  4. Bonita história. Meu nome também tem uma. Originou-se de uma promessa dupla de minha mãe, com São Francisco e São José. Naquele tempo as pré-mães tinham mania de incomodar os Santos. Outras, iam além e incomodavam Jesus, sem intermediários kkk Abraço, Poeta. FRANCISCO JOSÉ BIZERRA DE CARVALHO, vulgo XICO BIZERRA.

  5. Pingback: APELO SANTIFICADO | JORNAL DA BESTA FUBANA

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