CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

ESPECIALISTAS EM PASSA-MOLEQUES

Pode ser somente devaneio de um cérebro devastado pela ociosidade, mas, ao ler o livro “Os Meninos de Ouro” escrito por Daniel James Brown contando os dramas e as tragédias vividas pelos nove integrantes da equipe norte-americana de remo na categoria “oito com” (oito remadores e um timoneiro) que sobrepujaram obstáculos quase intransponíveis para ganhar a medalha de ouro na Olímpiada de 1936 realizada em Berlim, na Alemanha dominada pelo nazismo de Adolf Hitler, me deparei com uma estranha coincidência que aproximava aquela história a um evento acontecido 78 anos depois aqui no Brasil, que sangrava sob o lulopetismo aloprado.

Em terras germânicas, determinado em esconder do resto do mundo o sanguinário projeto de dominação ariana em andamento, a Renânia desmilitarizada já havia sido invadida, o “Fuhrer” viu na grandiosidade daquele evento esportivo a oportunidade perfeita de mostrar às delegações estrangeiras, aos turistas e à imprensa internacional uma Alemanha democraticamente consolidada e voltada apenas para o desenvolvimento do seu povo. No entanto, dissociado do embuste engendrado, seguia célere o processo de purificação dos alemães.

Abduzidos pelo carisma do comandante supremo, somente os purificados eram capazes de ouvir a voz tonitruante de Hitler ordenando que se asilassem nas profundezas do nacionalismo inconsequente. Almas ainda adolescentes transbordavam de júbilo. Mentes ainda em formação recitavam extasiadas o mantra vagabundo e assassino que prometia hegemonia e poder, mas que entregaria somente vergonha e dor: “Queremos um povo obediente, vocês devem praticar a obediência. Diante de nós está a Alemanha. Dentro de nós arde a Alemanha. Atrás de nós, segue a Alemanha!”.

Confiante na passividade inglesa, na fragilidade francesa e no desinteresse norte-americano, comportamento que as autoridades dessas nações viriam a lamentar profundamente, incumbiu seu ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, de colocar em prática a mais fraudulenta campanha publicitária até então por ele elaborada, com a única finalidade de mostrar aos críticos do nazismo a face mais bonita do país. Cumpliciado com a cineasta Leni Riefensthal, vendeu com excepcional competência a imagem de uma Alemanha livre do antissemitismo e imbuída da mais pura índole pacifista. Manchetes como “O judeu é a desgraça da Alemanha!”, publicada meses antes pelo jornal “Der Sturmer” foram habilmente trocadas por matérias mais amenas, saudando a igualdade proporcionada pelo esporte e dando boas vindas aos visitantes.

Extasiados com a magnificência alemã encarnada na figura de Hitler, os governantes da Inglaterra, da França e dos Estados Unidos da América do Norte não foram capazes de vislumbrar nas entrelinhas daquelas peças de publicidade a confirmação dos cada vez mais distorcidos anseios nazistas. Não perceberam que a utopia do espírito esportivo havia chegado ao seu destino, onde cerveja e sangue judeu fluíam em abundância e os robôs hitlerianos atormentavam os mortos-vivos. Milhões de Reichsmarks investidos em propaganda conseguiriam sepultar a barbárie em curso nas valas da insensibilidade oficial enquanto perdurasse a competição. Entretanto, tão logo os Jogos Olímpicos terminassem, seus túmulos seriam profanados e os mortos voltariam a perambular pelo cotidiano da Alemanha real.

1936 foi o ano em que Adolf Hitler, Joseph Goebbels e Leni Riefensthal aplicaram um passa-moleque nos líderes das nações mais poderosas do planeta.

No Brasil, 78 anos depois, aconteceria uma competição diferente, que transcendia o universo esportivo e se enveredava pelos caminhos nem sempre retos da política. Apesar de distintos, os dois acontecimentos traziam nos seus enredos uma similaridade inquietadora. A busca incessante pelo domínio absoluto.

O desespero batia à porta do Partido dos Trabalhadores. A vitória dada como certa no primeiro turno das eleições presidenciais de 2014 não se confirmou e a possibilidade de uma derrota no segundo já não mais se apresentava como uma quimera fugaz. Suas principais lideranças tinham ciência de que um fracasso nas urnas traria consequências desastrosas. Além de verem cair por terra o projeto de dominação perseguido com método e perseverança durante doze anos, temiam, também, uma devassa nas contas do governo possibilidade que, consumada, poderia arrastar quadros de alta patente do partido às barras dos tribunais.

Sem perda de tempo convocaram o ministro honorário responsável pela propaganda do governo e que nas horas vagas emprestava (por alguns milhões de reais!) seus serviços à legenda partidária. Despudoradas quantias de reais foram disponibilizadas para que João Santana elaborasse um plano dedicado a mostrar a face mais bonita do partido. Parido nos laboratórios da hipocrisia e legitimado pelo santanismo aloprado, desembarcava na disputa o protótipo do petista perfeito, inquestionável senhor das virtudes e incontestável proprietário da verdade. Estava inaugurada a temporada de caça ao inimigo, iniciando aquela que seria considerada a mais sórdida campanha de nossa história política.

Apostando na farta distribuição de benesses, na potencialidade eleitoral dos benefícios, na gratidão aterrorizada dos beneficiados e na devoção remunerada da militância, João Santana recorreu a elaboração de filmes tecnicamente primorosos, mas com seus conteúdos deturpados desde a sua criação pelo descompromisso com a verdade vendendo a imagem da presidente competente e enaltecendo a pureza ética da candidata que concorria à reeleição. Espontâneos flashbacks oriundos do longínquo 1936 teimavam em vadiar pela minha memória: “Queremos um povo submisso. Vocês devem implantar a submissão. Diante de nós está o poder. Dentro de nós arde o poder. Atrás de nós agoniza o Brasil!”.

Perseguindo fielmente as pegadas do seu criador e sentada confortavelmente no colo do seu ventríloquo, a candidata reverberava nos palanques os desatinos perpetrados por aquele que a criara, e, na televisão, reagia ao comando daquele que a manipulava. De dedo em riste, e caráter em baixa, acusava: “O meu adversário é o candidato dos banqueiros. “Se ele for eleito, preparem-se para o aumento dos juros”. “Ele é representante da direita”, como se a direita fosse a desgraça do Brasil.

Confirmada sua reeleição, o primeiro ato da presidente foi elevar a taxa de juros. Com mais quatro anos de mandato garantido, mandou o constrangimento às favas e, tresloucada, saiu à procura de algum banqueiro que topasse ser seu ministro da Fazenda. Esperta, absteve-se de comparecer à entrevista coletiva convocada para confirmar o nome do banqueiro Joaquim Levy como ministro da Fazenda do seu governo. Insatisfeita com o tamanho da perfídia imposta aos seus eleitores, convenceu(?) a senadora Kátia Abreu, até então uma de suas adversárias mais ferozes, para chefiar o ministério da Agricultura. A utopia do socialismo do bem havia chegado ao seu destino, permitindo fluir em abundância de suas entranhas corrompidas uma torrente inesgotável de mentiras vis e promessas vãs.

2014 foi o ano em que Lula da Silva, João Santana e Dilma Rousseff aplicaram um passa-moleque em pouco mais de 51% dos eleitores da nação mais poderosa da América do Sul.

A vida passa, a hora passa, até a uva passa. No entanto, mais dia menos dia, em algum lugar da história sempre é barrada a passagem dos especialistas em passa-moleques. E essa máxima se confirmou: Lula e João Santana foram presos e Dilma destituída do cargo de presidente do Brasil. O que sobrou, então, foram só suas biografias, que hoje jazem moribundas na vala rasa da degradação perpétua.

2 pensou em “MAURO PEREIRA – ITAPEVA-SP

  1. Absolutamente FANTÁSTICO!!!!!!!

    Parabéns. Fazia tempo que eu não via uma descrição tão perfeita das maquinações petistas e sua analogia com o nazismo.

    Que venham mais, muitos mais, artigos como este.

  2. Caro Mauro Pereira de Itapeva – SP, v. foi brilhante na sua analogia entre o que o PT fez em 2014 e o nazismo de 1936.

    Ouso acrescentar algo não menos importante nesta farsa da eleição de 2014, que foi a fraude consumada na votação do segundo turno das eleições.

    Dezenove horas do domingo, a apuração seguia com cerca de 75% dos votos já apurados, no NE já estava quase no final, Aécio Neves estava com 5 milhões de votos a mais que a Dilma. De repente para-se tudo por meia hora. Nenhuma explicação, por intermináveis 30 minutos. O pessoal ligado ao Aécio já iniciava a comemoração. Na volta das apurações, 19:30 horas, Dilma aparece à frente com cerca de 1 milhão de votos e não mais perderia esta dianteira.

    O que aconteceu? O PSDB esperneou, gritou, a sociedade se indignou, mas os ganhadores trataram de dizer que foi coisa de perdedor que não sabia perder. Se alguém do PSDB, especialmente o Aécio votar contra o voto auditável impresso, vai ser mais uma decepção que terei contra este político que nos últimos 4 anos obrou bonito no túmulo do seu avô.

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