Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?
Ai, se o sei, meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade…
Não palpita d´amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!
Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito…
Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto!
Florbela Espanca, Portugal (1894-1930)
A menina Florbela não acredita no amor, nem no olhar doce que os gajos lhe estendem.
Ao contrário, vê nisso uma deslealdade, uma mentira, que pressente por um gelo no peito de granito do pretendente ao seu amor.
Vê, porém prefere se deixar enganar pelo falso a procurar um desengano.
Empoderamento feminino?
A bela flor nem queria passar perto.