Na vida nada tenho e nada sou;
Eu ando a mendigar pelas estradas…
No silêncio das noites estreladas
Caminho, sem saber para onde vou!
Tinha o manto do sol… quem mo roubou?!
Quem pisou minhas rosas desfolhadas?!
Quem foi que sobre as ondas revoltadas
A minha taça de oiro espedaçou?!
Agora vou andando e mendigando,
Sem que um olhar dos mundos infinitos
Veja passar o verme, rastejando…
Ah, quem me dera ser como os chacais
Uivando os brados, rouquejando os gritos
Na solidão dos ermos matagais!…
Florbela Espanca, Vila Viçosa, Portugal (1894-1930)
Provavelmente no fim da vida Florbela (morreu com 36 anos) era atormentada pelos desencontros amorosos que teve e pela tristeza de ter perdido a todos que amava; mãe, pai, madrasta e irmão mais novo (este, de forma trágica)
O grande amor de sua vida foi o Alferes Guimarães, para quem escreveu a maioria de seus sonetos
Este acima mostra seu estado mental altamente destrutivo e criativo.