PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

A meu irmão

Eu tenho lido em mim, sei-me de cor,
Eu sei o nome ao meu estranho mal:
Eu sei que fui a renda dum vitral,
Que fui cipreste, caravela, dor!

Fui tudo que no mundo há de maior:
Fui cisne, e lírio, e águia, e catedral!
E fui, talvez, um verso de Nerval,
Ou, um cínico riso de Chamfort…

Fui a heráldica flor de agrestes cardos,
Deram as minhas mãos aroma aos nardos…
Deu cor ao eloendro a minha boca…

Ah! de Boabdil fui lágrima na Espanha!
E foi de lá que eu trouxe esta ânsia estranha,
Mágoa não sei de quê! Saudade louca!

Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)

Um comentário em “MEU MAL – Florbela Espanca

  1. O grande amor da Florbela era Apeles, seu irmão, morto em um trágico acidente de avião aos 30 anos.

    Apeles era o elo de Florbela com a sua infância, mas foi também o seu porto seguro, assumindo o papel de estabilizador do seu equilíbrio, alguém que mais a tinha incentivado à criação poética e, por fim, aquele em quem mais se revia emocional e intelectualmente.

    Por essa sofrida razão, Florbela honrou a sua memória através do conto “O Aviador”, conto introdutório do livro de prosa Máscaras do Destino, com a seguinte dedicatória “A meu Irmão, ao meu querido Morto”.

    Ela dedicou o livro a ele e também esta poesia.

    Fui tudo que no mundo há de maior:

    https://youtu.be/3jov8ybvnOk

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