Mercado São Sebastião dos anos 50/60
“Todo mundo canta sua terra
Eu também vou cantar a minha
Modéstia à parte seu moço
Minha terra é uma belezinha
A praia de Iracema, Meireles,
Cumbuco e Icaraí
Praias bonitas assim
Eu juro que nunca vi
Minha terra tem beleza
Que em versos não sei dizer
Mesmo porque não tem graça
Só se vendo pode crer”
Nessa espécie de narrativa, peço desculpas à alguns leitores que conhecem Fortaleza tanto quanto eu, informando que saí da capital cearense em 1967 – já se vão 56 anos – e, sempre que volto, nunca passo mais de uma semana. Assumo que, o assunto aqui é a Fortaleza do meu tempo, da minha juventude e saudade.
Durante anos morei na Rua 21 de Abril, Porangabuçu. Na época, estudava no Grupo Municipal São Gerardo, situado na Avenida Bezerra de Menezes, ao lado da Igreja Matriz do bairro. Estudei ali por cinco anos. Todos os dias caminhava cerca de 8 Km na ida, e mais 8 Km na volta, passando na frente na Igreja São Raimundo, na época, em construção. Ali, todos os dias, indo e voltando era obrigado a descalçar os sapatos Vulcabrás para atravessar um córrego perene que existia. Passava e apreciava pelo campo dos eucaliptos no Campo do Pio e, finalmente alcançava o Grupo Municipal. A volta à casa acontecia debaixo de um sol inclemente.
No quinto ano daquele périplo, essa caminhada passou a ser feita também na parte da tarde, para a casa da Professora Mundica, numa preparação para enfrentar o Exame de Admissão ao Curso Ginasial.
Atual Mercado São Sebastião “point” turístico e gastronômico de Fortaleza
Eis que chega o ano de 1958 e, pelo que estudei, logrei aprovação no Liceu do Ceará, onde estudei por 7 longos e proveitosos anos. Foi então, logo no início de 1958 que conheci o Mercado São Sebastião.
Durante quatro longos anos, após descer do ônibus na Avenida Bezerra de Menezes, caminhava pela Rua Padre Ibiapina até o Liceu do Ceará. Ia e voltava. Na volta, olhei inúmeras vezes o renomado pintor Antônio Bandeira usando a varanda da casa, provavelmente pintando algum quadro. Eu não o conhecia nem o sabia famoso internacionalmente. Eu o cumprimentava, falando um jovem bom dia. Ele, olhando por sobre os óculos, respondia o cumprimento.
Dali, meu caminho era o Mercado São Sebastião, onde eu tinha o hábito de comprar macaúbas, atas maduras (que me serviam de lanche/almoço), mariolas e alfenins. Retornava para a Bezerra de Menezes, onde pegava o ônibus de volta à casa.
Com o passar dos anos, compreendi a importância do Mercado São Sebastião, que funcionava como se fora uma CEASA para os moradores, recebendo e distribuindo produtos hortifrutigranjeiros que chegavam a partir de Caucaia e demais municípios.
Hoje, o Mercado São Sebastião, reformado, é um centro turístico e gastronômico. Funciona como se fora uma “Feira de Caruaru” do sertão pernambucano.
Lateral do antigo Mercado Central nos anos 50/60
Finalmente a juventude bateu no meu endereço. Servi ao Exército (mais propriamente no CPOR de Fortaleza), ao tempo que também concluía o Curso Científico – depois de ter conseguido “aprovação” para a ESA (Escola de Sargento das Armas) e continuar esperando ser chamado até hoje – e comecei a trabalhar. Trabalhei dois ou três anos na Organização Silveira Alencar (Concessionária Chevrolet), cuja sede ficava na Rua Sena Madureira, o que me obrigava a conviver com o Mercado Central.
O primeiro trabalho me obrigou a mudar os hábitos alimentares. Morando na Bela Vista, precisava caminhar até a Praça José de Alencar, onde pegaria o ônibus para casa. Ao mesmo tempo, comecei a estudar para o Vestibular. Descobri que precisava aproveitar o tempo para estudar. Passei a “me alimentar” nas precárias dependências do Mercado Central e quase virei “vegano”, pois continuei me alimentando de muitas frutas.
Fiz provas e fui admitido para trabalhar na The Western Telegraph Ltd., cuja sede ficava na Rua Castro e Silva, também ao lado do antigo Mercado Central.
Mercado Central virou atração na capital cearense
Pois, esses dois mercados sediados em Fortaleza que hoje fazem parte da grade turística e gastronômica da capital cearense, foram importantes na reconstrução do amor e no apego que continuo nutrindo pela minha eterna “loira desposada do sol”.